PT cobra punição de militares pelo 8/1 e urgência em limites às Forças Armadas

Resolução traz críticas veladas a Zanin e atrela corrida municipal à reeleição de Lula

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Brasília

O diretório nacional do PT decidiu cobrar publicamente a punição exemplar dos militares envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro, quando bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes.

O comando petista também optou por não barrar alianças com o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições municipais de 2024. A resolução aprovada pelos petistas ainda defende a reeleição de Lula em 2026.

O comando do PT se reuniu na segunda-feira (28). A resolução que resultou do encontro, divulgada nesta quarta-feira (30), aponta como "urgente uma tomada de posição contundente em relação ao papel dos militares em nossa democracia, delimitando suas funções ao que está previsto na Constituição".

O documento recomenda punição dos apoiadores dos ataques golpistas inclusive no âmbito militar.

O presidente Lula passa em revista a tropa em frente ao Comando da Aeronáutica
O presidente Lula passa em revista a tropa em frente ao Comando da Aeronáutica - Pedro Ladeira/Folhapress

Segundo o texto, o "comprovado envolvimento de oficiais graduados, ex-comandantes, bem como policiais militares e outros membros das Forças Armadas na sustentação da tentativa de golpe em 8 de Janeiro, não permite leniência".

"A punição exemplar dos golpistas, inclusive no âmbito militar e, quando comprovado, de oficiais de alta patente, é essencial para impedir que se volte a articular contra a democracia", acrescenta.

Por apenas dois votos, o comando petista decidiu também não vetar alianças com o partido de Bolsonaro no pleito municipal do próximo ano. Ficam permitidas coligações com candidatos do PL, desde que eles apoiem Lula e sua reeleição.

A resolução do PT não cita o PL, limitando-se a proibir apoio a candidaturas identificadas com o bolsonarismo.

"É vedado apoio a candidatos e candidatas identificados com o projeto bolsonarista", diz o documento.

Essa redação foi submetida à votação no diretório petista, tendo sido aprovada por 29 votos contra 27. Teve como base um texto apresentado pela corrente CNB (Construindo um Novo Brasil), tendência majoritária integrada por Lula.

A esse texto-base, tinha sido apresentada uma emenda que proibia expressamente alianças com o partido de Bolsonaro.

"É vedado apoio a candidatos e candidatas identificados com o projeto bolsonarista. Igualmente é vedado o apoio ou recebimento de apoio por parte do partido ao qual Bolsonaro é filiado", dizia a emenda, que foi rejeitada.

Secretário de comunicação do PT, o deputado federal Jilmar Tatto (SP) diz não haver um impeditivo em relação ao PL, apenas ao projeto bolsonarista. "Se o candidato a prefeito declarar que estará conosco em 2026, mesmo estando no PL, é permitido [aliar-se]".

Tatto afirma existirem ministros que votaram em Bolsonaro e diz haver candidatos a prefeituras que hoje estão com Lula, ainda que filiados ao PL. "Isso é permitido", diz.

Em julho, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, havia afirmado em entrevista à Folha que o governo Lula poderia dar a setores do PL cargos de segundo escalão nos estados.

Uma ala do partido de Bolsonaro é mais identificada com o centrão, grupo político que tem se aproximado de Lula no Congresso.

A resolução do PT desta semana defende explicitamente a reeleição de Lula. Segundo Tatto, é a primeira vez que o partido apoia publicamente em documento a reeleição de Lula.

A proposta é mencionada em 3 dos 37 parágrafos. Já de início diz que "as eleições municipais de 2024 demarcam um momento estratégico para a construção de uma sólida aliança popular e democrática que promova a recondução do governo Lula em 2026".

A hipótese de reeleição tinha sido rechaçada pelo próprio Lula durante a campanha do ano passado, mas, após a vitória, setores do novo governo passaram a defender publicamente uma nova candidatura do atual presidente, que está com 77 anos.

A defesa de um quarto mandato para Lula é citada pelo PT como um pacto de longo prazo para distribuição de renda no Brasil. A resolução é encerrada com a proposta de "mobilização social no maior número possível de municípios para a construção política de muitas vitórias eleitorais para mudar a realidade das cidades e localidades, contribuir com as transformações necessárias no país, para reeleger Lula em 2026 e fortalecer nosso projeto democrático e popular de país".

Sem citar o nome do ex-advogado de Lula, a resolução petista traz ainda uma crítica velada ao desempenho do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Cristiano Zanin.

Indicado por Lula, Zanin tomou posse no início do mês e provocou reação de militantes petistas e simpatizantes de Lula ao votar nas últimas semanas, por exemplo, contra a descriminalização de porte de maconha para consumo pessoal.

O texto ressalta uma expectativa de que o STF reafirme os direitos dos povos indígenas no momento que retoma o julgamento do marco temporal. "Esta expectativa de uma atuação em defesa da civilização é reforçada por recentes decisões e avanços do STF neste sentido", diz o texto, que traz uma lista de votos contra os quais Zanin se manifestou.

Também sem citar o exemplo da Bahia, estado governado pelo PT, a resolução petista afirma que "a violência é um método inaceitável de ação por parte das polícias estaduais, que atinge a população mais jovem, pobre e preta do nosso país, assim como tem incidência nos próprios policiais".

"Os governadores têm a oportunidade e o desafio, junto com o governo federal, de mudar situações como essas, buscando enfrentar as organizações criminosas com base numa política maior de inteligência e investigação. Cabe ao PT ajudar nesse debate e seus desdobramentos", afirma.

Tanto Zanin como a polícia baiana foram alvo de críticas durante a reunião do diretório nacional do PT, cuja resolução diz ainda não haver sentido na proposta de reforma administrativa em tramitação no Congresso.

Na resolução, o comando petista defende a aprovação da proposta do ministro Fernando Haddad de taxação dos super-ricos e dos fundos offshores.

"Mais do que necessidade de trazer receitas ao Orçamento da União, é uma questão de justiça tributária e social, em um país onde os pobres pagam mais impostos do que os ricos", diz.

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