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Governo e oposição relativizam impacto político para Lula e Bolsonaro no caso Marielle

Aliados de atual e ex-presidente buscam se descolar de elos com irmãos Brazão e minimizam potencial eleitoral

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Brasília

Governistas e oposicionistas buscam se descolar de eventuais elos políticos com os irmãos Brazão, presos neste domingo (24) sob suspeita de serem mandantes do assassinato de Marielle Franco (PSOL), e relativizam os impactos do caso para Lula (PT) e para Jair Bolsonaro (PL).

O Palácio do Planalto avalia que a prisão dos supostos mandantes do crime não trará uma profunda alteração no cenário político, em particular nas eleições municipais de outubro deste ano.

Integrantes do governo Lula defendem que a ligação dos irmãos Brazão com alguns de seus aliados, como a família da ex-ministra Daniela Carneiro, configuram "coisas de política" e que não prejudicará os candidatos que devem ser apoiados pelo petista, em especial o prefeito Eduardo Paes (PSD), que busca a reeleição no Rio.

Por outro lado, a oposição —e mesmo alguns governistas— também diz que a prisão não deve trazer danos para o lado bolsonarista nem para o pré-candidato na capital fluminense Alexandre Ramagem (PL), ligado a Bolsonaro.

O ex-presidente foi apoiado por Chiquinho e Domingos Brazão nas eleições de 2018 e de 2022 —e os irmãos mantiveram influência no governo Cláudio Castro (PL).

O deputado Chiquinho Brazão em sessão na Câmara dos Deputados (à esq) e, seu irmão, Domingos Brazão, na Alerj
O deputado Chiquinho Brazão em sessão na Câmara dos Deputados (à esq) e, seu irmão, Domingos Brazão, na Alerj - Divulgação/Câmara dos Deputados e Alerj

A Polícia Federal prendeu três suspeitos de mandar assassinar Marielle e o motorista Anderson Gomes, além da tentativa de matar a assessora Fernanda Chaves, em março de 2018.

Além do deputado federal Chiquinho Brazão e do irmão dele, Domingos Brazão, conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio, foi preso o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil no Rio —escolhido para comandar a corporação na época da intervenção federal no estado, comandada pelo general Walter Braga Netto, que depois virou ministro de Bolsonaro.

Chiquinho Brazão era até fevereiro integrante do primeiro escalão da gestão Eduardo Paes no Rio, como titular da Secretaria de Ação Comunitária.

O governo Lula minimiza a relação, apesar de reconhecer que há algum constrangimento. Um interlocutor do Planalto afirma que a relação com os Brazão era uma "coisa de política", com Paes apenas atendendo a indicação partidária para uma determinada vaga. Não implica, portanto, uma ligação de proximidade.

Integrantes da equipe de Lula ainda acrescentam que partiu de Paes a iniciativa de exonerar Chiquinho Brazão, quando neste ano surgiu a notícia de que os irmãos poderiam ser os mandantes do crime.

Além disso, afirmam que os irmãos Brazão têm uma ligação mais forte com o bolsonarismo. Além do apoio eleitoral a Bolsonaro, eles representam a "oposição e resistência ao legado de Marielle Franco", como define um auxiliar palaciano.

Ainda é citado que Domingos Brazão estaria articulando, com os Bolsonaro, a candidatura de seu filho para uma vaga na Câmara Municipal.

A própria investigação do caso pela PF no governo Lula, após quase seis anos de perguntas sobre os mandantes do crime, é um trunfo político da gestão petista para se distanciar de desgastes pela ligação dos Brazão com aliados.

Procurado pela Folha, Paes divulgou uma nota afirmando que o Republicanos, ao estabelecer aliança com a administração municipal, escolheu Chiquinho Brazão como representante do partido para ocupar a secretaria.

Apesar de filiado à União Brasil, ele havia solicitado autorização ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para se desfiliar —e estava em negociação para migrar para o Republicanos.

"Quando surgiram especulações sobre o caso, foi solicitada ao partido a indicação de um nome para substituí-lo e ele foi exonerado no início de 2024. A Prefeitura do Rio reforça seu apoio às investigações sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes e espera que o caso seja elucidado pela Justiça", informou a Prefeitura do Rio, em nota.

Procurada, a defesa de Chiquinho não se manifestou. A defesa de Domingos afirma que ele não conhecia Marielle e que é inocente.

Outro aliado do Palácio do Planalto que era ligado aos Brazão é o prefeito de Belford Roxo, Waguinho, cuja mulher, Daniela Carneiro, foi ministra do Turismo de Lula. Ela deixou o cargo após pressão da União Brasil, partido ao qual o grupo político busca desfiliação.

Um dos raros prefeitos a apoiar Lula na eleição de 2022 na Baixada Fluminense, Waguinho chegou a realizar uma postagem em janeiro deste ano defendendo Domingos Brazão.

"Convivo com Domingos Brazão há muitos anos. Já estivemos em disputa política lado a lado e, às vezes, em lados opostos. Em todas as ocasiões ele sempre se portou com dignidade e demonstrou respeito com as divergências políticas e ideológicas", escreveu em rede social.

"Não acredito que ele tenha qualquer envolvimento com a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes e espero que os verdadeiros culpados sejam punidos com rigor", completou, acrescentando que as delações não seriam suficientes para provar ou punir qualquer cidadão.

Aliados de Bolsonaro minimizam os apoios eleitorais dos Brazão ao ex-presidente e afirmam que o fato de Chiquinho ter integrado a gestão Paes vai, no mínimo, inibir que a atuação de milicianos seja usada na campanha contra Ramagem, em tentativas de relacionar esses grupos com os bolsonaristas.

Mesmo um integrante do governo Lula afirma que o fato de as prisões não chegarem na família Bolsonaro (como chegou a ser aventado em alguns momentos, após insinuação do ex-governador Wilson Witzel) pode resultar na ausência do tema nas eleições.

Na mesma linha, o filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), criticou o que chamou de "farsa" para tentar associar o crime à sua família.

"A polícia parece ter dado passos importantes para solucionar a morte de Marielle Franco. Para a frustração de algumas pessoas, o que era óbvio está ainda mais claro: Bolsonaro não tem qualquer relação com o caso", escreveu o senador em rede social.

"Apesar desse fato inequívoco, a esquerda quer criar uma associação que não existe. Esse tipo de farsa narrativa é perigosa e criminosa. Incentiva linchamentos virtuais e físicos e coloca em risco a vida de pessoas inocentes. Que a Justiça possa continuar com seu trabalho e que dê uma solução definitiva para o caso", completou.

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