O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), foi vaiado nesta quinta (8) ao participar do anúncio de investimentos do governo federal com a presença do presidente Lula em Belo Horizonte. Zema também ouviu gritos de "vacina, sim".
Na semana passada, o governador divulgou nas redes sociais vídeo afirmando que não será obrigatório comprovar vacinação para matrícula na rede escolar estadual.
Ministros de Lula que também participaram do evento, como Nísia Trindade (Saúde) e Camilo Santana (Educação), defenderam a vacinação das crianças. "Vamos vacinar todas as crianças, essa é a determinação do governo Lula", disse o ministro.
Zema, durante discurso, afirmou ser necessário compreender que as pessoas pensam de forma diferente.
"Em toda a minha vida aprendi a trabalhar com quem pensa diferente", afirmou. O governador, que sentou ao lado de Lula, deu boas vindas ao presidente durante sua fala. "As críticas são naturais. As pessoas pensam diferente", disse Zema.
O presidente, por sua vez, rebateu críticas de que tenha demorado para viajar a Minas Gerais no atual mandato. "Duvido que alguém tenha andado tanto o estado como eu", afirmou, citando viagens que fez antes e durante suas eleições para o cargo.
"Estive com muitos governadores. A gente não faz diferença de tratamento, seja para governador, seja para quem for."
Lula e Zema mantiveram inicialmente clima frio lado a lado na mesa das autoridades. O governador, logo após seu discurso, entregou alguns papéis ao presidente e emprestou uma caneta a ele. Após uma hora e 40 de cerimônia, porém, os dois começaram a conversar e não pararam mais.
O anúncio dos investimentos ocorreu em cerimônia que poderia ser considerada como antimilitância. O local escolhido tem capacidade para cerca de 800 pessoas e havia cadeiras vazias. Não havia uma bandeira sequer no auditório. Boa parte dos presentes era formada por dirigentes sindicais e assessores de políticos.
Nem mesmo as tradicionais fileiras de parlamentares e lideranças colocadas no palco atrás da mesa das principais lideranças, no caso Lula e ministros, foi formada.
Ainda assim, Zema não escapou das vaias.
Alfinetada
O governador aproveitou o discurso para, em tom de cobrança e alfinetando, tocar nos pontos que usou como argumento para um pedido de reunião com o presidente: a dívida de R$ 160 bilhões do estado com a União e a repactuação do acordo da tragédia de Mariana.
Zema lembrou que a tragédia de Brumadinho, que ocorreu em 2019, já teve um acordo para investimentos. "Não tivemos o mesmo desfecho para Mariana", afirmou.
Em relação a esta tragédia, ocorrida em 2015, os acordos iniciais foram feitos durante as gestões petistas de Dilma Rousseff e Fernando Pimentel. Uma tentativa de repactuação está em andamento, mas ainda não foi concluída.
Sobre a dívida, Zema disse que "a única possibilidade é a adesão ao RRF (Regime de Recuperação Fiscal)," programa do governo federal. "Tenho certeza que encontraremos uma solução para o problema", declarou.
Escalado para falar após o governador, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) disse que a proposta apresentada, o RRF, não é uma solução.
A adesão ao programa passa por projeto de lei a ser aprovado na Assembleia. Segundo sindicalistas, o funcionalismo público ficaria sem reajuste salarial, o que é negado pelo governo.
"Vamos conversar depois do carnaval para resolver o problema", disse Pacheco. O outro caminho sob estudo no Planalto para a dívida do estado é a federalização de estatais mineiras como a Cemig.
Prefeitura
Lula foi recebido no aeroporto da Pampulha na tarde desta quarta (7) pelo prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), que imediatamente, ainda próximo ao avião, fez uma foto com o presidente e postou nas redes sociais.
"A parceria com o governo federal é fundamental para a execução de obras e para a chegada de novos investimentos em BH. Muito feliz por receber o presidente Lula, que já demonstrou seu carinho por nossa cidade. Vem mais coisa boa por aí", escreveu, na publicação.
Apesar de evitar o tema, Fuad deverá disputar a reeleição. O PT lançou como pré-candidato à prefeitura o deputado federal Rogério Correia. No campo da esquerda, a também deputada federal Duda Salabert (PDT) é outra pré-candidata ao cargo.
Também estava no aeroporto o vice-governador de Minas Gerais, Professor Mateus (Novo). O governador Romeu Zema, que pediu encontro com Lula, estava em viagem a Brasília —questionado, o Planalto afirmou que ambos conversaram antes e durante as apresentações dos investimentos, nesta quinta.
Na noite de quarta, como faz todas as vezes em que fica de um dia para o outro na capital mineira, o presidente foi à casa do ex-ministro Walfrido dos Mares Guia, que ocupou as pastas de Turismo e Relações Institucionais no primeiro e segundo mandato de Lula, respectivamente. O ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), foi convidado para o jantar, mas não compareceu.
A AMM (Associação dos Municípios Mineiros) divulgou uma nota reclamando de ter sido "ignorada", conforme diz o texto, da agenda do governo federal em Minas nesta quinta.
"É no mínimo incompreensível a maior associação municipalista estadual do Brasil não ser convidada para um encontro do governo federal que indica a busca de uma construção federativa, em uma ação que mais se evidencia pelo viés político-partidário", afirma a associação.
O presidente da entidade, Marcus Vinícius Bizarro, é um apoiador declarado do ex-presidente Bolsonaro. Em evento de campanha em 2022, fez uma típica declaração dos apoiadores do ex-presidente. "Nossa bandeira nunca será vermelha", disse, à época.
A reportagem perguntou ao Planalto o motivo de a associação não ter sido convidada, conforme alega a entidade —não houve retorno.
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