O que se sabe até aqui sobre a queda do ministro do GSI de Lula e as imagens do 8/1

Imagens colocam em xeque atuação do órgão em invasão golpista e levam à primeira queda de ministro

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Brasília e São Paulo

O ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Gonçalves Dias, pediu demissão do cargo na tarde de quarta-feira (19), após a divulgação de imagens que colocam em xeque a atuação do órgão durante o ataque golpista de 8 de janeiro.

A saída dele do governo ocorreu pouco depois de uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aceitou o pedido de demissão. Trata-se da primeira queda de ministro na atual gestão, três meses e 19 dias depois do começo do mandato.

O presidente Lula com o general Gonçalves Dias durante evento do gabinete de transição - Pedro Ladeira - 29 dez.22/Folhapress

Qual a origem da crise que derrubou o primeiro ministro de Lula? A crise que levou à saída do chefe do GSI teve como estopim a divulgação, pela CNN Brasil, de imagens do circuito interno da segurança durante a invasão da sede da Presidência da República que mostram uma ação colaborativa de agentes com golpistas e a presença de Gonçalves Dias no local.

Segundo as imagens da invasão ao Planalto, os golpistas receberam água dos militares e cumprimentaram agentes do GSI durante os ataques. Nos vídeos, o próprio general Gonçalves Dias circula pelo terceiro andar do palácio, na antessala do gabinete do presidente da República, enquanto os atos ocorriam no andar de baixo.

O que mais pesou para a queda do ministro do GSI? A decisão sobre a saída do ministro foi tomada pelo presidente Lula após uma reunião de emergência no Palácio do Planalto.

A avaliação de ministros foi a de que as imagens eram fortes e impactantes e deixavam evidente que GDias, como é conhecido, havia perdido o controle da situação durante o ataque golpista.

Os integrantes do governo, no entanto, descartam qualquer tipo de ligação do general com os invasores. Chegaram à conclusão, por meio das imagens, de que sua atuação esteve abaixo do esperado para a segurança do palácio presidencial.

Qual a relação de Lula e GDias? A relação de amizade entre eles é antiga. GDias foi o militar que chefiou a segurança do petista durante seus dois primeiros mandatos (2003-2010), atuando como uma espécie de sombra em agendas no Brasil e no exterior.

O que mais contrariou Lula no caso? Aliados de Lula dizem que o presidente estava bastante irritado, pois havia pedido reiteradas vezes ao general, sem sucesso, acesso às imagens do sistema de câmeras de segurança do Planalto.

Ouviu que não seria possível e, de acordo com um interlocutor do petista, até que uma das câmeras estaria quebrada. Lula acabou surpreendido na quarta com a divulgação desse mesmo conteúdo, que teria sido negado a ele.

Também pesou a desconfiança em relação à versão apresentada pelo general: a de que aparece indicando a saída para os invasores nas imagens porque estava conduzindo os golpistas para serem presos no segundo andar do palácio.

Um integrante do governo diz que não foi dada voz de prisão a esses golpistas que foram levados ao segundo andar imediatamente na sequência, o que contrariaria a versão do general.

O que diz o general Gonçalves Dias? À Folha o general rebateu a versão de que teria negado acesso às imagens do dia 8 de janeiro.

O militar afirmou que o GSI chegou a montar uma apresentação com as filmagens mais sensíveis para encaminhar a Lula e que todas as horas de filmagem foram enviadas aos órgãos envolvidos na investigação, como STF (Supremo Tribunal Federal), Polícia Federal, Exército Brasileiro e a Polícia Militar do Distrito Federal.

Também afirmou que as filmagens se encontravam em sigilo previsto no Código de Processo Penal.

Imagens mostram ação do GSI em ataque aos Três Poderes em 8 de janeiro
Imagens mostram ação do GSI em ataque aos três Poderes em 8 de janeiro - Reprodução/CNN Brasil no YouTube

O governo Lula estava escondendo essas imagens? Sim. Uma semana após os ataques de 8 de janeiro, o governo divulgou vídeos editados, em particular com trechos que evidenciavam que os militantes eram aliados de Jair Bolsonaro (PL). No entanto, recusou um pedido da Folha, via Lei de Acesso à Informação, para divulgar a íntegra das gravações.

