Lula vê papel de Bolsonaro em atos violentos, e Dino diz que PF atuará por punição

Petista diz que presidente incentiva 'ativistas fascistas'; futuro ministro promete providências contra manifestantes antidemocráticos

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Brasília

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta terça-feira (13) os atos de violência que ocorreram em Brasília no dia anterior e afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) incentiva "ativistas fascistas".

Apoiadores de Bolsonaro promoveram vandalismo horas após a diplomação do presidente eleito.

"Esse cidadão até agora não reconheceu a sua derrota, continua incentivando os ativistas fascistas que estão nas ruas se movimentando. Ontem [segunda] ele recebeu esse pessoal no Palácio da Alvorada, não sei qual foi o estrago que foi feito no Palácio da Alvorada. Ele tem de saber que aquilo é patrimônio publico, não é dele, da mulher dele, do partido dele. É do povo brasileiro", afirmou Lula.

"Ou seja, ele segue o rito que todos os fascistas seguem no mundo. É importante a gente saber que eles fazem parte de uma organização de extrema direita que não existe apenas no Brasil. Existe na Espanha, na Itália, França, nos Estados Unidos, que tem como líder o presidente [Donald] Trump, existe na Hungria existe em vários outros países, inclusive na nossa querida Argentina", continuou o presidente eleito.

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Pedro Ladeira-9.dez.22/Folhapress

Também presente em evento de encerramento da transição, o futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), afirmou que os crimes políticos são de competência federal e prometeu providência contra os militantes que promovem atos antidemocráticos.

Segundo ele, todos os manifestantes estão sendo identificados e "todos os inquéritos cabíveis serão feitos".

Sem citar nenhuma autoridade, Dino disse que muitas investigações e ações contra militantes não estão avançando atualmente. No entanto, afirmou que tudo será destravado a partir do dia 1º de janeiro, quando Lula toma posse.

"Temos feito à Polícia Federal as representações cabíveis no momento. Agora, no dia 1º de janeiro de 2023, aquilo que não pode ser feito nesses 15, 20 dias será feito. Porque não é apenas orientação política, é um imperativo da lei", afirmou Dino.

"Esses grupos extremistas são cada vez menores, embora cada vez mais radicalizados. Porém não terão força, e aquilo que nos cabe fazer agora está sendo feito", seguiu Dino.

O futuro ministro disse garantir que Lula será empossado no dia 1º de janeiro e fez um paralelo com a edição do Ato Institucional número 5, que deu início ao período mais repressor da ditadura. O ato foi editado em 13 de dezembro de 1968.

"Eu começo com essa afirmação: este 13 de dezembro de 2022 é a prova que nunca mais o Brasil vai viver aquele 13 de dezembro de 1968. A democracia venceu e vai continuar a vencer, de modo que eu gostei muito, [vice-presidente eleito Geraldo] Alckmin, do termo que usaste e vou usar: o presidente sainte vai sair, e o presidente entrante vai entrar no dia 1º de janeiro de 2023."

Coordenador dos grupos técnicos da transição, o ex-ministro Aloizio Mercadante disse ainda que as sugestões de revogação de normas do governo Bolsonaro a partir do ano que vem somam 23 páginas.

"Estamos revogando tudo, estamos passando por uma peneira bem fina, para poder avaliar cada medidas, suas implicações. E tudo isso, agora, vai para os novos ministros, que vão reanalisar o que está ali e decidir com o presidente do que será revogado, e as medidas preliminares para esse começo do governo."

Mais cedo, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que Bolsonaro é "cúmplice" da violência de protestos antidemocráticos. A parlamentar criticou o fato de os manifestantes do dia anterior não terem sido presos e classificou os atos como "baderna" e "golpismo".

Uma ordem de prisão expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), contra o indígena bolsonarista José Acácio Serere Xavante acabou em atos de violência em frente à sede da Polícia Federal e em vias de Brasília na segunda-feira (12). Com a presença do preso no prédio da PF, apoiadores de Bolsonaro tentaram invadir o local.

Após serem repelidos pela polícia, os manifestantes foram para outras vias da cidade e atearam fogo em ônibus e em carros. Eles ainda depredaram postes de iluminação e tentaram derrubar um ônibus de um viaduto.

O confronto também fez a Polícia Federal e a PM reforçarem a segurança no hotel onde Lula está hospedado em Brasília. Policiais do grupo de elite da PF foram enviados para o local, e a PM criou um cordão de isolamento na entrada do hotel.

Nesta terça (13), o Supremo manteve a prisão temporária de dez dias imposta a Serere, após audiência de custódia. Ele permanece detido no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal.

Nesta terça, Bolsonaro se encontrou com integrantes da Marinha e divulgou uma nova mensagem de teor dúbio.

Na nota, em nome do presidente mas lida por um locutor, Bolsonaro afirmou que a Marinha é comprometida com o futuro da pátria. Disse ainda que os fuzileiros navais, com sacrifício da própria vida, "lutaram e sempre lutarão para impedir qualquer iniciativa arbitrária que possa vir a solapar o interesse do nosso país".

Na semana após a derrota eleitoral, Bolsonaro disse numa rápida declaração defender os atos que aconteciam pelo país, tendo ali apenas condenado os bloqueios de estradas por seus apoiadores. Já no final da semana passada quebrou um silêncio de 40 dias com um discurso dúbio que também atiçou seus apoiadores, salpicado de referências às Forças Armadas.

Como mostrou recente reportagem da Folha, a escalada da violência nos atos antidemocráticos liderados por bolsonaristas fez desmoronar o discurso público do presidente e de seus aliados, que destacavam as manifestações como ordeiras e pacíficas e buscavam associar protestos violentos a grupos de esquerda.

Com casos de violência que incluem agressões, sabotagem, saques, sequestro e tentativa de homicídio, as manifestações atingiram seu ponto crítico e acenderam o alerta das autoridades, que realizaram prisões e investigam até possível crime de terrorismo.

Os responsáveis poderão ser punidos na Justiça com base na Lei Antiterrorismo, legislação que os próprios bolsonaristas tentaram endurecer visando punir manifestantes de esquerda.

Casos como esses criaram uma espécie de curto-circuito na base bolsonarista, que se divide entre os que silenciam sobre os episódios violentos e os que os condenam, e por isso passaram a ser alvo de críticas das franjas mais radicais.


Colaborou o UOL

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