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Eleição para vereador terá PT desfalcado e direita rachada em São Paulo

PSDB pode ter debandada e bolsonaristas querem eleger candidatos alinhados à sua cartilha

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São Paulo

A eleição deste ano para a Câmara Municipal de São Paulo terá o PT desfalcado, dança das cadeiras entre partidos de centro e rachas na direita.

A formação de uma boa base de apoio na Casa é prioridade para a esquerda aliada a Guilherme Boulos (PSOL), que adota discurso de união. Já no centro e na direita, hoje dominante no Legislativo municipal, há cenário de fragmentação e busca de bolsonaristas por aumentar seu espaço.

Com 55 vereadores, a Câmara é a maior do país, tendo o PT como maior bancada (nove vereadores) e o PSDB logo atrás (com oito).

Sessão da Câmara Municipal de São Paulo, com vereadores aglomerados
Sessão da Câmara Municipal de São Paulo - Adriano Vizoni - 19.set.23/Folhapress

Nesta próxima eleição, o PT, pela primeira vez, não terá a cabeça de chapa na disputa pelo pela vaga de prefeito —irá apoiar Boulos e deve ficar com a vice, com Marta Suplicy.

Além disso, perdeu seu principal puxador de votos, Eduardo Suplicy, eleito em 2020 por 167 mil paulistanos. O petista largou o posto para ser deputado estadual.

Na prática, apenas cinco vereadores da sigla tentarão a reeleição, com a outra parcela hoje em vagas na Assembleia ou Câmara dos Deputados. Alfredinho, Antonio Donato e Juliana Cardoso, todos eleitos há vários mandatos e com base fiel, devem lançar novatos para sucedê-los.

Donato, deputado estadual e coordenador do programa de governo de Boulos, por exemplo, deve apoiar um mandato coletivo chamado Bancada Periférica.

Apesar dos desafios, o discurso no partido é de otimismo. "A avaliação que a gente faz é que o PT pode aumentar de dois a três vereadores, em que pese não ter majoritário e puxador de votos como Suplicy", diz o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto.

O petista, que tem dois irmãos como vereadores na Casa (Arselino e Jair Tatto), acredita que os esses flancos serão superados pela presença de Lula (PT) na campanha e também pelo apoio dos veteranos a nomes de sua confiança.

O PT virou o maior partido da Câmara na última segunda-feira (11), quando o advogado Adriano Santos deixou o PSB para se filiar a sigla, em evento com a presença de Boulos.

A ida do pré-candidato ao evento sinaliza uma relação de cuidado da agremiação em relação aos aliados petistas. Embora queiram crescer, os psolistas tomam precaução para não melindrar aliados e não prejudicarem a eleição majoritária.

"Claro que o PSOL quer ampliar sua bancada [hoje com seis vereadores], mas também queremos que nossos parceiros consigam manter suas bancadas para que tenham uma boa base de participação", diz Gabriel Gonçalves, presidente municipal da legenda.

Lima também garante que o partido, conhecido pelas divisões, está coeso. Hoje, a máquina é dominada pelo grupo de Boulos, formado por outros egressos do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). A pré-candidata mais cotada para ter o apoio de Boulos, a presidente estadual do partido Débora Lima, é coordenadora do MTST.

Alguns grupos minoritários, porém, consideram essa ala muito pragmática e como um satélite do PT.

Se a esquerda busca manter discurso afinado, na direita e na centro-direita a situação é diferente. Embora todos devam apoiar Ricardo Nunes (MDB) na disputa, o jogo parece caminhar para um "cada um por si".

Nos corredores da Câmara, é visto como certo que o PSDB corre o risco de implodir na Casa. Os tucanos vivem impasse entre apoiar Nunes, endossar Tabata Amaral (PSB) ou até lançar candidatura própria.

Os vereadores tucanos, todos apoiadores do prefeito, ameaçam debandada, com convites de partidos como MDB, PSD e União Brasil. Um que já bateu o martelo é o ex-presidente municipal da sigla, João Jorge, ainda sem destino definido.

"Eu acredito que a grande maioria deve deixar o PSDB, por conta do desgaste do partido, que está sem projetos e desorganizado na capital. É quase um suicídio eleitoral ficar no PSDB", diz. A indefinição sobre o apoio a Nunes, diz, é um dos pontos que mais pesa.

Se antes de Nunes assumir o MDB tinha apenas três cadeiras, o poder de atração do prefeito fez com que elas dobrassem. A expectativa é que novos nomes ainda se juntem ao grupo, como o próprio João Jorge.

O MDB, porém, também está na lista dos partidos que não terão seus puxadores de votos disputando a reeleição, caso do Delegado Palumbo, hoje na Câmara dos Deputados.

Outra sigla que perdeu seu campeão de votos para Brasília foi o PSD. O ativista da causa animal Felipe Becari, deputado federal, atua como secretário de Esportes de Nunes.

A União Brasil também pode passar pela mesma situação se o presidente da Câmara, Milton Leite, cumprir realmente a promessa de não tentar a reeleição.

O afastamento do vereador mais influente da Casa e dono de 133 mil votos ainda é visto com descrença por alguns de seus pares. Caso isso aconteça mesmo, Leite deve usar o capital eleitoral para apoiar dois nomes de confiança para a próxima legislatura.

O temor na centro-direita é que, sem seus puxadores de votos, os partidos acabem espremidos pela polarização.

Os bolsonaristas, que não veem o atual prefeito como um candidato puro de seu campo, buscam compensar com a eleição de uma bancada que siga a cartilha do grupo fielmente –o que não ocorre hoje.

"A intenção é fazermos uma bancada bolsonarista grande, então temos vários nomes fortes. A ideia é que cada deputado consiga apoiar um candidato diferente, em mais de um partido, possivelmente", afirmou o deputado estadual Lucas Bove (PL-SP), parlamentar próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Entre os nomes, está a vereadora licenciada para atuar como secretária estadual de Políticas para Mulheres, Sonaira Fernandes (Republicanos), que deve deixar o posto no governo para voltar à Casa.

A principal aposta como novidade é a ex-comentarista da Jovem Pan, Zoe Martinez, pelo PL. Ela tem, inclusive, a benção da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro na festa de aniversário de Zoe Martinez - @zoemartinez no Instagram

Uma das baixas nesse campo será o vereador Fernando Holiday (PL), que não disputará a reeleição. Ele apoiará Lucas Pavanato, suplente na Alesp eleito pelo Novo.

A Câmara tem hoje dois ex-membros do MBL que aderiram ao bolsonarismo. Além de Holiday, o outro é Rubinho Nunes (União Brasil), que tem tido destaque pela proposta de CPI que visa investigar o padre Júlio Lancellotti.

O MBL lançará nome que deve concorrer tanto pelo eleitorado de Holiday quanto o de Nunes. Atualmente, uma das principais cotadas é a coordenadora do movimento, Amanda Vetorazzo, que atua na pré-campanha de Kim Kataguiri (União Brasil) à prefeitura.

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