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PSOL de Boulos perde 3 dos 5 prefeitos e convive com histórico de debandadas

Com vitórias em oito cidades nas últimas três eleições municipais, partido nunca reelegeu um prefeito

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Salvador e São Paulo

O PSOL, partido que definiu como prioridade eleger o deputado federal Guilherme Boulos para a Prefeitura de São Paulo nas eleições de outubro, perdeu 3 dos seus 5 prefeitos eleitos em 2020 e convive com um histórico de pressões, desavenças e debandadas na esfera municipal.

Mesmo em uma rota de ascensão e com aumento da bancada federal, que chegou a 13 deputados em 2022, o partido deve ir para as urnas tendo apenas Edmilson Rodrigues, prefeito de Belém, como candidato à reeleição.

Os prefeitos eleitos pelo PSOL nas cidades de Marabá Paulista (SP), Potengi (CE) e Ribas do Rio Pardo (MS) trocaram de partido para concorrer a um novo mandato. Em Janduís (RN), o prefeito não concretizou a mudança, mas levou todo o seu grupo político para o PT e diz que deve apoiar um novo nome.

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O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) em reunião da pré-candidatura a prefeito, com membros de partidos da esquerda, em São Paulo - Marlene Bergamo - 16.ou.23/Folhapress

O histórico também não joga a favor do partido, fundado em 2005 como uma dissidência do PT: dos 9 prefeitos eleitos pelo PSOL desde 2012, apenas 4 permaneceram no partido. Dois dos que ficaram concorreram à reeleição, mas sem sucesso.

As novas baixas são resultado de uma conjuntura que envolve o estreitamento de relações com o governo Lula (PT), a busca por emendas parlamentares para incrementar os parcos orçamentos municipais e até mesmo pressão política de aliados e adversários nas Câmara Municipais.

Eleito pelo PSOL em Marabá Paulista, a 640 km da capital e com 4.500 habitantes, o prefeito Cido Sobral passou pelo PSDB e se filiou em 2023 de volta ao MDB, partido pelo qual disputou a Câmara Municipal em 2008, 2012 e 2016, tendo sido eleito nos dois últimos pleitos.

Pragmático, Cido afirma à Folha que se filiou ao PSOL para concorrer em 2020 porque era um dos poucos partidos regulares e disponíveis na cidade —o MDB estava com as contas irregulares.

"Toda a vida fui MDB. E surgiu essa vaga no PSOL, a gente não tinha afinidade nenhuma com o partido. Mas era a oportunidade de sair candidato. Aqui no interior quem ganha a eleição é o candidato, não é partido", afirma.

O rompimento se deu quando ele postou uma foto com o então presidente Jair Bolsonaro (PL), que encontrara em uma motociata na região. A ordem para que apagasse a foto veio do diretório estadual do PSOL, mas Cido se recusou e se desfiliou.

"Eu falei que não, que nem minha esposa nunca pediu para eu apagar uma foto na minha rede social. E outra, o homem era o presidente da República. Eu tinha que correr atrás de quem para conseguir coisas para o município? De quem está no mandato", justifica.

Questionado sobre apoiar Bolsonaro ou Lula, Cido desconversa, mas aliados dizem que ele se identifica com a esquerda e que votou no petista.

Lula venceu em municípios do Pontal de Paranapanema, onde fica Marabá Paulista. A região é marcada pela tensão entre proprietários de terra e movimentos de trabalhadores rurais. O próprio prefeito é morador de um assentamento.

Na disputa estadual, porém, Cido diz que votou em Rodrigo Garcia (então no PSDB) e em Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem elogia hoje.

Apesar disso, o prefeito afirma que não houve briga com o PSOL e se diz grato, mencionando emendas enviadas por deputados do partido com quem ele criou uma relação. "Somos parceiros, de amizade ficou a mesma coisa."

