Quase metade dos partidos fica fora da distribuição do fundão de 2023

Partidos não superaram cláusula de barreira nas eleições de 2022 e não terão direito a recurso público

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

Quase metade dos 31 partidos do país ficará de fora da distribuição do fundo partidário a partir deste mês por não atingirem a cláusula de barreira nas eleições do ano passado. O valor do fundo neste ano se aproxima de R$ 1,2 bilhão.

Terão direito a parcelas do fundo 17 legendas, entre elas as que formaram federações com agremiações maiores para não deixarem de receber os valores. Esse é o caso do PV e do PC do B com o PT; do Cidadania com o PSDB e da Rede com o PSOL.

Outros 14 partidos ficarão de fora da divisão dessa quantia, uma situação nova para parte das legendas que era financiada pelo fundo.

O prédio do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em Brasília - Antônio Augusto - 16.ago.22/Secom/TSE

Em janeiro, antes do início da aplicação da nova regra, ainda receberam o fundo partidário 22 partidos, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Estão nessa situação partidos como o Solidariedade, o PTB, o Patriota e o PSC. O Pros, que também deixaria de receber, se incorporou ao Solidariedade.

O Novo tinha direito a receber o fundo, embora sua utilização seja vetada pela legenda. Agora, o partido, que encolheu em número de deputados federais nas eleições de 2022, não tem mais direito aos recursos.

A Rede Sustentabilidade, que não estava recebendo os recursos, passará a recebê-los após firmar federação com o PSOL.

O corte nos recursos acontece devido a uma emenda à Constituição aprovada pelo Congresso na chamada "minirreforma eleitoral" de 2017.

A emenda aponta que, para receber as parcelas do fundo partidário em 2023, era necessário que os partidos políticos obtivessem em 2022 ao menos 2% dos votos válidos, com no mínimo 1% da votação em nove estados ou, ainda, a eleição de ao menos 11 deputados federais distribuídos em nove estados.

A barreira, em resumo, tira a verba pública, estrutura legislativa e espaço na propaganda de rádio e TV dos partidos que não tiverem um desempenho mínimo nas eleições.

Essa minirreforma foi aprovada com o objetivo de reduzir o número de legendas no país. O corte ao acesso ao fundo partidário seria um incentivo para que os nanicos e pequenos partidos formem ou integrem federações; ou ainda se fundam.

O fundo partidário —cujo nome formal é Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos— tem seus recursos oriundos do Orçamento da União e também de multas e penalidades a partidos, além de doações.

Seu objetivo é bancar despesas cotidianas dos partidos políticos. Em janeiro, o TSE publicou tabelas com o percentual total de votos considerados para que os partidos recebessem dotações do fundo partidário.

A previsão é que o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, fique com a maior fatia do fundo neste ano. O valor previsto até o final do ano pode superar os R$ 200 milhões.

Em seguida, virá o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve ganhar mais de R$ 150 milhões. Em terceiro lugar, a União Brasil, partido do centrão que ocupa ministérios da gestão Lula, ficará com aproximadamente R$ 120 milhões.

Depois desses partidos, os mais beneficiados com o fundo serão PP, Republicanos, MDB, PSD, PSB e PSOL.

O PL terá direito a esses valores após ter recebido uma pesada multa do presidente do TSE, o ministro Alexandre de Moraes, por litigância de má-fé pela ação golpista que visava invalidar votos depositados em parte das urnas no segundo turno das eleições.

Moraes entendeu que na iniciativa encampada pelo PL houve "finalidade de tumultuar o próprio regime democrático brasileiro" e determinou que o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, seja alvo de investigações no STF (Supremo Tribunal Federal), no inquérito das milícias digitais, e no TSE.

O valor da multa era de R$ 22,9 milhões. No último dia 17, Moraes afirmou que o valor foi quitado e determinou que fosse imediatamente liberado o saldo remanescente em contas partidárias da legenda, assim como o repasse mensal do fundo partidário.

Em novembro passado, houve o bloqueio de R$ 13,6 milhões da sigla. Em dezembro, aconteceu a transferência de R$ 9,86 milhões.

Com a quitação foi reconhecida, Moraes determinou que seja imediatamente liberado ao partido de Bolsonaro o saldo remanescente nas contas partidárias, assim como o repasse mensal do fundo partidário.

"Conforme se extrai dos cálculos apresentados pela unidade técnica, os valores transferidos à conta específica já são suficientes à plena quitação da multa imposta", disse o ministro Alexandre de Moraes em decisão.

Antes do corte de parte das legendas do fundo neste mês, outros partidos que já não tinham superado a cláusula de barreira também não vinham recebendo os recursos: Agir, DC, PCB, PCO, PMN, PRTB, PSTU e UP.

O veto ao fundo partidário fez legendas como o Patriota iniciarem discussões para se juntar a outros partidos. Em 2018, o partido também não atingiu a cláusula, mas havia conseguido escapar da degola incorporando o nanico PRP.

Na ocasião, Podemos e PC do B também incorporaram nanicos para manter as verbas e o acesso à propaganda.

Para 2026, a cláusula de barreira subirá para 2,5% dos votos válidos em todo o país, com um mínimo de 1,5% em pelo menos nove estados ou 13 deputados distribuídos por nove unidades da federação.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.