PF faz buscas contra Carlos Bolsonaro e mira núcleo político da 'Abin Paralela'

Nessa nova ação, Polícia Federal mira pessoas que foram destinatárias das informações produzidas pela agência

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Brasília e Rio de Janeiro

A Polícia Federal cumpriu na manhã desta segunda-feira (29) mandados de busca e apreensão para avançar na investigação sobre a atuação da chamada "Abin Paralela" no governo de Jair Bolsonaro (PL).

Um dos alvos é Carlos Bolsonaro (Republicanos), vereador do Rio de Janeiro e filho do ex-presidente. Na nova ação, a PF mira pessoas que foram destinatárias das informações produzidas de forma ilegal pela agência de inteligência do governo federal.

O vereador Carlos Bolsonaro, em Brasília, em imagem de 2021
O vereador Carlos Bolsonaro, em Brasília, em imagem de 2021 - Pedro Ladeira - 27.jan.2021/Folhapress

Segundo a PF, as medidas cumpridas têm como objetivo "avançar no núcleo político, identificando os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Abin [Agência Brasileira de Inteligência]".

No gabinete de Carlos, no Rio, os agentes levaram um notebook, computadores desktop e documentos. Já na casa da família em Angra dos Reis (RJ) o celular e um outro computador de Carlos foram apreendidos pela PF.

Outros alvos da operação são a assessora Luciana Paula Garcia da Silva Almeida e Priscila Pereira e Silva, ex-assessora de Alexandre Ramagem, chefe da Abin sob Bolsonaro e alvo da operação da PF na última semana. A defesa de nenhum deles se manifestou até agora.

Relatórios produzidos pela agência sob Bolsonaro e o uso do software espião FirstMile estão no centro da investigação da PF.

Os investigadores afirmam que oficiais da Abin e policiais federais lotados na agência monitoraram os passos de adversários políticos de Bolsonaro e produziram relatórios de informações "por meio de ações clandestinas" sem "qualquer controle judicial ou do Ministério Público".

O programa espião investigado pela PF tem capacidade de obter informações de georreferenciamento de celulares. Segundo pessoas com conhecimento da ferramenta, ela não permite os chamados "grampos", como acesso a conteúdos de ligação ou de trocas de mensagem.

Além de Carlos, os policiais também investigam suposto uso da agência para favorecer Flávio e Jair Renan.

Polícia Federal faz buscas na casa de Carlos Bolsonaro, no Rio de Janeiro
Polícia Federal faz buscas na casa de Carlos Bolsonaro, no Rio de Janeiro - Reprodução/Globonews

Em live neste domingo (28), ao lado dos filhos Flávio, Carlos e Eduardo, Bolsonaro negou que tenha criado uma "Abin paralela" para espionar adversários. Já nesta segunda o ex-presidente disse à coluna Mônica Bergamo, da Folha, que a intenção da operação é a de "esculachar" com ele e sua família.

"Querem me esculachar, me fazer passar por constrangimento", diz ele. "Estão jogando rede, pescando em piscina. Não tem peixe", completou Bolsonaro.

Flávio e Eduardo também reagiram à operação, argumentando que a ação foi ilegal e cinematográfica.

Um dos locais em que a PF cumpriu mandado de busca e apreensão nesta segunda (29) é a casa de Bolsonaro em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro. O local entrou na lista de buscas da PF após a descoberta que Carlos estava na casa, de onde transmitiu uma live com o pai neste domingo (28).

Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, o vereador acordou com a notícia de que era um dos alvos da PF quando se preparava para passar mais um dia na praia com o pai em Mambucaba, uma vila histórica de Angra.

Ainda segundo a coluna, a casa estava vazia pela manhã quando a Polícia Federal chegou ao local. Bolsonaro e seus filhos haviam saído para pescar e ainda não haviam retornado. Imagens divulgadas pela GloboNews no final da manhã mostraram Bolsonaro e seus filhos do lado de fora da casa acompanhando a saída de agentes da PF que cumpriram as buscas na residência.

Além da casa de Angra, são alvos da PF o gabinete do vereador e uma residência no Rio de Janeiro. A ação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e também são cumpridos mandados em Brasília (DF), Formosa (GO) e Salvador (BA).

Mulher de costas assiste carro da PF saindo de garagem de condomínio
Carro da PF sai do Condomínio Vivendas da Barra, no Rio, um dos endereços de Carlos Bolsonaro alvos de busca e apreensão - Márcia Foletto/Agência O Globo

A ação desta segunda-feira é um desdobramento das operações Vigilância Aproximada, deflagrada pela Polícia Federal na última quinta-feira (25), e da Última Milha, realizada em outubro de 2023.

Na operação da semana passada, o foco principal foram policiais que atuavam na Abin, em especial no CIN (Centro de Inteligência Nacional), estrutura criada durante a gestão Bolsonaro. Ao todo, sete policiais federais foram alvos da ação. Foram expedidos mandados de busca e apreensão inclusive contra Ramagem, diretor da agência na época em que o uso ilegal do software teria ocorrido.

O CIN foi criado durante a gestão de Ramagem e teria produzido relatórios e utilizado o FirstMile em favor de interesses do governo Bolsonaro. Ramagem é muito próximo da família Bolsonaro, em especial de Carlos Bolsonaro, alvo da PF nesta segunda-feira (29).

A ligação entre os dois foi um dos motivos de Ramagem ter seu nome barrado por Moraes, do STF, para o comando da PF, em 2020. À época, a relação de amizade dos dois já era conhecida e os dois passaram juntos a festa da virada de ano de 2019 para 2020.

Foto postada por Carlos Bolsonaro em rede social mostra à direita do vereador o delegado Alexandre Ramagem na festa da virada de 2019 para 2020
Foto postada por Carlos Bolsonaro em rede social mostra à direita do vereador o delegado Alexandre Ramagem na festa da virada de 2019 para 2020 - Reprodução/Carlos Bolsonaro no Instagram

As suspeitas que vieram à tona na operação da semana passada causaram reação política em Brasília, com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, falando em "um dos maiores escândalos da história" e a "ponta de um novelo que envolveu dezenas de milhares de pessoas".

Por outro lado, o caso deve causar ainda mais tensão na relação de parte do Congresso com o Supremo, já que foi a segunda operação em pouco mais de uma semana com buscas dentro da sede do Legislativo.

Bolsonaristas tentam articular medidas para rever os poderes do STF na volta do recesso, em fevereiro, e dizem que há perseguição política.

Na semana passada, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) escreveu em rede social: "Mais um capítulo da ditadura do Judiciário. Cabe ao Senado brecar esta perseguição e preservar as liberdades".

De acordo com a PF, a "Abin Paralela" criada na gestão Ramagem tentou atrelar Moraes e o também ministro do STF Gilmar Mendes à facção criminosa PCC. Para a corporação, as informações sobre a tentativa de ligar os ministros ao PCC foram encontradas em documentos apreendidos na Abin.

"O arquivo Prévia Nini.docx mostra a distorção, para fins políticos, da providência, indicando a pretensão última de relacionar a advogada Nicole Fabre e os Ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital – PCC, alimentando a difusão de fake news contra os magistrados da Suprema Corte", disse a PGR sobre os documentos achados pela PF.

A PF afirma que a Abin sob Ramagem também se valeu do software FirstMile para monitorar o então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e a ex-deputada Joice Hasselmann, ambos desafetos políticos de Bolsonaro.

Erramos: o texto foi alterado

Jorge Fernandes, chefe de gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, não foi alvo de busca e apreensão nesta segunda-feira (29), como afirmou versão anterior desta reportagem
 

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