Lula fala de Tarcísio como adversário pela 1ª vez, e aliança com Campos Neto irrita governo

Petista admite candidatura em 2026 para derrotar 'trogloditas'; PT prepara ação popular contra chefe do BC

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O presidente Lula (PT) vocalizou nesta terça-feira (18) a irritação não só dele, mas de integrantes de seu governo e da cúpula petista com a movimentação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, rumo a uma aliança em 2026 com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Foi a primeira vez que Lula tratou Tarcísio como potencial adversário na próxima eleição nacional, da qual admitiu participar para derrotar o que chamou de "trogloditas".

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central - Gabriela Biló - 10.abr.2024/Folhapress

As declarações foram dadas à rádio CBN. Na entrevista, Lula criticou a taxa de juros, disse que Campos Neto "tem lado político" e "não demonstra nenhuma capacidade de autonomia".

O petista citou jantar que Tarcísio fez em homenagem ao chefe da autoridade monetária

"[Tarcísio] tem mais [poder de influência] que eu. Não é que ele [Campos Neto] encontrou com Tarcísio numa festa. A festa foi para ele, foi homenagem do Governo de São Paulo para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de juros de 10,5%", disse Lula.

"A quem esse rapaz é submetido, como ele vai numa festa em São Paulo, quase assumindo candidatura um cargo no Governo de São Paulo? Cadê a autonomia dele?", questionou o petista, que também comparou o presidente do BC a Sergio Moro, hoje senador e ex-juiz da Lava Jato, ao apontar viés político em sua atuação.

Na entrevista, Lula não citou nomes de adversários, mas admitiu concorrer à reeleição para evitar que o país "volte a ser governado por um fascista e um negacionista".

O petista disse que em 2026, quando terá 80 anos, estará no auge da sua vida.

Ainda assim, declarou que se candidatar "não é a primeira hipótese."

"Nós vamos ter que pensar muito, tenho que medir meu estado de saúde e minha resistência física porque eu quero ter responsabilidade com o Brasil. Mas não vou permitir que esse país volte a ser governado por um fascista."

"Se for necessário ser candidato para evitar que os trogloditas que governaram esse governo voltem, eu serei candidato", afirmou.

Aliados do presidente divergem sobre a menção a Tarcísio como potencial opositor na corrida presidencial, uma vez que defendem a rivalidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como estratégia política.

No entanto, apontam como importante a responsabilização de Campos Neto pela política de juros, associando o presidente do BC ao bolsonarismo.

Na avaliação de aliados do presidente, a materialização da aliança entre o chefe da autoridade monetária e a oposição pode ser constatada pela presença de Campos Neto em jantares ao lado do governador de São Paulo, além da hipótese de participação em um eventual governo Tarcísio.

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que o partido prepara uma ação popular contra Campos Neto. "É um escândalo isso. Vi vários comentaristas criticando essa postura. Estamos preparando uma ação popular contra ele. Por violação do interesse público e moralidade administrativa."

Segundo Gleisi, Campos Neto mostrou viés político e conduz o BC para impedir o crescimento do país. "Está fazendo o serviço sujo para a oposição", disse a presidente do PT.

Campos Neto jantou com o governador na casa do apresentador Luciano Huck, foi homenageado em outro jantar, no Palácio dos Bandeirantes, e sinalizou a Tarcísio que aceita ser seu ministro da Fazenda caso ele se eleja presidente da República.

Para a homenagem, na semana passada, o governador convidou alguns aliados, banqueiro e empresários. Campos Neto também levou sua família ao encontro.

Segundo relatos de presentes, o clima era ameno e descontraído. Nas conversas, Campos Neto era elogiado pela conduta à frente do BC, criticada por Lula.

Horas antes ele foi homenageado com o Colar de Honra ao Mérito Legislativo da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), maior condecoração da Casa. A honraria foi proposta pelo deputado bolsonarista Tomé Abduch (Republicanos), vice-líder do governo Tarcísio na assembleia.

Já na semana passada aliados do presidente Lula foram às redes em protesto. Ex-presidente do PT, o deputado Rui Falcão (SP) foi um dos críticos. "Que vergonha esse presidente do BC! Além de sabotar nossa economia, virou sabujo do Tarcísio", postou.

Gleisi também protestou nas redes, mencionando reportagem da Folha.

"Isso é que é a tal 'autonomia' do Banco Central: diz a Folha que Campos Neto faz campanha por Tarcísio Freitas para presidência e topa ser ministro da Fazenda", afirmou.

"Aposta na deterioração da economia do país (que ele faz de tudo para atrapalhar) para favorecer o candidato de Jair Bolsonaro. E o cara ainda está sentado na cadeira de presidente do BC! Quando a gente diz que ele é político, jamais um técnico, ficou escancarado agora. Campos Neto não tem sequer resquício de autoridade para comandar o BC", escreveu Gleisi.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.