Descrição de chapéu Governo Lula

Produtora de petistas organizou 1º de Maio com Lula após captar R$ 3 mi da Petrobras

OUTRO LADO: empresário diz que PT é opção ideológica, não 'trampolim profissional'

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Brasília

Uma produtora pertencente a dois filiados ao PT organizou o evento criticado publicamente pelo presidente Lula (PT) na comemoração do 1º de maio, Dia do Trabalho, em São Paulo.

Com endereço no Rio de Janeiro e capital social de R$ 15 mil, a Veredas Gestão Cultural captou R$ 3 milhões da Petrobras para a organização de shows em comemoração à data, inclusive para o ato planejado pelas centrais sindicais na Neo Química Arena, em Itaquera, zona leste de São Paulo.

Um grupo diversificado de pessoas está reunido em torno de um púlpito ao ar livre durante um evento público. Uma mulher lê algo em um papel enquanto os outros a cercam, alguns olhando para o papel e outros para a multidão.um homem de camiza azul e boné branco está curvado para assinar um papel
Lula (PT) sanciona isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 2.824 em ato no Dia do Trabalho - Zanone Fraissat - 1º.mai.2024/Folhapress

A empresa obteve incentivo financeiro, via Lei Rouanet, com a promessa de realização de um grande show na capital paulista, "com sambista de renome internacional", além de espetáculos de música regional em outras 19 cidades do estado de São Paulo.

Entre os nomes citados na proposta da Veredas estavam Paulinho da Viola, Diogo Nogueira, Maria Rita, Quintal do Pagodinho e Lauana Prado, ou "artistas similares". A programação incluiria a participação especial da Escola de Samba Mocidade Alegre.

Mas foram outros artistas que subiram ao palco montado no estacionamento do estádio do Corinthians. Entre eles, Paula Lima, Dexter, Afro-X, Pagode dos Meninos e a Bateria Show da Gaviões da Fiel.

Ao discursar, Lula disse que o ato havia sido "mal convocado". Ele não escondeu sua insatisfação com o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo (PT-SE).

"Vocês sabem que ontem eu conversei com ele [Macêdo] sobre esse ato e disse para ele: ‘Ô Márcio, o ato está mal convocado’. O ato está mal convocado, nós não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar", disse o presidente.

A Veredas está registrada em nome de Cláudio Jorge da Silva Soares e Angela da Silva Leonicio, ambos filiados ao PT de acordo com os últimos dados disponibilizados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Sócio-administrador da empresa, Soares concorreu a vereador do Rio de Janeiro em 2004 com o apelido "Cláudio Repolho".

Ele também trabalhou nos gabinetes na Câmara de Benedita da Silva e Wadih Damous, ambos do PT. Sua sócia trabalhou em campanhas para os dois políticos: em 2020, quando Benedita concorreu à Prefeitura do Rio, e para a candidatura de Damous à Câmara de Deputados em 2022.

Responsável pela organização do ato político que contou com a presença de Lula, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) afirmou que as centrais participaram do evento na condição de convidados.

"A CUT e demais centrais sindicais não contrataram a Veredas Gestão Cultural para realização de ato no 1º de maio de 2024. A empresa possuía um projeto sobre trabalho e cultura, que nos foi apresentado, assim como a outras entidades, para participar como convidados do Festival realizado no 1º de Maio de 2024 na cidade de São Paulo. A CUT e as demais centrais aceitaram o convite", disse a assessoria da CUT.

Ainda segundo a assessoria, os dirigentes da CUT não conheciam os donos da Veredas.

Questionada sobre a ausência dos artistas prometidos para o evento, a CUT afirmou não ter participado da seleção da Veredas nem da captação de recursos.

"A captação de recursos e a organização do Festival Cultura e Direitos foram de responsabilidade da empresa Veredas. O ato político ocorrido antes do início do festival, que reuniu mais de 15 mil lideranças dos movimentos sindical e popular, foi um sucesso, com profundo debate sobre a realidade brasileira. Os movimentos fizeram seu balanço e apresentaram suas pautas de luta para o próximo período, e este é o verdadeiro sentido da celebração do 1º de Maio", disse.

A Petrobras afirmou que o patrocínio buscou "reforçar sua imagem como apoiadora da cultura brasileira". Disse ainda que "não tem ingerência sobre a captação de recursos por parte do patrocinado".

"O patrocínio foi realizado por meio do Programa Petrobras Cultural, dentro do eixo temático Festivais e Festas Populares, e foi efetivado por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, destinando o valor de R$ 3 milhões. Esse foi o primeiro contrato firmado com a Veredas Gestão Cultural".

"A Petrobras esclarece que o processo de aprovação de patrocínios segue padrões de governança específicos, em diferentes instâncias de aprovação, tendo sido cumpridos todos os trâmites previstos, tanto internos e quanto externos à companhia", disse a empresa na nota.

Procurado pela Folha, o administrador da Veredas, Cláudio Soares, afirmou que "o Festival Cultura e Direitos é um projeto que abrange diversas atividades, não apenas o 1º de Maio em São Paulo, mas também em outros municípios".

Sobre a ausência de artistas mencionados na proposta apresentada ao Ministério da Cultura, ele afirmou que essas contratações estão sempre vinculadas à disponibilidade de agenda, assim como o perfil do público local".

"Mas acredito que conseguimos levar artistas que representam bem a pluralidade da música brasileira", acrescentou.

Soares disse que partiu dele a proposta de parceria com as centrais sindicais.

"A iniciativa foi minha. Pois é absolutamente impossível fazer um evento destinado aos trabalhadores sem a presença dos mesmos. E a forma que avaliei ser possível essa mobilização foi convidando os sindicatos e centrais para auxiliarem nesse trabalho. Fiz questão de convidar todas as centrais sem fazer qualquer tipo de distinção partidária ou ideológica", disse.

Questionado se a filiação ao PT ajuda nessa conexão, o empresário afirmou que às vezes até atrapalha.

"Tenho mais facilidade em me relacionar com os governos de outros partidos do que com o PT. O PT é uma opção ideológica, não um trampolim profissional", declarou. "Mais do que empresário, sou um militante da cultura e de suas potencialidades como instrumento de transformação social".

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