Pressão de centrão põe em risco recorde de mulheres no 1º escalão, mas governo resiste

Presidente sinalizou manter ministras na Saúde e Esportes, mas pode ainda trocar Luciana Santos; Gleisi defende equilíbrio entre 'matemática e simbólico'

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Brasília

A pressão de partidos do centrão por mais ministérios pode custar ao presidente Lula (PT) a perda do recorde de mulheres no primeiro escalão, após pouco mais de seis meses de mandato.

Na sexta-feira (14), o petista oficializou a segunda troca de seu governo, ao demitir Daniela Carneiro e nomear Celso Sabino no Turismo. Com a mudança, há 10 mulheres nos 37 postos da Esplanada.

Lula em evento na Bélgica - Zheng Huansong-18.jul.23/Xinhua

O patamar é o mesmo do recorde anterior, da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que chegou a ter 10 mulheres em 37 pastas. A cobiça do centrão, contudo, tem mirado cargos ocupados por ministras.

Além de Daniela, há ao menos mais um nos planos do bloco político: Ciência e Tecnologia, de Luciana Santos. Neste caso, a presidente nacional do PC do B não deixaria o governo, mas iria para o Ministério das Mulheres, que hoje está sob o comado de Cida Gonçalves. Com isso, o patamar de ministras cairia para nove.

Há ainda a presidência da Caixa, sob o comando de Rita Serrano, na mira das legendas. Essa troca é vista como iminente, de acordo com auxiliares palacianos.

Se as alterações forem efetivadas, Lula perderia o recorde de mulheres na Esplanada. Quando eleita primeira presidente do país, Dilma emplacou nove mulheres no primeiro escalão. Mas ainda em junho de 2011 Gleisi Hoffmann (PT) assumiu a Casa Civil, alçando o governo ao topo da lista de participação feminina no primeiro escalão.

O petista foi eleito com discurso de montar um governo que contemplasse a diversidade de gênero, cor e raça do país.

Agora auxiliares palacianos e aliados de Lula se preocupam em manter um bom número de ministras no primeiro escalão, mas dizem que isso não pode engessar politicamente o chefe do Executivo.

Presidente do PT e deputada federal, Gleisi Hoffmann defendeu à Folha a participação das mulheres, mas com essa mesma linha, dizendo não se tratar de uma questão de "matemática".

"O presidente tem consciência de que a política exige manter o equilíbrio entre a matemática e o simbólico. Manter representatividade social no governo e ao mesmo tempo buscar apoio no Congresso. É uma coisa simples, fácil? Não. Por isso ele está usando esse tempo para avaliar e decidir", disse, completando que, neste momento, tudo se trata de especulação.

Já a ministra Simone Tebet (Planejamento), que tinha como bandeira de campanha à Presidência a paridade nos ministérios e hoje está no governo, minimizou eventuais trocas, mas defendendo manter a proporcionalidade caso as mexidas se confirmem.

"Não precisamos cravar o nome de uma mulher para determinado cargo, o importante é a proporcionalidade, que nunca caia, e a representatividade. O presidente Lula e a equipe, acho, que estão antenados nisso também. Se não for especificamente nesses ministérios, que possam ser em outros ou compensados com várias outras secretarias-executivas", afirmou no último dia 12.

Por ora, ao menos uma ministra saiu da berlinda, por determinação de Lula. O Ministério dos Esportes estava na mira do Republicanos, mas Lula sinalizou a interlocutores não ter disposição de demitir Ana Moser nesta reforma ministerial.

Antes de embarcar para Bruxelas, onde participou da cúpula UE-Celac, o mandatário se reuniu com a ministra, no auge dos rumores de uma eventual demissão. Lula deu a ela a missão de viajar para a Copa do Mundo feminina na Austrália e na Nova Zelândia e oficializar a candidatura do Brasil ao próximo torneio.

Em entrevista à Record na quinta-feira (13), Lula rechaçou a ideia de que estaria trocando mulheres na Esplanada. "Primeiro que não estou tirando mulheres demais. Segundo que, se você for levar em conta o que você ouve de especulação, daqui a pouco vão me tirar", ironizou.

Outra ministra também saiu da mira dos partidos do grupo liderado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas esta contou com gestos públicos do presidente.

O centrão cobiçava o Ministério da Saúde, historicamente comandado pelo PP, e hoje sob a liderança de Nísia Trindade.

Mas Lula, em mais de uma ocasião, afastou essa possibilidade.

"Tem ministros que não são trocáveis. Tem pessoas e tem funções que são uma coisa da escolha pessoal do presidente da República. Eu já disse publicamente: a Nísia não é ministra do Brasil, ela é minha ministra", afirmou em evento de sanção da lei do programa Mais Médicos, no dia 14.

A participação das mulheres sempre foi destaque em seus discursos. "Nunca antes na história do Brasil teve tantas ministras", disse o então presidente eleito ao anunciar suas escolhidas durante a transição.

O centrão pressiona Lula por mais espaço no primeiro escalão em troca de apoio no Congresso Nacional.

No caso de Daniela, a União Brasil quis trocar a indicação para o cargo, uma vez que a ministra pediu desfiliação da legenda.

O chefe do Executivo, ainda assim, manteve a ministra no cargo por um mês e meio, enquanto o partido terminava as negociações com o Planalto pelo segundo escalão.

Em outra frente, as indicações de Lula ao STF (Supremo Tribunal Federal) também enfrentam questionamentos por representatividade de gênero.

Na sucessão de Ricardo Lewandowski, Lula já emplacou seu advogado, Cristiano Zanin, aprovado em sabatina no Senado no final de junho.

Na segunda vaga, por ocasião da aposentadoria da ministra Rosa Weber, atual presidente do tribunal, os principais cotados também são homens, incluindo o advogado-geral da União, Jorge Messias. Mas, sob pressão pública de movimentos sociais, Lula colhe informações sobre possíveis candidatas.

De acordo com aliados, Lula deverá levar em conta os mesmos atributos da primeira escolha: jovem, leal, sem medo de enfrentar temas que gerem desgaste na opinião pública e com quem o mandatário tenha liberdade para conversar diretamente.

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