Atendimento a réu do 8/1 morto na Papuda demorou 40 minutos, dizem presos

Relato foi feito a defensores públicos que fizeram vistoria; responsáveis por penitenciária dizem que houve celeridade

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Brasília

A Defensoria Pública do Distrito Federal afirma em relatório que a área de saúde do Centro de Detenção Provisória 2 da Papuda estava fechada e que os presos relataram uma demora de cerca de 40 minutos no atendimento a Cleriston Pereira Da Cunha, 46, que morreu após passar mal durante o banho de sol na segunda-feira (20).

Réu sob a acusação de participação nos ataques golpistas de 8 de janeiro, ele estava preso preventivamente, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

"No dia do óbito, foi ponto facultativo no Governo do Distrito Federal, o que levou a ter menos servidores no local que o habitual e o GEAIT (área da saúde do presídio) estava fechado", diz trecho do relatório.

Vândalos golpistas invadem a praça dos Três Poderes e depredam os prédios. Na imagem, homem quebra janela do Palácio do Planalto
Golpistas após da praça dos Três Poderes; na imagem, homem quebra janela do Palácio do Planalto - Gabriela Biló - 8.jan.23/Folhapress

Segundo a Defensoria, a visita ao estabelecimento penitenciário teve como objetivo avaliar questões "relacionadas à saúde e alimentação, ao recebimento de material de higiene e contatos com familiares, dentre outras matérias atinentes à garantia dos direitos humanos".

O relatório afirma que os defensores públicos chegaram à Papuda por volta das 8h30 de terça (21) e foram levados até as celas 7, 8, 9 e 10, onde estão os presos acusados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro.

A cela de número 8 era onde estava Cleriston.

De acordo com os defensores que participaram da visita, os responsáveis pela penitenciária afirmaram que o atendimento no dia da morte foi "célere", com o acionamento imediato de Samu, Corpo de Bombeiros e integrantes da equipe médica do local.

Eles disseram que o helicóptero foi acionado, mas não pôde ser utilizado por causa das condições climáticas no dia.

Os presos deram outra versão aos defensores. Todos eles, diz o relatório, afirmaram que o atendimento foi demorado, que não havia desfibrilador e tampouco cilindro de oxigênio no local para serem utilizados nos primeiros socorros.

"Contaram que estavam reunidos no pátio, durante o banho de sol, quando o sr. Cleriston Pereira da Cunha começou a passar mal. Contaram, ainda, que a policial penal, que tomava conta deles, entrou em desespero por não saber como apoiar e passou a enviar mensagens, solicitando ajuda", diz trecho do documento.

Ainda segundo os defensores, os detentos relataram que a ajuda inicial foi dada por outros dois presos, um médico e um dentista, e que, nesse momento, Cleriston teria voltado a respirar por duas vezes.

Segundo eles, cerca de 25 minutos após o preso começar a passar mal, chegou ao local "uma médica com estetoscópio e aparelho para medir pressão arterial, instrumentos inadequados para a urgência médica".

Cleriston Pereira da Cunha, de 46 anos, morreu após ter um mal súbito durante banho de sol na Papuda
Cleriston Pereira da Cunha, de 46 anos, morreu após ter um mal súbito durante banho de sol na Papuda - Reprodução

De acordo com documento da Vara de Execuções Penais, Cleriston "teve um mal súbito durante o banho de sol" por volta das 10h.

"O Samu e o Corpo de Bombeiros foram acionados e as equipes chegaram ao local às 10h18, dando continuidade ao protocolo de reanimação cardiorrespiratória, sem êxito. O óbito foi declarado às 10h58", afirma o mesmo documento.

Procurado, o governo do Distrito Federal disse, através da Secretaria de Saúde, que a ocorrência foi "atendida prontamente pela equipe da unidade básica de saúde prisional, que iniciou o atendimento imediato tão logo constatado o desmaio". Ainda de acordo com a pasta, o Samu foi acionado às 10h05 e a equipe chegou ao local 15 minutos depois, onde já estavam bombeiros.

"O paciente, de 46 anos, fazia acompanhamento na unidade básica de saúde prisional e uso regular de medicação", afirma a secretaria.

"A Secretaria de Administração Penitenciária Seape/DF abriu procedimento administrativo e está apurando a conduta dos seus servidores e as demais circunstâncias do fato", complementa a nota. O governo distrital também diz que a unidade de saúde do centro de detenção não aderiu ao ponto facultativo.

Moraes, relator dos casos ligados aos ataques do 8 de janeiro no STF, concedeu nesta quarta (22) liberdade provisória a ao menos quatro réus que já tinham parecer favorável da PGR (Procuradoria-Geral da República) para deixar a prisão.

A Folha mostrou na terça que um grupo de presos aguardava decisão do magistrado após a manifestação da Procuradoria pela soltura. A lista foi divulgada pela ASFAV (Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro).

A decisão de Moraes abrange os réus Jaime Junkes, Tiago dos Santos Ferreira, Wellington Luiz Firmino e Jairo de Oliveira Costa.

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