General elogia inteligência emocional de Lula e decisão que evitou 'noite de sangue' no 8/1

Dutra diz que desmonte do acampamento era de 'alto risco' porque local estava escuro, tinha degraus e facas de churrasco

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O general Gustavo Henrique Dutra, chefe do CMP (Comando Militar do Planalto) em 8 de janeiro, afirmou que admira a inteligência emocional do presidente Lula (PT) e elogiou o aval à decisão de adiar o desmonte do acampamento em frente ao quartel-general do Exército para a manhã seguinte.

Em depoimento à CPI da Câmara Legislativa do DF nesta quinta-feira (18), Dutra detalhou as conversas que teve com Lula, ministros e o ex-comandante do Exército na noite de 8 de janeiro, após os ataques golpistas contra as sedes dos três Poderes.

"Ele [Lula] falou: general, são criminosos, tem que ser todos presos. [Eu disse] presidente, estamos todos no mesmo passo, estamos todos indignados iguais, serão presos; só que, até agora, nós só estamos lamentando dano ao patrimônio. Se nós entrarmos agora sem planejamento, podemos terminar essa noite com sangue", afirmou.

General Dutra durante depoimento à CPI da Câmara Legislativa do DF sobre o 8/1 - Gabriela Biló/Folhapress

"O presidente Lula, eu tenho uma admiração pela inteligência emocional dele. Ele na mesma hora falou: seria uma tragédia. E falou assim: general, isola a praça e prende todo mundo amanhã. Eu virei: presidente, muito obrigado pela compreensão do senhor. Dentro das possibilidades, uma boa noite. Ele virou: o ministro Múcio está aí com o senhor? Eu disse: Não. Ele disse: Deveria estar. E desligou o telefone."

O Palácio do Planalto queria que os vândalos que voltaram para o acampamento fossem presos no próprio dia 8, mas Dutra argumentou que a operação tinha "alto grau de risco" e demandava planejamento.

Ele disse à CPI que havia espetos e facas de churrasco no local, que as pessoas estavam cansadas e que poderiam até morrer afogadas no lago da Praça dos Cristais, onde o grupo estava acampado.

"Ele [o então interventor Ricardo Cappelli] virou pra mim e disse assim: general, o senhor está me dizendo que eles [vândalos] estão armados? Eu disse: não, senhor, doutor Ricardo. Eu estou dizendo para o senhor que a praça dos Cristais não tem iluminação adequada para uma operação noturna, que a praça dos Cristais tem várias pedras portuguesas, que a praça dos Cristais tem degrau", disse Dutra.

"Tem um lago no meio da praça dos Cristais. Que no acampamento ainda tem espeto de churrasco, faca de churrasco. As pessoas estão cansadas. Tem mulher, tem idoso. Se nós entrarmos sem planejar, vai ter gente que pode morrer até afogada no lago."

Dutra defendeu a tese ao secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, designado por Lula como interventor na segurança pública do Distrito Federal após os ataques do dia 8.

Em depoimento à Polícia Federal, o general já havia afirmado que Lula concordou com sua sugestão de desmontar o acampamento apenas na manhã do dia 9 de janeiro. A conversa entre os dois foi revelada pela Folha em janeiro.

Diferentemente do que disse o general à CPI, pessoas próximas ao presidente relataram à reportagem em janeiro que o Exército comunicou a Lula que havia pessoas armadas no acampamento.

O Comando Militar do Planalto é responsável pela área do QG, em Brasília, e pelo chamado BGP (Batalhão da Guarda Presidencial), que fica à disposição do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) no Palácio do Planalto.

Dutra afirmou ainda que "houve uma maldade" com as pessoas que passaram a noite acampadas porque nenhuma delas sabia que seria presa. Segundo ele, os vândalos acreditavam que a área tinha sido cercada pelo Exército para protegê-los.

O ex-comandante militar do Planalto também rebateu a informação do governador do DF, Ibaneis Rocha, e de outras autoridades do governo local de que eles tentaram desmontar o acampamento no dia 29 de dezembro.

Dutra disse que a operação era apenas para combater ilícitos, como "gambiarra" de água e de luz, e não para acabar com as instalações definitivamente. A ação foi cancelada por determinação do Exército.

O general afirmou à CPI que, por alguma coincidência, "chegou muita gente" entre os dias 28 e 29. Ele disse que recebeu uma ordem, por telefone, para interromper a ação, sem deixar claro se a decisão foi do então comandante do Exército.

"O acampamento, que amanhecia com 300 pessoas, naquela manhã do dia 29 já tinha mais mil, mil e poucas pessoas. E quando o DF Legal [Secretaria de Proteção à Ordem Urbanística] chegou houve o acirramento dos ânimos", declarou.

A Folha acompanhou a ação no dia. O então comandante da Polícia Militar do DF, Fábio Augusto Vieira, disse que havia colocado um batalhão de 500 policiais preparados para a operação quando o Exército recuou.

A CPI aprovou nesta quinta um convite ao general Gonçalves Dias, ministro do GSI até abril, quando vieram a público trechos das câmeras de segurança do Palácio do Planalto.

A comissão da Câmara Legislativa também aprovou a convocação do ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.