Novatos assumem cena política e escanteiam veteranos em Minas

Lideranças com menos de 40 anos assumem comandos da Assembleia e da Câmara de Belo Horizonte

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Belo Horizonte

No interior de Minas Gerais, é comum ouvir que "bateu um vento" quando alguém quer dizer que alguma coisa mudou de maneira relevante. Pode ser uma opinião, uma vontade ou uma decisão.

Assim, bateu um vento na política de Minas Gerais. Rostos novos, a maioria com menos de 40 anos, assumiram cargos e posições de protagonismo no estado depois das eleições do ano passado —mas não só a partir delas—, enquanto a chamada velha guarda, na qual está incluída até um "quase" presidente da República, amarga declínio.

Políticos da ala mais antiga já haviam sido afetados nas eleições de 2018, quando o até então pouco conhecido e não tão jovem Romeu Zema (Novo), hoje com 58 anos, venceu a disputa pelo Palácio Tiradentes batendo candidatos de grupos tradicionais do estado liderados pelo PSDB e PT.

Os parlamentares Duda Salabert e Nikolas Ferreira - Divulgação/Douglas Magno - 19.out.22/AFP

Nas eleições de outubro, houve novo tropeço da velha guarda, desta vez acompanhado pela ascensão de novas lideranças.

O deputado Tadeu Martins Leite (MDB), 36, por exemplo, depois de conseguir seu quarto mandato consecutivo para a Assembleia Legislativa no pleito, foi escolhido presidente da Casa em eleição entre seus pares realizada em 1º de fevereiro. Ele foi candidato único.

Na Câmara Municipal de Belo Horizonte, Gabriel Azevedo (sem partido), 36, foi eleito para seu segundo mandato consecutivo como vereador em 2020 e, em eleição em dezembro, venceu a disputa para a presidência da Casa.

Outros dois novos nomes da política mineira também saíram da Câmara Municipal. Duda Salabert (PDT), 41, a primeira deputada federal trans de Minas Gerais, foi eleita para o Congresso depois de se eleger para o Legislativo municipal em 2020. A parlamentar é agora cotada para presidir a Comissão de Meio Ambiente da Casa.

Nikolas Ferreira (PL), 26, assim como Duda, foi eleito vereador em 2020 e, nas eleições do ano passado, ganhou, com a maior votação na comparação com candidatos de todo o Brasil, vaga na Câmara dos Deputados. Bolsonarista, foi eleito deputado federal com 1,4 milhão de votos.

Também na onda bolsonarista surgiu o senador Cleitinho (Republicanos), 40, eleito no ano passado para vaga na Casa depois de começar a carreira política como vereador em Divinópolis em 2016. Também foi eleito deputado estadual em 2018.

Ao mesmo tempo, na outra ponta, ocorria o minguar de quem já teve grande relevância no cenário político nacional, como o ex-governador por dois mandatos e ex-senador Aécio Neves (PSDB), 62.

No auge de sua trajetória, o tucano perdeu a disputa presidencial de 2014 por estreita margem no segundo turno para Dilma Rousseff (PT), que tentava a reeleição.

Em 2018, ainda atingido politicamente por uma delação que o fez virar réu nos tempos da Lava Jato, Aécio disputou vaga na Câmara e teve 107 mil votos. O deputado mais votado teve mais que o dobro. O tucano voltou a se eleger para a Câmara em 2022, mas contou com 21 mil votos a menos.

Também ex-governador do estado, Fernando Pimentel (PT) teve resultado ainda pior nas eleições de outubro. Ao tentar vaga na Câmara, o petista, que já foi ministro do Desenvolvimento e Indústria no governo Dilma, teve 37 mil votos e não conseguiu a eleição.

Ex-prefeito de Belo Horizonte por duas vezes, Alexandre Kalil (PSD), 63, que venceu a disputa municipal em 2016 se promovendo como outsider, também perdeu espaço no centro da política do estado.

Depois de se reeleger ainda no primeiro turno em 2020, deixou o cargo para se candidatar ao Palácio Tiradentes no ano passado e foi derrotado por Zema sem necessidade de segundo turno. Seu partido, agora, é aliado do governador na Assembleia.

As assessorias de Aécio, Pimentel e Kalil não responderam aos questionamentos enviados pela reportagem.

A chegada da ala novata da política já congestiona as eleições de 2024, para a prefeitura, e mexe com a de 2026, para o governo do estado.

O presidente da Câmara de Belo Horizonte, Gabriel Azevedo, é um dos cotados para a disputa do ano que vem. Assim como a deputada federal Duda Salabert.

Com seu capital político de deputado federal mais votado do país, Nikolas Ferreira também é carta no baralho. O atual prefeito é Fuad Noman (PSD), ex-vice de Kalil.

Já rondando o Palácio Tiradentes com vistas a 2026 está, pela força do cargo, o presidente da Assembleia, e o vice de Romeu Zema, Professor Simões (Novo), 41, também da ala mais nova da política mineira, possível herdeiro político do governador.

O vice já mantém agenda intensa de viagens pelo interior do estado. Zema é cotado para a disputa presidencial em 2026.

Tadeu Leite, que preside a Assembleia, evita perguntas sobre o seu futuro político, alegando dedicação ao cargo que ocupa.

"Estou inteiramente focado em meu mandato parlamentar, com um olhar atento às necessidades dos municípios e ao exercício de uma boa gestão no Legislativo, para que as políticas públicas possam promover melhorias na qualidade de vida das pessoas", disse.

Já o presidente da Câmara de Belo Horizonte é mais direto em relação ao que pretende fazer, apesar de também citar seu foco no cargo.

"A lei eleitoral me impede de me dizer candidato antes do prazo. No momento, estou focado em exercer bem a presidência da Câmara Municipal de Belo Horizonte. E me dedicando muito", afirmou.

Por nota Duda Salabert afirmou que seu partido a quer como candidata, mas que ainda avalia a possibilidade e está, ao mesmo tempo, dialogando com partidos do campo progressista visando a construção de uma frente ampla para a disputa pelo cargo.

Nikolas Ferreira não respondeu contatos feitos pela reportagem.

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