Descrição de chapéu Governo Lula

Ministra tem apreço de Lula e governo não vai se meter em briga da União Brasil, diz Padilha

Ala do partido quer emplacar novo nome no Ministério do Turismo após Daniela Carneiro pedir desfiliação

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Brasília

O ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) afirmou à Folha que o governo "não age por impulso" e que a situação da ministra Daniela Carneiro (Turismo), que pediu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) desfiliação da União Brasil, será analisada pelo Palácio do Planalto "com a calma necessária".

"Vamos analisar com a calma necessária, não ter da nossa parte qualquer medida precipitada", diz o ministro, que destacou ainda o apreço que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) possui por Daniela.

A ministra do Turismo no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Daniela Carneiro, que pediu desfiliação da União Brasil
A ministra do Turismo no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Daniela Carneiro, que pediu desfiliação da União Brasil - Divulgação - 2.jan.23/Ministério do Turismo

"Esse governo não age por impulso, [ele] analisa a situação. A Daniela Carneiro é uma ministra que tem um apreço muito importante do presidente Lula. Sempre vamos avaliar os ministros pela capacidade técnica de coordenar uma política pública combinada pela capacidade política de agregar aliados, de dialogar com os partidos, com o Congresso Nacional", disse Padilha.

Ele também declarou que o governo não irá se envolver com problemas partidários de qualquer legenda e que o Planalto já tinha a informação de que o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho, casado com Daniela, poderia deixar a União Brasil por divergências no estado.

"Vamos analisar com calma como está essa situação, que é um problema criado por uma situação do então presidente estadual da União Brasil no Rio de Janeiro com a sua direção. Não vamos intervir ou nos envolver nos problemas partidários de qualquer partido, seja uma direção estadual ou nacional", afirmou Padilha.

O Palácio do Planalto decidiu adotar o tom de cautela diante do movimento de ala da União Brasil para rifar a ministra.

Daniela já era alvo de fogo amigo de integrantes da União Brasil que tentam ocupar a pasta. Agora, a crise interna do partido elevou a pressão sobre ela. Dentro do governo, a avaliação é que a ministra fica fragilizada, mas ainda há disposição em mantê-la no posto, principalmente pela proximidade com Lula.

Segundo um aliado próximo do petista, a palavra final sobre mantê-la ou não no governo caberá ao próprio presidente.

Questionado sobre o tema, ministro da Casa Civil, Rui Costa, evitou falar diretamente sobre a colega de Esplanada, mas disse que a composição de base com outros partidos "não pode interferir" no governo.

Ele disse que a formação de partidos, devido à mudança na legislação eleitoral que trata de fusão, é muito frágil e há um movimento de "entra e sai" nas siglas, mas que a base do governo é "firme".

"O governo tem uma agenda que é cuidar das pessoas, cuidar do pais, e ele tem que conviver com esse arranjo politico. Isso não pode interferir no dia a dia do governo. As duas coisas vão caminhar paralelas. Nós faremos esforço máximo para que isso não contamine as ações de governo", disse, em entrevista à CNN.

Membros da União Brasil afirmam que Daniela foi indicada ministra pela cota pessoal de Lula.

O ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social) diz que a composição do governo "depende de entendimentos entre os líderes e os partidos" e que a situação será tratada na base do diálogo. Ele também defende Daniela, afirmando que ela "tem seu mérito".

Uma ala da União Brasil se movimenta para reivindicar a vaga de Daniela. O argumento é que o Ministério do Turismo deve ficar com um nome do partido. Nessa disputa está o presidente da legenda, deputado Luciano Bivar (PE), que articula para conseguir uma vaga na Esplanada.

Aliados de Bivar dizem que, se ele for escolhido, poderia garantir mais votos da União Brasil para o governo na Câmara.

Segundo o líder da legenda na Casa, Elmar Nascimento (BA), entre 30 e 35 deputados da bancada, que conta com 59 membros, estão atualmente alinhados ao governo.

A decisão de pedir para trocar a ministra do cargo, porém, não é consenso dentro da própria União Brasil. Uma ala de cardeais acredita que o partido não deve reivindicar o cargo e, mais ainda, deve liberar a saída dos seis deputados —ela, inclusive—, para evitar mais conflitos internos.

A ministra e outros cinco deputados da União Brasil no Rio pediram para o TSE declarar que há justa causa para a desfiliação partidária, para que eles não recebam punições como a perda dos mandatos na Câmara. Eles pedem ainda que o tempo de TV e o fundo partidário sejam transferidos aos novos partidos dos parlamentares.

Na noite desta segunda-feira (10), Waguinho publicou nas redes sociais uma mensagem anunciando sua filiação ao Republicanos, onde comandará o diretório fluminense. O partido, ex-aliado de Jair Bolsonaro (PL) na eleição de 2022, tem se aproximado da gestão Lula.

Daniela também negocia a filiação à sigla, que tem recebido cargos de segundo e terceiro escalão no governo.

Parlamentares da União Brasil ouvidos pela reportagem afirmam ver as digitais do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha nessa movimentação. Isso porque a deputada Dani Cunha (União Brasil-RJ), sua filha, é uma das que pediu ao TSE sua desfiliação.

O presidente do Republicanos, Marcos Pereira, afirmou que o partido não será base do governo e seguirá independente —mesmo se Daniela se filie à legenda. "O Republicanos será independente até o final do governo", disse.

Um integrante do Palácio do Planalto afirma, porém, que a permanência da ministra após sua filiação ao Republicanos representaria uma chegada, sem trauma, de parcela do partido à base governista.

Questionado se interessa ao governo manter Daniela como ministra caso ela se filie ao Republicanos, Padilha afirma que não irá discutir hipóteses. "Temos uma relação de diálogo e respeito com o Republicanos e este episódio não muda em nada essa relação."

A União Brasil está dividida em relação ao futuro do grupo que pediu desfiliação. Uma ala, que inclui Bivar e o vice-presidente Antonio Rueda, querem manter os deputados na sigla. Outra, que inclui o secretário-geral do partido, ACM Neto, acha, por ora, que o ideal é o partido liberá-los.

O presidente da União está em viagem e tem retorno previsto ao Brasil na próxima segunda-feira (17), a partir de quando terá reuniões com ministros de Lula. Segundo ele, caberá ao Planalto decidir se mantém ou não Daniela no cargo.

"A questão do governo é outro departamento. Escolha pessoal do governo de formar aliança com esse ou aquele partido", disse. "Eu entendo que o governo é maduro, profissional, inteligente e sabe que questões paroquiais não devem induzir a questões nacionais", afirmou Bivar.

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