Lula chora e promete caravana de ministros à realidade dos moradores de rua de SP

Presidente eleito cobra dignidade e promete estudo sobre a situação dos moradores de rua

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chorou nesta quinta-feira (15) ao falar com trabalhadores de reciclagem na região central de São Paulo.

"Quero assumir o compromisso que não serão vocês que terão que ir até o presidente da República. Sou eu presidente que tenho que ir até vocês", disse ele, afirmando que os ministros terão que saber a realidade dessa população. Um encontro deverá ser organizado pelo padre Júlio Lancellotti.

Em 2003, logo que assumiu seu primeiro mandato no Palácio do Planalto, Lula levou seus ministros recém-empossados para conhecer a miséria de perto no interior do país.

O presidente eleito Lula recebe benção do padre Julio Lancelotti em evento com catadores de recicláveis em SP
O presidente eleito Lula recebe benção do padre Júlio Lancellotti em evento com catadores de recicláveis em SP - Danilo Verpa/Folhapress

Em evento com catadores de recicláveis, o petista disse que eles e os moradores de rua em geral terão de ser respeitados não como vagabundos, mas como pessoas que foram abandonadas por outros gestores.

"Eu passei na rua, acho que é uma parte da cracolândia, ou um pedaço de pessoas que foram expulsas se um lugar. Eu nunca tinha visto o que eu vi na rua de São Paulo", disse o petista, sobre a presença de moradores de rua e de usuários de drogas na região da cracolândia do centro da capital paulista.

Lula estava acompanhado de Fernando Haddad (PT), ex-prefeito da cidade e futuro ministro da Fazenda.

"Eu não sei se a prefeitura em algum momento teve a capacidade de pesquisar a vida de cada mulher e cada homem [em situação de rua]", disse, ao afirmar que isso será feito em seu governo.

Lula participa de evento com catadores em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

O discurso foi cheio de críticas indiretas à Prefeitura de São Paulo.

São Paulo tem como prefeito Ricardo Nunes, do mesmo MDB que Lula tenta atrair para a base de seu governo. Nunes deverá ser candidato à reeleição em 2024, tendo o deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL) como um de seus principais adversários. Boulos terá o apoio de Lula e do PT.

"Como São Paulo é maior cidade da América Latina, a cidade mais rica do Brasil, em São Paulo as coisas poderiam ser melhores do que nós outros lugares e na verdade não são", disse, citando que a situação era melhor em gestões petistas", disse Lula.

Estavam presentes no evento dois secretários da prefeitura: Carlos Bezerra Jr. (Assistência e Desenvolvimento Social) e Marta Suplicy (Relações Internacionais).

Reportagem da Folha desta quinta-feira mostra como a cracolândia tem afastado bancos e lojas de região do centro de SP e deixado moradores sem transporte e até pizza.

A Folha esteve na segunda-feira (12) por cerca de duas horas no bairro e notou grande aglomeração de usuários de drogas e moradores de rua, principalmente nas ruas do Triunfo, dos Gusmões e dos Protestantes.

No mesmo horário, equipes da Polícia Civil estiveram no local e dispersaram o grupo que estava numa esquina. No entanto, foi só os policiais irem embora que tudo voltou ao normal, com venda e uso de drogas ao ar livre.

Um comerciante que aceitou conversar com a reportagem disse estar prestes a deixar o endereço que ocupa há 11 anos, cansado dos prejuízos e da desordem que assombram o bairro.

Lula também afirmou que não se cuida do pobre olhando para política fiscal.

"Para cuidar do povo pobre é preciso ter muito coração. A gente não cuida do pobre se a gente ficar olhando dados estatísticos, política fiscal do governo, orçamento da prefeitura, orçamento do estado. Sempre haverá prioridade mais importante que os pobres. Sempre haverá alguém fazendo pressão que vocês não conseguem fazer", afirmou.

Além de Haddad e do padre Júlio Lancellotti, estavam presentes a empresária Luiza Trajano, o vereador Eduardo Suplicy (PT) e vários cotados para cargos no primeiro escalão do governo, como o advogado Marco Aurélio Carvalho e o professor Silvio Almeida.

Antes do discurso de Lula, diversos representantes discursaram e fizeram pedidos como o de uma Secretaria da Reciclagem.

Padre Júlio também discursou e falou sobre a situação dos catadores na cidade. "Estamos cansados de ser tratados como lixo, apanhando da Guarda Civil Metropolitana. A aporofobia está matando o nosso povo", disse, que também cobrou a derrubada de veto a lei que proibia arquitetura hostil nas cidades.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.