Planalto desprotegido, saque de dinheiro e Lula irritado; vídeo reúne episódios do 8/1

Câmeras também registram momento em que major do GSI interage com golpistas

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Brasília

A entrada principal do Palácio do Planalto ficou desguarnecida por 45 minutos após policiais e militares do BGP (Batalhão da Guarda Presidencial) recuarem o bloqueio no local durante os ataques de 8 de janeiro, revelam vídeos do circuito interno de segurança da sede do Executivo.

As imagens do circuito de segurança foram divulgadas após revogação de sigilo determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). As gravações também mostram um major do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) interagindo com manifestantes no andar do gabinete presidencial, além de um invasor que se sentiu à vontade para sacar tranquilamente dinheiro em um caixa eletrônico no mesmo pavimento.

De acordo com os vídeos, vândalos bolsonaristas que já haviam entrado no Planalto por outros locais abriram a porta principal do prédio —o que facilitou o acesso dos golpistas e a depredação.

A ameaça à invasão ao Planalto começou por volta de 15h, quando o Congresso Nacional já estava tomado pelos golpistas e um grupo de vândalos enfrentou policiais militares no estacionamento do palácio.

Cerca de 20 policiais e militares do BGP fizeram, então, um bloqueio às 15h11 em frente ao portão principal que dá acesso ao Planalto. Ao longe, bolsonaristas jogavam pedras, cones e extintores.

Com o avanço dos golpistas e a entrada de vândalos por outros locais, a PM e o BGP desfizeram o bloqueio às 15h26 —momento em que, sem segurança, criminosos abriram a porta do Palácio do Planalto por dentro e chamaram os demais bolsonaristas radicais para invadirem a sede do Executivo.

Nos 45 minutos seguintes, as cenas captadas pela câmera da entrada do Planalto registram uma série de depredações. Um homem com a camisa da seleção brasileira pegou um bastão de ferro e desferiu golpes contra a máquina de raio-X; outro arremessou cadeiras para fora do prédio.

Boa parte dos vândalos usava o celular para fazer gravações e lives.

A situação na entrada do Planalto só foi controlada às 16h01, quando o BGP avançou com os militares em linha contra os vândalos. O principal meio utilizado para dispersar os golpistas foi o gás lacrimogêneo, sem necessidade de confronto direto.

Somente às 16h43 dois grupos com cerca de cem militares do BGP deixam o estacionamento reservado ao comboio presidencial rumo à área externa do Planalto.

Homem com a camisa do Brasil caminhando em corredor e outro homem com pedaço de madeira quebrando máquina
Invasores depredam Palácio do Planalto em imagem de câmeras de segurança no dia 8 de janeiro - Reprodução

As imagens revelam o baixo efetivo de segurança no dia da invasão. Além da falta de policiais do choque da PM do DF, o Batalhão da Guarda Presidencial só contava com 36 militares no Palácio do Planalto no início das invasões.

Somente após o palácio ter sido tomado o GSI recebeu reforço do BGP: Primeiro foram enviadas duas companhias, com 173 militares, e depois um grupo com outros 120.

Não há números confirmados oficialmente pela PM do DF sobre o efetivo que havia sido empregado na Esplanada dos Ministérios no dia 8 de janeiro.

Parte das imagens foi divulgada, inicialmente, pela CNN, na semana passada. Os vídeos levaram à queda de Gonçalves Dias, então ministro do GSI —primeira demissão do governo Lula 3. O general teve de prestar depoimento à PF na última sexta-feira (21), assim como outros nove servidores do GSI que aparecem nas imagens.

GDias, como é chamado, também aparece nas imagens, no andar do gabinete presidencial. Em um primeiro momento, ele usa estrutura de metal e fita para barrar o acesso ao quarto andar pela escada, depois verifica se as portas do gabinete de Lula estão fechadas.

Ao encontrar mais adiante manifestantes no andar presidencial, o general aponta para que deixem o local, o que ocorre. Dias afirma que o objetivo era conduzir os invasores para o segundo andar do Planalto, onde seriam presos.

Os mesmos vídeos agora divulgados mostram o major José Eduardo Natale de Paula Pereira, que estava como coordenador de segurança das instalações no Planalto, interagindo durante meia hora com manifestantes no andar do gabinete presidencial.

Pereira aparece nas imagens de câmeras do terceiro andar do Planalto conversando e dando água para os vândalos. Em outros momentos, circula ao telefone quando eles já haviam invadido salas do andar presidencial e ainda testemunha um golpista furtando um extintor de incêndio.

À CNN Brasil, após a emissora divulgar imagens suas dando água para os manifestantes, o major disse que atuou para "conter danos".

"Foi para fazer a contenção de danos, para impedir que as pessoas entrassem no gabinete do presidente, que seria a última linha", disse. De acordo com a reportagem, ele teria dito ainda não ter realizado prisões justamente por estar sozinho diante dos vândalos.

Os manifestantes circulam por pouco mais de uma hora na área mais restrita do andar presidencial, até serem inteiramente retirados do local. Tudo ocorreu entre 15h20 e cerca de 16h31.

As falhas de segurança durante os ataques golpistas permitiram ainda a um invasor sacar tranquilamente dinheiro em um caixa eletrônico no 3º andar do Planalto.

As imagens mostram o homem às 15h54 em frente à máquina, acessando a sua conta bancária por meio de biometria (polegar), sacando a quantia em dinheiro e contando as notas duas vezes, antes de guardar no bolso.

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