Descrição de chapéu Folhajus

Uso de dinheiro vivo era para pagar pequenos fornecedores, diz defesa de Bolsonaro

Saques chegaram a R$ 644 mil ao longo do mandato; ex-secretário afirma que Michelle usava cartão de amiga porque ex-presidente é 'pão duro'

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Brasília

A defesa de Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta segunda-feira (15) que a utilização de dinheiro vivo para pagamento de despesas do ex-presidente e da família durante seu mandato à frente do Executivo serviu para bancar custos com pequenos fornecedores.

Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, afirmou que será contratado um perito para "evidenciar que não há nenhum desajuste entre entradas e saídas de recursos" da conta do ex-presidente em meio às apurações em curso na Polícia Federal.

"Não há cruzamento de saques, 100% do custo de vida da família do presidente saiu exclusivamente da conta pessoal do presidente", disse.

Jair Bolsonaro e Michelle em evento em São Paulo - Carla Carniel/Reuters

A defesa apresentou uma planilha de valores que teriam sido sacados da conta pessoal de Bolsonaro entre 2019 e 2022.

Em alguns meses, como janeiro de 2022, o montante chegou a R$ 25 mil, ainda de acordo com os advogados. Em abril de 2019, foram sacados R$ 25,3 mil. A defesa disse, porém, que em outros casos o valor foi bem abaixo, como R$ 6 mil em julho de 2020 e nada em junho do mesmo ano.

O valor total que consta na planilha apresentada pelos advogados, referente aos quatro anos de governo Bolsonaro, é de R$ 644 mil.

A PF diz ter identificado uma possível articulação para desvio de dinheiro público no governo Bolsonaro a pedido da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Segundo a PF, a suspeita envolve a assessoria da esposa do ex-presidente e os seus funcionários da Ajudância de Ordens da Presidência, que foi chefiada por Mauro Cid.

Em setembro do ano passado, a Folha revelou que a PF havia encontrado as transações suspeitas após analisar dados encontrados no celular e na nuvem de Cid, que foi braço direito de Bolsonaro no governo.

Como revelado pelo UOL no sábado (13), áudios de conversas de duas assessoras da primeira-dama, entre si e com Cid, sugerem preocupação com os pagamentos das contas de Michelle.

Procurados, assessores da família Bolsonaro não se manifestaram na ocasião.

Na investigação, a PF apontou que os investigados realizavam depósitos em espécie e de forma fracionada, utilizando em grande parte terminais de autoatendimento e depósitos em dinheiro na conta de Cid.

Ao cruzar transações, a PF descobriu valores que custeavam um cartão de crédito em nome de Rosimary Cardoso Cordeiro, mas utilizado por Michelle.

Nesta segunda, Wajngarten afirmou que a ex-primeira-dama utilizava o cartão da amiga porque, segundo ela, Bolsonaro é "muito pão duro".

"Ela aceita esse cartão em novembro de 2011. Como funcionava: dona Michelle fazia pequenas compras e reembolsava mês a mês a Rosimary", disse, antes de afirmar que a defesa apresentará todos os reembolsos realizados.

"O cartão permaneceu vigente até agosto de 2021, quando, no meio do mandato, o banco ofereceu um cartão a ela e ela não mais necessitava desse cartão adicional", disse.

Wajngarten afirmou que não houve nenhuma irregularidade na atuação do ajudante de ordens e que os saques feitos na conta de Bolsonaro serviram para pagamento de despesas familiares.

"Quando existente o CNPJ do fornecedor, o presidente pagava os boletos e todos os extratos serão apresentados pela defesa."

Segundo ele, "no caso de pequenos fornecedores, fornecedores informais ou não possuidores de CNPJ", Bolsonaro sacava "através do seu ajudante de ordem" alguns valores que estão em planilha e que, diz, serão colocados "à disposição da imprensa oportunamente".

A PF pediu a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telemático de um ajudante de ordens de Bolsonaro para investigar transações entre ele e uma empresa com contratos do governo federal, um deles custeado com dinheiro de emenda parlamentar.

Os pedidos foram autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). As solicitações da PF têm como base as mensagens de Mauro Cid.

A PF encontrou indícios de transações suspeitas entre Luís Marcos dos Reis, ajudante de ordens do ex-presidente, e a empresa Cedro Libano Comércio de Madeira e Materiais de Construção.

Luís dos Reis foi um dos presos no último dia 3 na operação Venire, que investiga a inserção fraudulenta de dados no sistema de vacinação do Ministério da Saúde.

Segundo a PF, o Portal da Transparência mostra que, de 2020 a 2022, durante o governo Bolsonaro, a Cedro Líbano recebeu recursos federais por meio de contratos com a Universidade Federal do Espírito Santo, Instituto Federal de Tocantins e Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba).

Wajngarten, porém, afirmou que Bolsonaro não sabe quem é Reis. "Presidente nem conhece essa pessoa", afirmou.

O ex-secretário também falou sobre um depósito de R$ 400 mil na conta de Cid que, segundo ele, "não tem nada a ver" com Bolsonaro nem Michelle e que seria "herança da esposa do Cid".

A defesa de Bolsonaro afirmou que o ex-presidente abriu uma conta bancária nos EUA por medo de Lula não saber conduzir a economia do país, o que poderia tornar o Brasil um local ruim para investimentos.

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