Ao negar acesso à íntegra das imagens, o GSI afirmou em fevereiro não ser "razoável" divulgar informações que exponham métodos, equipamentos, procedimentos operacionais e recursos humanos da segurança presidencial.

"Dessa forma, presente pedido de informação não pode ser atendido, haja vista que as imagens do sistema de vídeo monitoramento do Palácio do Planalto são de acesso restrito, considerando que sua divulgação indiscriminada traz prejuízos e vulnerabilidades para a atividade de segurança das instalações presidenciais", diz a resposta.

Qual a versão oficial do governo sobre o caso das imagens? A Secretaria de Comunicação da Presidência divulgou uma nota na qual busca responsabilizar "equipes remanescentes" do governo anterior por eventuais falhas durante o 8 de janeiro.

O governo ainda afirma que as imagens do dia do ataque estão em poder da Polícia Federal, que está investigando o caso e realizando prisões seguindo decisões judiciais. Acrescenta que, após autorização do STF, vem investigando militares possivelmente envolvidos nos episódios, inclusive com novas detenções.

O GSI se manifestou? Sim, mas em nota antes da demissão. A pasta afirma que realiza investigações internas sobre a conduta de seus agentes durante a invasão do Palácio do Planalto.

O órgão dizia que a atuação no caso foi, "em um primeiro momento, no sentido de evacuar os quarto e terceiro pisos do Palácio do Planalto, concentrando os manifestantes no segundo andar, onde, após aguardar o reforço do pelotão de choque da PM/DF, foi possível realizar a prisão dos mesmos".

A pasta também afirmou, a respeito da colaboração de agentes com os invasores, que "as condutas de agentes públicos do GSI envolvidos estão sendo apuradas em sede de sindicância investigativa instaurada no âmbito deste ministério".

"Se condutas irregulares forem comprovadas, os respectivos autores serão responsabilizados", completou.

Qual a consequência política das imagens e da queda do ministro? A queda do comandante do GSI deve tornar inevitável a criação de uma CPI no Congresso sobre os atos golpistas, que já vinha sendo cobrada pela oposição sob resistência da gestão Lula. O Planalto foi obrigado a mudar de estratégia.

O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) disse nesta quinta-feira (20) que a divulgação das novas imagens sobre o 8 de janeiro e a consequente demissão de Gonçalves Dias configuram uma "nova situação política".

Segundo ele, o governo Lula tem orientado os líderes no Congresso Nacional a apoiarem a instalação da CPI para investigar os ataques aos três Poderes para, segundo ele, barrar a propagação de falsas teses sobre os atos golpistas daquele dia.

O governo mudou de opinião sobre a CPI? Sim. Lideranças da base do governo decidiram mudar de posição na quarta e apoiar a abertura da CPMI para investigar os ataques de 8 de janeiro. A nova postura dos aliados do presidente Lula foi tomada diante da crise gerada pela divulgação das imagens.

A avaliação de parlamentares da base do governo ouvidos pela Folha é que deputados bolsonaristas estavam conseguindo recontar a história dos ataques, num esforço para culpar membros do governo pelos atos de vandalismo.

Quem assume o GSI agora? Lula decidiu nomear o ex-interventor da segurança no Distrito Federal Ricardo Cappelli para comandar interinamente o GSI.

Alas do governo divergem sobre manter um militar ou colocar um civil à frente da pasta.

Os auxiliares que defendem manter o ministério sob o comando dos militares acreditam ser essa a alternativa que trará menos traumas e ruídos políticos. Eles temem que tirar um general para colocar um civil no posto pode reabrir uma crise com a caserna.

Já os integrantes do governo que defendem um civil à frente do GSI sustentam uma reestruturação completa do ministério. A avaliação é de que é preciso montar uma secretaria especial com configuração robusta, mas sob o comando de alguém de fora do meio militar.

Quando o futuro do GSI será decidido? Capelli, agora ministro interino do gabinete, disse nesta quinta que o futuro do órgão, em particular se será comandado por civil ou militar, será definido após o retorno de Lula de uma viagem oficial à Europa.

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