Bolsonaro e auxiliares usaram voo presidencial para levar joias aos EUA, afirma PF

Artigos foram transportados a bordo do avião presidencial na reta final de seu mandato, em 2022

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Brasília

As investigações da Polícia Federal identificaram que Jair Bolsonaro (PL) e auxiliares retiraram do país, no avião presidencial, pelo menos quatro conjuntos de bens recebidos pelo ex-presidente em viagens internacionais, na condição de chefe de Estado.

A PF citou dois voos, um de junho de 2022 —Bolsonaro foi aos Estados Unidos para a Cúpula das Américas— e outro de dezembro seguinte, esse na véspera de seu último dia de mandato, para assim evitar seguir o rito democrático de passar a faixa a seu sucessor eleito, o hoje presidente Lula (PT).

"As diligências realizadas indicam que Jair Messias Bolsonaro e sua equipe utilizaram o avião presidencial, no dia 30/12/2022, para evadir do país os bens de alto valor desviados, levando-os para os Estados Unidos da América", diz trecho da decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que determinou as buscas realizadas pela PF nesta sexta (11).

Jair Bolsonaro viajou para os EUA um dia antes de encerrar o mandato na Presidência - Mauro Pimentel/ AFP

Na sequência, uma vez nos EUA, afirma ainda o documento assinado por Moraes, "os referidos bens teriam sido encaminhados para lojas especializadas em venda e em leilão de objetos e joias de alto valor, situadas nas cidades de Miami/FL, Nova Iorque/NY e Willow Grove/PA".

Em outra passagem da decisão, Moraes faz menção a um relatório da polícia que também aborda a forma como os artigos de luxo foram retirados do Brasil.

"No caso específico do Kit Rose [nome dado a um dos conjuntos de joias], a saída com os bens teria ocorrido ao final de dezembro de 2022. Entretanto, em análise complementar, há elementos que indicam que o mesmo comportamento já teria ocorrido anteriormente, em junho do ano de 2022, em relação ao denomina do "Kit Ouro Branco" [referência a outro conjunto]", afirma o ministro.

São os seguintes conjuntos de presentes, apontaram os investigadores:

  • 1º conjunto: refere-se a um conjunto de itens masculinos da marca suíça Chopard contendo uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe (masbaha) e um relógio recebido pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, após viagem a Arábia Saudita, em outubro de 2021
  • 2º conjunto: trata-se de um kit de joias, contendo um anel, abotoaduras, um rosário islâmico (masbaha) e um relógio da marca Rolex, de ouro branco, entregue ao ex-presidente quando de sua visita oficial à Arábia Saudita em outubro de 2019
  • 3º conjunto: engloba uma escultura de um barco dourado, sem identificação de procedência até o presente momento, e uma escultura de uma palmeira dourada, entregue ao ex Presidente, na data de 16 de novembro de 2021, quando de sua participação oficial no Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, ocorrido na cidade de Manama, no Barém
  • 4º conjunto: um relógio da marca Patek Philippe, possivelmente recebido pelo ex-presidente, quando de sua visita oficial ao Reino do Bahrein em 16 de novembro de 2021

Entre os alvos da operação deflagrada pela PF nesta sexta está o general da reserva do Exército Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.

Além dele, as buscas da PF incluem Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, e Osmar Crivelatti, tenente do Exército e que também atuou na ajudância de ordens da Presidência.

O nome da operação da PF desta sexta, "Lucas 12:2", é uma alusão ao versículo 12:2 que diz: "Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido".

Em nota, a PF afirmou que a ação tem o "objetivo de esclarecer a atuação de associação criminosa constituída para a prática dos crimes de peculato e lavagem de dinheiro".

Quatro ordens de busca estão sendo cumpridas, em Brasília, São Paulo e Niterói (RJ).

As ações ocorrem dentro do inquérito policial das milícias digitais, em tramitação no STF (Supremo Tribunal Federal) sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

Os investigados são suspeitos de utilizar a estrutura do governo brasileiro para "desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro, por meio da venda desses itens no exterior", afirmou a polícia.

De acordo com a apuração, os valores obtidos dessas vendas foram convertidos em dinheiro e ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados, sem utilização do sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores

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