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Datena acena a Tarcísio e critica Nunes com tom de candidato na TV às vésperas de prazo para se afastar

Lançado pelo PSDB para a Prefeitura de SP, apresentador dá recados políticos em programa e reforça tom linha-dura na segurança

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São Paulo

José Luiz Datena, lançado pelo PSDB pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, deu uma série de recados políticos nesta sexta-feira (28) durante o "Brasil Urgente", programa que apresenta na Band e do qual, por imposição da legislação eleitoral, precisa se afastar depois deste sábado (29) para concorrer.

A lei impede apresentadores em TV e rádio de continuarem no comando de programas a partir de domingo (30), com a intenção de manter a paridade de armas na disputa. Datena informou que sairia de férias e deve emendar o período com uma licença ao longo da campanha, até outubro.

Reprodução/TV Band
José Luiz Datena apresentando nesta sexta-feira (28) o programa "Brasil Urgente", da Band - TV Band/Reprodução

Neste sábado (29), o apresentador esteve à frente do programa. Ele não falou sobre a possível candidatura à Prefeitura de São Paulo. Datena também não citou as férias. Encerrou o telejornal com "boa noite e até".

Em outras vezes nas quais ensaiou ser candidato, ele expressou a desistência ao surgir na TV depois do prazo fixado por lei. Se aparecer no ar na segunda (1º), não poderá mais disputar.

Questionado pela Folha, durante o programa desta sexta, se estará na apresentação neste sábado, Datena respondeu por mensagem que "provavelmente não". Ao encerrar a atração, no entanto, ele deu um "até amanhã" —e repetiu a palavra "amanhã".

Anteriormente, ele avisou aos espectadores que o repórter Lucas Martins ficará em seu lugar durante o período de afastamento da Band.

O jornalista já desistiu de concorrer na última hora em quatro eleições, mas desta vez afirma que irá "até o fim". O PSDB trabalha com a informação de que ele está convicto e está animado com a posição do neotucano nas pesquisas —ele marcou 17% em levantamento da Quaest nesta semana.

Datena afirmou confiar no governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que apoia Ricardo Nunes (MDB), e criticou o pré-candidato à reeleição, a quem se referiu como "esse cara". Sem fazer alusão ao plano de se candidatar a prefeito, ele disse estar "do lado do povo", defendeu linha dura na segurança pública, bradou contra criminosos chamando-os de canalhas e repudiou extremismos na política.

Falou, no entanto, que não poderia ser acusado de estar fazendo campanha, porque sempre adota tom incisivo e se coloca como porta-voz da população. A propaganda eleitoral será permitida somente após o dia 16 de agosto, quando as candidaturas já estiverem registradas na Justiça Eleitoral.

"Eu confio demais no Tarcísio porque ele é um forte candidato a presidente da República", disse Datena sobre o aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que também apoia Nunes. O apresentador repetiu ter confiança no governador para dar condições às polícias Civil e Militar de combater a criminalidade.

Em vários momentos, também cobrou investimentos na Guarda Civil Metropolitana, que é de responsabilidade da prefeitura e, segundo ele, está negligenciada. Disse que a GCM, como todas as forças de segurança, precisa ser mais bem equipada e ter profissionais valorizados com salário melhor.

"Aqui na cidade de São Paulo a segurança pública foi jogada na lata do lixo", afirmou. Datena ainda afagou agentes de segurança, um público do qual historicamente é próximo por causa do programa de noticiário policial, ao dizer que a polícia "é a malha protetora da sociedade".

"Nós não poderíamos ter entregado a cidade de São Paulo ao crime organizado, e entregamos, infelizmente", afirmou, reiterando uma das bandeiras de sua pré-candidatura, o combate à infiltração do PCC e de outras organizações na prefeitura e nos serviços públicos.

Datena procurou dar um tom local a muitos de seus comentários, falando sobre "a cidade" enquanto reclamava da insegurança nas ruas, com ar de indignação diante das notícias sobre mortes, roubos e golpes. Também atacou a baixa qualidade dos sistemas públicos de saúde e educação.

"Tem que ter segurança pública em todo lugar, principalmente a periferia, que esses sacanas [ladrões] roubam na periferia pra caramba. O povão se ferra na periferia, os coitadinhos se ferram toda hora", disse, reivindicando a segurança como "um direito" da população. "O crime dominou a cidade."

A certa altura, mandou um abraço ao "pessoal da ZL [zona leste]", afirmando que a região está "abandonada, como a cidade inteira, ao deus-dará", e lamentou que "o pobre seja relegado a um quinto plano nesse país". É nessa faixa do eleitorado que ele tem o melhor desempenho nas pesquisas.

Datena e Aécio Neves em lançamento de pré-candidatura em SP
O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) e Datena no lançamento da pré-candidatura em SP - Zanone Fraissat - 13.jun.2024//Folhapress

As críticas a Nunes foram explicitadas durante entrevista com um representante do sindicato dos motoristas de ônibus sobre a greve na capital anunciada para a próxima quarta-feira (3).

Datena não citou o nome do prefeito, mas disse que "esse cara" mantém uma política de subsídios para empresas do setor que não garante a qualidade do serviço para os passageiros nem os direitos dos trabalhadores. "Aí chega ano de eleição e quer fazer benevolência com passagem gratuita aos domingos", acrescentou, referindo-se ao Domingão Tarifa Zero, programa que é vitrine da gestão Nunes.

O jornalista disse esperar que, "já que esse cara está em campanha", ele tenha juízo e atenda às demandas dos grevistas para evitar a paralisação. "Eu não estou brigando contra prefeito, não estou brigando contra ninguém. Eu estou brigando é pelo povo de São Paulo", observou.

O pré-candidato do PSDB sugeriu incompetência da atual administração para gerenciar o sistema. E, ao entrevistar o sindicalista —que se despediu dele desejando sucesso "nos novos caminhos"—, fez a ressalva de que sempre deu espaço à categoria e negou relação disso com a campanha municipal.

Abordando outro tema em discussão na capital e nas redes sociais, o tucano criticou duramente o vereador Rubinho Nunes (União Brasil-SP) pelo projeto de lei que impõe regras e multa de até R$ 17 mil para quem doar comida às pessoas em situação de vulnerabilidade, como quem vive na rua.

O apresentador lembrou que Nunes, que suspendeu a proposta após a repercussão negativa, foi um dos fundadores do MBL (Movimento Brasil Livre) e disse que ele nunca deve ter passado por dificuldades.

Datena aproveitou o debate para uma reflexão sobre política e autoritarismo. Dizendo-se um democrata, falou que "o regime nazifascista é execrável, de extrema direita canalha pra caramba", e pregou que "extremismo não leva a lugar nenhum".

"Eu sou contra extremos. Tem gente boa na esquerda, na direita, no centro, mas nos extremos, não", continuou, rejeitando "gente que quer botar fogo no país".

Nesta quinta-feira (27), ao comentar a pesquisa da Quaest em que apareceu tecnicamente empatado em primeiro lugar com Nunes e Guilherme Boulos (PSOL), Datena tinha falado que sua candidatura defenderá saúde e educação "para o pobre" e "tirar o crime organizado da prefeitura e dos serviços públicos".

"PCC não vai mais mandar nos ônibus de São Paulo", declarou o jornalista, em um áudio distribuído pela assessoria do PSDB, propondo ainda "acabar com essa bandalheira".

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