Presidente do PSOL em Marabá Paulista, a vereadora Debora Dória diz que não houve desentendimento com Cido e que, inclusive, o partido vai apoiá-lo na reeleição. "Ele não é ideológico de partido, ele foi muito inocente, achou que para conseguir verbas teria que estar perto de Bolsonaro."

Em Ribas do Rio Pardo, cidade de 23 mil habitantes, o prefeito João Alfredo Danieze definiu a troca pelo PT como uma decisão amadurecida para garantir apoios, estreitar a relação com o governo federal e chegar competitivo para a reeleição.

Raridade em um estado dominado pela influência do agronegócio, ele é o único alinhado à esquerda entre 79 prefeitos de Mato Grosso do Sul. Sem uma maioria consolidada na Câmara Municipal, enfrentou contratempos para aprovar projetos e dificuldades para obter emendas.

"Eu queria ser base do governo federal, mas o PSOL tem uma ala que não tem uma definição clara se quer ser base ou não. Minha única alternativa foi migrar, mas mantive a coerência e permaneci em um partido de esquerda", afirma.

Ele também criticou o que chamou de postura sectária de uma parcela do PSOL em relação ao agronegócio e diz que buscou o PT por entender que o partido é mais equilibrado em relação ao tema.

Em Janduís, com 5.600 habitantes, o prefeito Salomão Gurgel chegou a anunciar sua filiação ao PT em dezembro passado, mas a mudança foi barrada por pendências judiciais.

Ele está em seu quarto mandato —elegeu-se pela primeira vez em 1982— e sempre teve uma trajetória na esquerda, chegando a estudar medicina na antiga União Soviética. Foi candidato a governador do Rio Grande do Norte em 1990 pelo PT.

Deixou o partido por divergências internas e se filiou ao PSOL. Disputou a eleição de 2020 para suceder o então prefeito Antônio José Bezerra, que havia sido eleito em 2016 pelo PSOL, mas não concorreu à reeleição por motivo de saúde.

Quatro anos depois, Salomão diz que também não deve concorrer. Todo o seu grupo político se filiou ao PT, de onde deve ser escolhido um candidato. O PSOL seguirá na aliança e deve indicar o vice.

"Janduís é um município com poucos recursos. O prefeito não faz nada sem o apoio do governador ou de emendas parlamentares", afirma Salomão ao justificar a escolha pelo PT.

A debandada repete o padrão de eleições anteriores. Em 2012, o PSOL elegeu Clécio Luis em Macapá (AP) com uma base de apoios no segundo turno que incluiu até o senador Davi Alcolumbre (atualmente na União Brasil). Quatro anos depois, foi reeleito pela Rede e, em 2022, fez nova mudança para o Solidariedade, partido pelo qual foi eleito governador.

Também eleito em 2012, o prefeito de Itaocara (RJ), Gelsimar Gonzaga, enfrentou uma ofensiva de adversários na Câmara Municipal. Foi afastado do cargo e retomou o mandado amparado por uma liminar na Justiça, mas não foi reeleito.

O prefeito de Jaçanã (RN), Oton Mário, eleito em 2016, enfrentou um processo de impeachment, permaneceu no cargo, mas não conseguiu se reeleger.

A presidente do PSOL, Paula Coradi, minimiza a falta de experiência do partido no Executivo municipal e diz que isso não deve prejudicar Boulos.

"Embora ele não tenha essa experiência no Executivo, ele tem outras expertises. Tem a experiência de anos no movimento social e agora como deputado. Além disso, temos partidos na nossa coligação que já governaram, como o próprio PT, com a nossa vice Marta Suplicy", diz à Folha.

Coradi afirma que as trocas partidárias são comuns em cidades pequenas devido à dinâmica política local. "A gente não governa nenhum e stado, então manter uma prefeitura em um governo [estadual] muitas vezes de oposição é uma condição bem mais difícil."

Na eleição de outubro, além de São Paulo e Belém, o partido enxerga chances no Rio de Janeiro, Florianópolis, Vitória, Niterói, Petrópolis e Franca.

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