Lula diz que golpe de 64 é história e que não quer remoer passado

Presidente também afirmou que discursos em ato de Bolsonaro foram 'muito vaselina'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O presidente Lula (PT) evitou fazer críticas mais contundentes à atuação das Forças Armadas no país e disse que prefere não ficar remoendo as consequência do golpe de 1964 porque isso "faz parte do passado" e quer "tocar o país para frente".

Ele ainda acrescentou que em nenhum outro momento da história os integrantes das Forças foram tão punidos, como estão sendo atualmente, pelo envolvimento em tramas golpistas de 2022 e por participação nos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Lula durante entrevista ao jornalista Kennedy Alencar nesta terça-feira (27) - Ricardo Stuckert/Divulgação Presidência

Lula concedeu uma entrevista para o programa "É Notícia", da RedeTV!, que foi ao ar na noite desta terça-feira (27). O petista foi então questionado sobre qual deveria ser a posição das Forças Armadas em relação a eventuais celebrações dos 60 anos do golpe militar, no próximo dia 31 de março.

"Eu, sinceramente, vou tratar da forma mais tranquila possível. Eu estou mais preocupado com o golpe de 8 de janeiro de 2023 do que com 64. Eu tinha 17 anos de idade, estava dentro da metalúrgica Independência quando aconteceu o golpe de 64. Isso já faz parte da história. Já causou o sofrimento que causou. O povo já conquistou o direito de democratizar esse país", afirmou.

"Os generais que estão hoje no poder eram crianças naquele tempo. Alguns acho que não tinham nem nascido ainda naquele tempo."

"O que eu não posso é não saber tocar a história para frente, ficar remoendo sempre, remoendo sempre, ou seja, é uma parte da história do Brasil que a gente ainda não tem todas as informações, porque tem gente desaparecida ainda, porque tem gente que pode se apurar. Mas eu, sinceramente, eu não vou ficar remoendo e eu vou tentar tocar esse país para frente", completou.

O presidente na sequência afirmou que a sociedade e os militares não podem ser tratados e se verem como inimigos. E acrescentou que ele está tentando reconstruir a fidelidade dentro das Forças.

Em um momento em que militares são alvos da Polícia Federal, por suspeita de envolvimento numa trama golpista para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder, Lula acrescentou que busca pessoas nas Forças Armadas com qualidade democráticas para exercerem comando.

"Em nenhum momento da história os militares foram punidos como estão sendo punidos agora. Em nenhum momento um general foi chamado pela Polícia Federal para prestar depoimento, coronel, todos, todos que provarem que participaram serão julgados", afirmou o mandatário.

O presidente também comentou o ato organizado pelo ex-presidente Bolsonaro, que reuniu milhares de pessoas na avenida Paulista, no domingo (25). Lula disse não considerar ruim a presença de diversos governadores, muitos dos quais atualmente mantêm diálogo com o Palácio do Planalto.

Participaram governadores como o goiano Ronaldo Caiado (União Brasil) e o paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), ambos com diálogo frequente com o Palácio do Planalto atualmente.

O petista fez então um paralelo com a campanha pelas Diretas Já, em que havia nos palanques políticos de diferentes regiões e alas políticas. E lembrou que todos foram eleitos com o apoio de Bolsonaro, por isso era natural que lá estivessem para apoiá-lo. Por outro lado, afirmou que a manifestação foi organizada para "defender golpistas".

Ele também acrescentou que o discurso de Bolsonaro e outros presentes foi "encomendado por advogados", por isso não avançou em críticas, com receio de consequências jurídicas. Disse que o discurso foi "vaselina".

"O que eu acho é que os discursos, como nem todo mundo fez discurso, os discursos foram muito vaselina. O discurso era um discurso recomendado pelos advogados. 'Olha, cuidado com as palavras, não fale nada que possa depor contra uma instituição, não fale nada que possa depor contra a democracia'." Então tava todo mundo, parecia um colégio de iniciantes", afirmou o presidente.

"Mas o dado concreto é que o ato foi feito para defender os golpistas. Esse é um dado concreto. O ato foi feito para defender, eles querem dar uma dimensão política, de democracia, o que eles faziam e não o que fez a Suprema Corte, porque o que eles querem passar, na verdade, é isso. A democracia é do jeito que eles queriam", completou.

Lula chegou a comparar o comportamento dos bolsonaristas com o do ex-BBB Bambam, que foi derrotado em luta de boxe para o ex-campeão Acelino Popó Freitas. Disse que agora estão todos "pianinho".

"Mas é um pouco do jeito do Bambam, o fortão, achando que pode tudo e vamos lá. Agora que a porca entortou o rabo, os bichinhos estão pianinho. Agora é democracia, agora é estado de paz. Eles não têm paz. Eles mentem o tempo inteiro, mentem o tempo inteiro, mentem. Se a gente pudesse medir por quilômetro quadrado a quantidade de mentiras que eles contam, a gente daria uma volta em todas as galáxias, e ainda sobrava mentira", afirmo o presidente.

Lula também criticou o pedido de anistia feito pelo ex-presidente para os presos pelo 8 de janeiro. "Quando o cidadão lá pede anistia, ele tá dizendo: 'Não, perdoe os golpistas'. Tá confessando o crime."

O petista ainda afirmou que a manifestação foi um "protesto contra a democracia". "Eles [os presos pelo 8/1] nem foram julgados ainda, eles estão presos como garantia da paz e da ordem deste país. Ainda não descobriu quem mandou, financiou, porque houve uma tentativa de golpe."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.