Descrição de chapéu Governo Lula

Alas do governo Lula divergem sobre ter militar ou civil no comando do GSI

Tese de reformulação do ministério em uma secretaria civil vem desde a transição

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Brasília

Após a saída do general Gonçalves Dias do comando do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), alas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divergem sobre manter um militar ou colocar um civil à frente da pasta.

Os auxiliares que defendem manter o ministério sob o comando dos militares acreditam ser essa a alternativa que trará menos traumas e ruídos políticos.

Eles temem uma nova crise com a caserna caso um civil assuma o posto definitivamente. O governo Lula buscou apaziguar os ânimos com os militares, mas os primeiros quatro meses do mandato foram marcados pela demissão do então comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda.

Já os integrantes do governo que defendem um civil à frente do GSI sustentam uma reestruturação completa do ministério. A avaliação é a de que é preciso montar uma secretaria especial com configuração robusta, mas sob o comando de alguém de fora do meio militar.

O então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o general Gonçalves Dias, em dezembro passado, no CCBB
O então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o general Gonçalves Dias, em dezembro passado, no CCBB - Pedro Ladeira - 29.dez.22/Folhapress

Caso Lula escolha manter a estrutura com um militar, entre os cotados estão o general Valério Stumpf Trindade, hoje na reserva e à frente da Poupex; e o general Marco Antônio Amaro dos Santos, que comandou a Casa Militar (órgão que antecedeu o GSI) no governo Dilma Rousseff (PT).

Stumpf é respeitado entre os militares. Ele já foi secretário-executivo do GSI durante a gestão de Michel Temer (MDB) e nos primeiros meses do governo Jair Bolsonaro (PL). Ele também atuou na pasta durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e no primeiro ano do governo Lula 1.

O petista indicou ainda na quarta-feira (19) o ex-interventor na segurança do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, um civil, para comandar o GSI interinamente.

Há quem defenda o nome do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski e o do presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante, para comandar a estrutura permanentemente.

Nesta quinta (20), o ministro José Múcio (Defesa) intermediou uma série de encontros para fazer uma espécie de transição entre as gestões Gonçalves Dias e Cappelli. Houve uma reunião apenas entre o general e o chefe interino do GSI e outra ampliada, com a presença de Flávio Dino (Justiça) o comandante do Exército, general Tomás Paiva.

A avaliação foi a de que Cappelli deveria construir uma ponte com os fardados. Segundo relatos, Múcio é da ala que defende que a estrutura do GSI não seja extinta e que civis e militares possam atuar juntos no gabinete.

Nesta quinta, Cappelli afirmou que o futuro do órgão, em particular se será comandado por civil ou militar, será definido após o retorno de Lula de uma viagem oficial à Europa.

"Não existe isso no momento. A gente está levantando as informações e vamos apresentar uma avaliação no retorno da viagem do presidente. Mais importante do que civil, militar, são as definições, atribuições, o papel institucional. A gente tem feito essa discussão e tem total sintonia tanto com civis quanto com o comando do Exército", afirmou.

A hipótese de colocar o GSI sob comando de um civil já vinha sendo aventada desde a transição, quando houve uma queda de braço entre militares e integrantes da Polícia Federal pelo órgão —sobretudo pela segurança presidencial e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

O governo avalia que a indicação de alguém das casernas no órgão é um resquício da ditadura militar, e que em outros países tanto essa área como a de segurança do chefe do Executivo estão sob a tutela de civis.

O problema central era a desconfiança com a estrutura do GSI herdada da administração Bolsonaro. Na gestão anterior, o gabinete foi comandado pelo general Augusto Heleno, um dos auxiliares mais identificados com o bolsonarismo.

Integrantes da equipe de Lula também se incomodavam com a militarização da inteligência que assessora o mandatário.

As desconfianças levaram o GSI a ser excluído da segurança do presidente eleito, como é de praxe. Além disso, logo no início do governo, ele perdeu a atribuição da segurança presidencial aproximada. Restou apenas a de patrimônio da Presidência.

No começo do mandato, havia dúvidas se a Abin deveria continuar ou não sob a tutela dos militares palacianos. Depois dos ataques golpistas de 8 de janeiro, ganhou força a tese defendida pelos que queriam a agência fora do GSI. No mês passado, ela foi transferida para a Casa Civil, do ministro Rui Costa (PT).

Em meio às recentes reorganizações do órgão, Gonçalves Dias resistiu a algumas pressões e manteve sob sua tutela secretarias que tratam de cibersegurança e de energia nuclear, por exemplo.

A sua queda agora reabre uma disputa interna pela estrutura que a pasta deve assumir.

Aliados do Gonçalves Dias no governo dizem que ele já não estava muito satisfeito à frente da pasta. Ponderam que o militar teve funções esvaziadas e teve a "infelicidade" de assumir o GSI com uma equipe montada pelo governo anterior.

No 8 de janeiro, com menos de 10 dias de governo, Dias não conseguiria "consertar" o GSI, dizem esses aliados.

Embora as imagens tenham sido consideradas constrangedoras por integrantes do Palácio do Planalto, a avaliação majoritária entre ministros é que houve omissão ou até mesmo ação de favorecimento aos vândalos por parte de agentes do GSI, mas não do agora ex-ministro.

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