'Não desistam, vou até o fim', diz Deltan a apoiadores em ato sob gritos de 'fora, Zanin'

Deputado cassado afirma em Curitiba que 'grandes manifestações começaram com manifestações menores'

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Curitiba

O deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) pediu a apoiadores neste domingo (4), em Curitiba, que não desistam e disse que vai "lutar até o fim" após a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que cassou seu mandato.

O ex-coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato do Paraná participou de ato no centro da cidade, na Boca Maldita, região acostumada a abrigar comícios.

"Encontrei pessoas durante a Lava Jato que me pediam para não desistir. Agora eu vou pedir para vocês: não desistam. Grandes manifestações começaram com manifestações menores", disse Deltan. "Preciso ser franco. Sozinho eu não vou conseguir. Preciso de vocês para fazer a transformação", afirmou.

O deputado recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra a cassação do seu mandato na quinta-feira (1º). Mas ele diz ainda acreditar que a Mesa Diretora da Câmara Federal possa não chancelar a decisão de 16 de maio do TSE.

Deltan Dallagnol em ato contra sua cassação na Boca Maldita, centro de Curitiba - Catarina Scortecci/Folhapress

O ato com Deltan ocupou apenas a primeira quadra do calçadão da rua 15 de Novembro. Organizadores chegaram a anunciar um público superestimado, de 10 mil manifestantes. A PM não faz mais esse tipo de estimativa.

Embora não estivesse vazia como a de São Paulo, a manifestação na capital paranaense ficou muito distante dos principais atos que costumam ser realizados na Boca Maldita —um comício de Lula (PT) nas eleições de 2022, por exemplo, chegou a ocupar perto de quatro quadras.

Neste domingo, no caminhão de som, um grande cartaz trazia a foto, os endereços das redes sociais e os telefones dos gabinetes dos deputados federais da Mesa Diretora da Câmara.

Chamado de "herói da Lava Jato" pelos organizadores, Deltan iniciou seu discurso afirmando que lutou contra o sistema de corrupção, que agora está reagindo.

"Desonroso não é lutar e perder. Desonroso é não lutar pelo que nós acreditamos. Eu ouvi a palavra impossível várias vezes na minha vida. Me disseram que era impossível colocar bandidos na cadeia e recuperar dinheiro desviado no Brasil. Nós conseguimos", disse.

"Me disseram que era impossível fazer o povo se interessar por política, e nós vemos uma multidão aqui que sabe o nome dos ministros do Supremo e que não sabe o nome dos jogadores da Seleção. A gente viu o impossível acontecer."

O deputado cassado se pronunciou durante quase 10 minutos. Parlamentares que discursaram antes dele falaram em "perseguição a políticos conservadores" e pediram união da direita.

Deltan resgatou sua atuação na Lava Jato e criticou Lula. Disse que não desejava morar num país onde "o presidente indica amigo para o STF e estende tapete vermelho para ditador", em referências ao advogado Cristiano Zanin e ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.

Ao longo do ato, o público também gritou "fora, Zanin" e "fora, Pacheco", criticando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Deltan recebeu apoios de políticos locais e também de parlamentares de outros estados. No caminhão de som, ao lado dele, estavam o senador Eduardo Girão (Novo-CE), a presidente do Podemos, deputada federal Renata Abreu (SP), e os deputados federais Abilio Brunini (PL-MT), Gilson Marques (Novo-SC), Dr. Frederico (Patriota-MG) e Sargento Portugal (Podemos-RJ).

"Nós vamos lutar para que o nosso país não seja um país de dois Sergios. Um Sergio [Moro] que é acusado por uma piada de festa junina, e outro Sergio [Cabral] que desviou milhões e está livre e solto lá no Rio de Janeiro", acrescentou ele. Aliado de Deltan, o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) não participou do ato.

"Não vou desistir do nosso país. Se cassarem uma cabeça, virão outras três no Paraná, três em outros estados. Vamos encher o Congresso Nacional. Para que, dentro da democracia, a gente faça a transformação do que a gente sonha", disse ele.

Em referência a uma recente fala do ministro Gilmar Mendes sobre a "República de Curitiba", Deltan também disse que "Curitiba não é o germe do fascismo". "É o germe do trabalho, do combate à corrupção, da liberdade, da estratégia da mudança."

"A gente não vai construir o Brasil que a gente sonha se a gente nos dobrar ao arbítrio, ao abuso e à corrupção. Se a gente cair nos métodos errados da vingança ou no outro oposto, nos métodos errados da omissão. Vamos buscar o caminho do meio, o caminho da verdade e da justiça", afirmou ele.

Cartazes levados pelo partido Novo pediam "equilíbrio entre os Poderes" e "fim dos abusos do Judiciário". Integrantes do partido também distribuíam panfletos sobre um abaixo-assinado a favor de uma CPI sobre abuso de autoridade.

No ato, também havia frases em inglês em referência à cassação de Deltan: "Political persecution is not justice" e "344 thousand silenced voices", registravam os cartazes.

Gislaine Masoller, coordenadora do movimento Vem Pra Rua em Curitiba, disse à Folha que se trata de um ato de "eleitores indignados". "Deltan é filho do Paraná e foi injustiçado com uma cassação inconstitucional. Nós tivemos os votos sequestrados", afirma ela.

"Queremos sobretudo conscientizar a população sobre a perseguição política que está acontecendo contra políticos de um espectro. Não é uma megamanifestação. Não era o intuito. Foi uma coisa rápida. É um ato público", disse ela.

Na Boca Maldita, integrantes dos partidos Podemos e Novo, e também de movimentos como Vem Pra Rua, se revezaram no microfone, antes da chegada de Deltan. "Fora PT" e "minha bandeira jamais será vermelha" estavam entre os gritos repetidos. Depois, já com Deltan em cima do caminhão de som, os organizadores puxaram "juntos com Deltan" e "meu voto não é lixo". O ato foi encerrado com o hino nacional.

O MBL (Movimento Brasil Livre) do Paraná ensaiou participar do ato, mas desistiu na véspera. Em nota pública, o MBL afirmou que Deltan foi cassado "em um ato de arbítrio por parte do TSE", mas que se retirava do ato de 4 de junho porque se viu "isolado na divulgação" da manifestação.

Segundo o MBL, a manifestação estava sendo "sabotada por algumas alas do bolsonarismo". "Mesmo da parte do próprio Deltan, temos visto o seu esforço de se dissociar e se distanciar do MBL", conclui a nota.

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