Descrição de chapéu ataque à democracia

Bolsonaro se diz vítima de acusações absurdas e que não tem medo de ser julgado

Alvo da PF, ex-presidente participou neste sábado de evento político na cidade do Rio de Janeiro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

O ex-presidente Jair Bolsonaro disse neste sábado (16) em evento político no Rio de Janeiro que não tem medo de qualquer julgamento e se disse vítima de acusações absurdas.

"Não faltarão pessoas para te perseguir, para tentar te derrotar, para te acusar das coisas mais absurdas, até de molestar uma baleia no litoral do Brasil", disse, ao citar uma das investigações da Polícia Federal das quais é alvo neste momento.

"Poderia estar muito bem em outro país. Preferi voltar para cá [Brasil] com todos os riscos que corro. Não tenho medo de qualquer julgamento, desde que os juízes sejam isentos", completou, desta vez em recado ao STF (Supremo Tribunal Federal), que concentra inquéritos contra ele e seus aliados.

O ex-presidente falou por cerca de meia hora e não citou diretamente os depoimentos de seus ex-comandantes de Exército e Aeronáutica que vieram à tona nos últimos dias em torno da trama golpista de 2022 para impedir a posse de Lula na Presidência da República.

O ex-presidente Jair Bolsonaro durante evento de lançamento da pré-candidatura do deputado Alexandre Ramagem, na quadra da escola de samba Mocidade, na zona oeste do Rio de Janeiro
O ex-presidente Jair Bolsonaro durante evento de lançamento da pré-candidatura do deputado Alexandre Ramagem, na quadra da escola de samba Mocidade, na zona oeste do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/Folhapress

Em sua fala, Bolsonaro voltou a questionar decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que o tornou inelegível por oito anos após mentiras e ataques ao sistema eleitoral. 'Me tornaram inelegível por quê?', perguntou Bolsonaro a seus apoiadores.

Ele lançava pré-candidatura do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) à prefeitura do Rio. Ao falar do aliado, voltou a insinuar que é vítima de perseguição.

"Ramagem trabalhou comigo, fez um excelente trabalho, deixou sua marca. E obviamente, quando se lança pré-candidato, o mundo cai na cabeça dele, como vem caindo na minha, porque sou um paralelepípedo no sapato da esquerda", afirmou.

Bolsonaro relembrou de eleições passadas e disse que "decisões erradas têm o seu preço". Citou de novo sua trajetória até a Presidência, ao ser eleito em 2018. Falou de seu governo (2019-2022) e da ascensão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) até chegar ao Governo de São Paulo.

Bolsonaro falou ao lado do governador Cláudio Castro (PL) e do senador Flávio Bolsonaro (PL), seu filho mais velho. O evento misturou política e religião o tempo inteiro. Entre os apoiadores, havia bandeiras de Israel misturadas entre as do Brasil, assim como em ato recente na avenida Paulista, em São Paulo.

Nesta sexta-feira, a divulgação de 27 depoimentos dados por militares, políticos e ex-assessores de Bolsonaro reforçou a suspeita investigada pela PF sobre a atuação do ex-presidente no comando de uma trama para mantê-lo no poder e evitar a posse de Lula.

Duas figuras-chave, os então comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, fizeram afirmações que implicam não só Bolsonaro, mas também seu ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira, e o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos.

Os depoimentos dos dois comandantes trazem detalhes de reuniões e pressões que apontam para uma discussão na alta cúpula da gestão Bolsonaro para a adoção de medidas de exceção que incluiriam a prisão de autoridades, como o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes.

Bolsonaro já foi condenado pelo TSE por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, por exemplo, e é alvo de diferentes outras investigações no STF. Neste momento, ele está inelegível ao menos até 2030.

Caso seja processado e condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, o ex-presidente poderá pegar uma pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos.

Bolsonaro ainda não foi indiciado por esses delitos, mas as suspeitas sobre esses crimes levaram a PF a deflagrar uma operação que mirou seus aliados em fevereiro.

As próximas etapas são a finalização da investigação pela PF, análise da PGR (Procuradoria-Geral da República) e definição por parte do STF se Bolsonaro se transforma em réu para ser julgado em seguida pelo plenário. Caso não se justifique uma preventiva até lá, a eventual prisão dele ocorreria somente após essa última etapa, caso condenado.

A visita do do ex-presidente ao Rio teve como objetivo reunir bolsonaristas em torno do ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), cuja indicação para a disputa foi colocada em dúvida após Ramagem se tornar alvo de investigação da PF.

O evento ocorreu na quadra da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, na zona oeste da capital. A região foi umas das que ampliaram a vitória de Bolsonaro sobre o presidente Lula na cidade.

Presente no palanque, o governador Castro chegou a promover um almoço com aliados para cobrar apoio a Ramagem. A tentativa de articulação do governador, contudo, ainda não prosperou.

Após as operações da PF, interlocutores do governador passaram a indicar interesse em ampliar o número de candidaturas da base de seu governo. Uma delas é do deputado Marcelo Queiroz (PP).

A ida de Bolsonaro, neste cenário, serviu como pressão para Castro se associar ou não ao indicado pelo ex-presidente para a disputa.

A pré-candidatura de Ramagem se tornou uma incógnita após ele se tornar alvo de investigação sob suspeita de participação no monitoramentos ilegais feitos durante sua gestão na Abin.

A PF cumpriu em janeiro mandados de busca e apreensão no gabinete e no apartamento funcional de Ramagem, que também teve seu celular apreendido. O deputado nega as acusações.

A ala mais próxima do ex-presidente traça uma estratégia de colocar Ramagem como um perseguido político e alvo de uma conspiração entre o STF, que autorizou a operação, e o governo Lula.

A ideia é que, assim, a disputa fique ainda mais polarizada com o prefeito Eduardo Paes (PSD), pré-candidato à reeleição, fazendo com que o engajamento gerado beneficie o parlamentar.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.