A partir da avaliação registrada pelo Datafolha de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conta com aprovação de 38% dos brasileiros e reprovação de 29% após três meses de mandato, o Palácio do Planalto traçou como estratégia mirar a parcela da população que considera o governo regular.
O resultado da pesquisa foi bem recebido pelo Palácio do Planalto neste fim de semana. Segundo integrantes do governo ouvidos pela Folha, o foco agora passa a ser a fatia de 30% na zona intermediária.
A expectativa de interlocutores do governo é que, nos próximos meses, a avaliação da gestão Lula 3 deverá melhorar com o impacto de novas medidas, como a elevação do salário mínimo e o avanço de propostas como a ampliação da isenção do Imposto de Renda.
Além disso, a ideia é impulsionar a divulgação da retomada de programas sociais na campanha de 100 dias de governo, que está sendo preparada pelo ministro Paulo Pimenta (Comunicação Social).
Aliados do presidente Lula avaliam que o resultado apontado pelo Datafolha foi positivo diante do cenário político polarizado —e refletido no resultado eleitoral.
Após a divulgação da pesquisa do Datafolha, o ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) afirmou em publicação nas redes sociais que o resultado "mostra a força do novo governo". Segundo ele, Lula "colocou o cuidado ao povo brasileiro em primeiro lugar e a população enxerga isso".
No Planalto, há o entendimento de que as ações tomadas nos 100 primeiros dias do governo, como a retomada dos programas Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e Mais Médicos, dialogam principalmente com o eleitorado do governo petista.
Existe a avaliação de que os números do Datafolha mostram que o objetivo de corresponder aos anseios desse público foi alcançado.
Quanto aos brasileiros que avaliam a gestão Lula como regular, membros da atual administração consideram que parcela significativa tem uma expectativa positiva quanto ao governo no futuro. A leitura dos dados é que, a partir de uma base sólida (a aprovação de 38%), o governo poderá melhorar o desempenho nessa fatia do eleitorado.
A ideia agora é, com novos programas e ações, atingir esse público para melhorar a percepção que os brasileiros têm do governo Lula. A retomada do emprego e a cruzada para reduzir os juros seguem na pauta do Planalto.
"Estamos partindo de um bom patamar. Agora temos o desafio de reduzir as taxas de juros e isso será feito com a nova âncora fiscal", disse o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), em discurso alinhado com o de Lula, que tem criticado a atuação do Banco Central.
Lula marca um início de governo com popularidade inferior à registrada nas suas duas passagens anteriores pelo Palácio do Planalto. Nos 90 dias de 2003, ele era aprovado por 43%, com apenas 10% de reprovação, enquanto a marca foi a 48% e 14%, respectivamente, no mesmo período em 2007.
Randolfe afirmou ainda que "parece anacrônico fazer essa comparação com circunstâncias e ambientes políticos tão distintos". Segundo ele, o quadro de polarização política ainda tem efeitos na avaliação do governo, mas será diluído com a melhoria da vida da população e da economia.
Essa avaliação também se alinha à do secretário-geral do PT, Henrique Fontana. "Levando em conta que herdamos o governo do país com a economia em profunda crise e a sociedade dividida pela política do ódio, da intolerância e das fake news, o resultado da pesquisa é bom. É preciso mais tempo para unir e reconstruir o país. A cada mês a situação vai melhorar", comentou Fontana.
Deputado da base governista, Orlando Silva (PC do B) afirmou que "o Datafolha sobre o início de governo mostra que o país continua polarizado, como, aliás, é visível a olho nu". "Porém, os 38% de ótimo e bom só perdem para o próprio Lula e Dilma 1. 30% de regular é viés de aprovação", afirmou.
Em comparação à marca de 90 dias de outros presidentes em primeiro mandato, a aprovação de Lula é semelhante à de Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 39% em 1995), Fernando Collor (PRN, 36% em 1990) e Itamar Franco (PMDB, 34% em 1992). Fica abaixo da sucessora, Dilma Rousseff (PT), que teve 47% de ótimo/bom em 2011.
Na oposição, Ciro Nogueira, ex-ministro da Casa Civil (governo Bolsonaro) e líder da minoria no Senado, disse que a pesquisa "comprova, acima de qualquer dúvida razoável, que o governo Lula é um tigre de papel".
"Mesmo com toda a cobertura absolutamente a favor (diferente do começo de Bolsonaro), o governo já está ladeira abaixo. Conclusão: o governo não resiste a uma crise de um mês de críticas. Derrete."
O resultado da pesquisa mostra a desaprovação a Lula igual à registrada por Jair Bolsonaro (PL) no mesmo momento de seu governo, em 2019, repetindo assim o que foi o pior desempenho desde a redemocratização de 1985 entre presidentes em primeiro mandato.
Lá, em meio a diversas crises, o ex-presidente marcava 30% de avaliação ruim/péssimo, mas era menos aprovado do que o petista, com 32% de ótimo/bom. Era regular para 33%.
Consideram a gestão de Lula regular agora outros 30%. Não souberam responder 3% —entre os 2.028 eleitores entrevistados pelo instituto na quarta (29) e na quinta (30) em 126 cidades. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
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