'Abin paralela' alvo da PF já foi comentada por Bebianno e pelo próprio Bolsonaro

Ex-presidente afirmou em reunião ministerial de 2020 que tinha um sistema de inteligência particular

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São Paulo

A Polícia Federal tem cumprido uma série de mandados de busca e apreensão na investigação envolvendo a chamada "Abin Paralela" do governo Bolsonaro. Esteve entre os alvos recentes o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Segundo a PF, o objetivo das novas fases é mirar pessoas que teriam sido destinatárias de informações produzidas ilegalmente pela agência. Carlos teria recebido ilegalmente informações e materiais clandestinos da Abin, segundo a apuração da PF.

Carlos Bolsonaro e Jair Bolsonaro em evento no Rio de Janeiro
Carlos Bolsonaro e Jair Bolsonaro em evento no Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli - 29.set.22/FolhaPress

A suposta realização de atividades ilegais na Abin já foi comentada por Gustavo Bebianno, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro.

O próprio ex-presidente já falou, em reunião ministerial de abril de 2020 depois divulgada, que teria um sistema de inteligência "particular".

Em live em janeiro, Bolsonaro negou a existência de uma "Abin paralela" para monitorar adversários, e desconversou sobre a frase em que citou a existência de uma inteligência extraoficial.

Ideia da Abin paralela

Em entrevista em março de 2020 ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro, afirmou que circulava no governo um plano para monitorar adversários políticos.

Bebianno afirmou que a ideia foi de Carlos e que ele, o então ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, e o então ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Alberto Santos Cruz, tiveram ciência do plano.

"Um belo dia o Carlos me aparece com o nome de um delegado federal e de três agentes que seriam uma Abin paralela porque ele não confiava na Abin", afirmou.

Segundo o ex-ministro, Bolsonaro foi aconselhado a não colocar o plano em prática.

"Muito pior que o gabinete do ódio, aquilo também seria motivo para o impeachment", afirmou. Bebianno disse não saber se a ideia de Carlos teria sido implementada ou não.

Sistema de inteligência particular

Em reunião ministerial em abril de 2020, o então presidente Bolsonaro afirmou que tinha um sistema de inteligência particular.

Ele também fez críticas à atuação do sistema de inteligência brasileiro e disse que ele desinformava.

"Eu tenho a PF que não me dá informações, eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações. A Abin tem seus problemas, tem algumas informações. Só não tem mais porque está faltando realmente... temos problemas. Aparelhamento, etc.", afirmou.

Sobre um sistema de inteligência particular, disse: "O meu particular funciona. Os outros que têm oficialmente desinformam. E voltando ao tema: Prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho".

Em live no YouTube neste domingo (28), Jair Bolsonaro negou a existência de uma "Abin paralela" para monitorar adversários.

Ele relativizou a fala da reunião ministerial na qual disse ter um sistema de inteligência particular e disse que fazia referência a contatos feitos com autoridades para entender situações ocorridas no país, sem a ocorrência de ações ilegais.

Ciência do monitoramento

Joice Hasselmann, ex-deputada pelo PSDB de São Paulo que foi eleita pelo PSL, então partido de Bolsonaro, afirmou que chegou a ouvir rumores sobre uma "Abin paralela" quando era aliada do ex-presidente. A fala se deu em uma entrevista ao Uol no último dia 25 de janeiro.

Segundo a investigação da PF, ela teria sido um dos alvos monitorados ilegalmente pela agência.

A ex-parlamentar disse que, na época, Bebianno chegou a comentar a existência da Abin Paralela, mas que ela não levou "tão a sério".

"Eu sabia desse monitoramento desde o final de 2019. O próprio Bebianno enquanto era vivo já tinha falado dessa Abin paralela comandada pelo Ramagem. Era uma das coisas que preocupavam bastante o Bebianno", disse na entrevista.

A ex-deputada disse ainda que teria ouvido uma conversa sobre o assunto entre o ex-presidente e o General Heleno, em uma ocasião na qual entrou na sala da presidência da República sem ser anunciada.

Hasselmann afirmou ter, na época, conseguido confirmar a existência da Abin paralela. Ela também teria identificado que estava sendo seguida após ter rompido com o governo. Na entrevista, a ex-deputada também afirmou que acredita que a PF ainda vai descobrir a existência de grampos ilegais feitos pelo governo.

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