O prefeito Ricardo Nunes (MDB) oficializou sua candidatura para a Prefeitura de São Paulo em convenção na manhã deste sábado (3), adotando um discurso bolsonarista ao desferir ataques contra seu principal adversário, Guilherme Boulos (PSOL). Junto ao emedebista, na frente do palco, estava o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que também teceu críticas ao deputado federal.
Nunes chamou o psolista de "invasor", "depredador", que defende a ditadura da Venezuela. "São Paulo vai vencer esse perigo. Estou disposto e tenho coragem."
Também participaram da convenção, no lado de fora da Assembleia Legislativa, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ex-presidente Michel Temer (MDB).
Além deles, ficaram na linha de frente do palanque a mulher de Nunes, Regina, e o candidato a vice, Ricardo Mello Araújo (PL), coronel da reserva da PM e indicação de Bolsonaro à chapa.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também compareceu ao ato. Ele discursou rapidamente e saiu do palco, citando a decisão judicial que o proíbe de ter contato com Bolsonaro.
O prefeito chamou para ficar ao seu lado Tomás Covas, filho do ex-prefeito Bruno Covas (PSDB) —após a sua morte, em maio de 2021, Nunes assumiu a prefeitura.
"Para mim esse dia não seria completo sem honrar a memória do seu pai", disse a Tomás.
O prefeito priorizou no discurso o tema da moradia para fazer contraposição a Boulos e chamou ao palco beneficiários de programas da prefeitura. A pré-campanha de Nunes avalia que a máquina é sua principal vantagem diante dos demais adversários.
O emedebista afirmou que os integrantes da frente ampla de 12 partidos que o apoiam muitas vezes pensam diferente sobre muitas questões, mas se unem contra uma ameaça, "um perigo maior", que estaria representado por Boulos e pelo PSOL.
"O que nos une é o perigo que o PSOL representa contra nossa cidade, contra o povo de São Paulo", disse o prefeito, chamando o adversário de "esse mal".
"A ameaça de ver uma figura como Boulos ser prefeito. O mesmo Boulos que até outro dia estava invadindo o Ministério da Fazenda, depredando a Fiesp, sabotando a Copa do Mundo, fechando estradas pelo Brasil", continuou.
Bolsonaro também aproveitou o discurso para fazer ataques ao governo federal e ao candidato do PSOL. Disse que não seria admissível eleger para a capital paulista alguém "que nunca trabalhou na vida", que invadia a propriedade alheia e que se alia ao PT para "liberar a maconha", o aborto e defender a "ideologia de gênero".
O ex-presidente afirmou também que Nunes já mostrou suas qualidades: "O que está dando certo não mude, toque para frente".
Bolsonaro falou ainda sobre Mello Araújo, reforçando o argumento utilizado pela pré-campanha de que o oficial da PM fez uma boa administração à frente da Ceagesp, eliminando a corrupção no local.
O ex-presidente se referiu a Tarcísio como "um gestor, um tocador de obras, uma pessoa que orgulha a todos pelo seu trabalho". Bolsonaro posicionou o pupilo, que tem sido aventado como o candidato do bolsonarismo à Presidência em 2026, como uma figura de contraponto ao presidente Lula (PT).
Afirmou que o país vive uma crise econômica e que a situação só não está pior pelo desempenho do governador de São Paulo: "A administração de Tarcísio tem colaborado para que o Brasil vença a crise moral que está vivendo nesse atual momento".
Cabo eleitoral do prefeito, o governador teceu elogios a Nunes em seu discurso e insistiu na estratégia de ressaltar que hoje existe sinergia entre prefeitura e governo do estado —e que essa parceria é fundamental para desenvolver a cidade. "Não tem como fazer metrô se a gente não estiver trabalhando junto, se não estiver em parceria", disse.
Aliados de Tarcísio dizem que ele decidiu mergulhar na campanha do prefeito com o objetivo de evitar a eleição de Boulos. O governador entende que o psolista na prefeitura seria uma pedra no sapato e dificultaria ações conjuntas.
"Nós temos uma frente ampla com 12 partidos juntos nesse projeto. Estou muito feliz de estar com uma dupla especial: o maior presidente da história do país, Jair Bolsonaro, e a maior primeira-dama da história do Brasil, Michelle", disse Tarcísio.
Na última semana, assim como fez Nunes neste sábado (3), o governador havia adotado o discurso do bem contra o mal, muito utilizado por Bolsonaro, durante fala na convenção do Republicanos. Na ocasião, Tarcísio disse que o prefeito seria vitorioso "porque o bem sempre vence".
O evento deste sábado contou com referências e símbolos utilizados pelos apoiadores de Bolsonaro, como o canto do Hino Nacional. A paródia da música "Baile de Favela", marca das manifestações de rua em apoio ao ex-mandatário, misturou-se com um jingle da pré-campanha de Nunes.
Temer não discursou na convenção. Também estiveram presentes o presidente do MDB, Baleia Rossi, o presidente do PSD e secretário de Tarcísio, Gilberto Kassab, e o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força.
Uma ausência foi significativa —a do presidente da Câmara e chefe do União Brasil na capital, Milton Leite. Após a tensão entre ele e Nunes ter sido contornada, Leite decidiu, por fim, apoiar o prefeito, mas não foi à convenção.
Em vez disso, Nunes compareceu durante a tarde à zona sul, território de Milton Leite, para receber apoio do União Brasil em um evento específico do partido convocado com esse fim.
Em seu discurso, ao falar sobre a aliança, Nunes lembrou do deputado Ulysses Guimarães, afirmando que ele teve um papel fundamental em liderar um conjunto de líderes que pensavam muito diferente, mas que tinham o objetivo comum de promulgar a Constituição de 1988. O presidente do MDB, Baleia Rossi, também fez referências ao legado democrático do partido.
O movimento aponta para uma tentativa do prefeito de se posicionar como um democrata, em meio a preocupações de que a influência de Bolsonaro sobre a campanha possa afastar eleitores de centro que rejeitam o ex-presidente, investigado sob suspeita de tentativa de golpe para evitar a posse de Lula.
A aliança com Bolsonaro colocou pressão sobre Nunes a respeito de quais acenos e compromissos deve dedicar ao bolsonarismo para agradar esse grupo em uma eleição moldada na polarização nacional, com o presidente Lula atuando em peso na pré-campanha de Boulos.
Surpreendido pela chegada à corrida eleitoral do influenciador Pablo Marçal, que ameaça dividir os votos da direita, Nunes cedeu ao ex-presidente e aceitou para a vice seu indicado, com a esperança de consolidar o apoio do eleitor bolsonarista.
Declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até 2030 por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, o ex-presidente já foi indiciado pela PF nos inquéritos das joias e da falsificação de certificados de vacinas contra a Covid-19. É alvo ainda sobre os ataques do 8 de janeiro.
Nunes chegou à convenção na condição de alvo da Polícia Federal na chamada "máfia das creches". Como revelou a Folha, mais de 100 pessoas já foram indiciadas no inquérito que também apura suspeitas de lavagem de dinheiro por parte de Nunes quando ele era vereador. O prefeito ressalta não ter sido indiciado e afirma que a investigação não traz nada que o implique.
Até o momento, o emedebista aparece empatado tecnicamente com Boulos na liderança da pesquisa Datafolha. O apresentador José Luiz Datena (PSDB) grudou em ambos na última rodada da Quaest divulgada nesta semana.
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