Compras suspeitas de imóveis de Bolsonaro coincidem com acesso a cofre de Carlos

Caixas no Banco do Brasil foram acessadas 153 vezes em 12 anos; OUTRO LADO: vereador não comenta cofre e diz que investigação foi arquivada

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Rio de Janeiro

O vereador Carlos Bolsonaro (PL) acessou o cofre que mantinha no Banco do Brasil nos mesmos dias em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) adquiriu imóveis em transações com características suspeitas.

Dados do banco mostram que o vereador e o senador Flávio Bolsonaro (PL), que também usava o serviço, acessaram 153 vezes as duas caixas mantidas no local ao longo dos 12 anos. A frequência média foi de uma vez por mês, embora exista casos de duas entradas num mesmo dia.

O vereador Carlos Bolsonaro (PL) ao lado do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), durante debate nas eleições de 2022 - Ricardo Moraes - 29.set.22/Reuters

As informações constam na investigação realizada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro contra Carlos sob suspeita de envolvimento num esquema de "rachadinha" em seu gabinete na Câmara Municipal. A apuração resultou numa denúncia contra sete servidores do vereador, mas o procedimento contra o filho do ex-presidente foi arquivado por falta de provas.

A defesa de Carlos não comentou as informações, mantendo o posicionamento do vereador que disse receber com tranquilidade o arquivamento do procedimento contra ele. Declarou também indignação com a denúncia contra integrantes de seu gabinete. Em nota, Flávio disse que as transações imobiliárias não têm ligação com os acessos ao cofre.

A reportagem procurou a defesa de Bolsonaro, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

A existência de um cofre em nome de Carlos foi revelada pela Folha em setembro de 2020.

A participação de Flávio no serviço e a coincidência de acesso com as transações imobiliárias foi divulgada em julho pelo ICL Notícias e confirmada pela reportagem após o oferecimento da denúncia contra os servidores do vereador.

O controle de acesso ao cofre consta no relatório da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI) do MP-RJ. Ele oculta o nome de Flávio, mas é possível identificar as assinaturas semelhantes ao do senador nos documentos. Ele confirmou ser o coproprietário do serviço.

Os papéis mostram que o cofre foi acessado nos dias em que Bolsonaro comprou as duas casas que mantém no Condomínio Vivendas da Barra.

A primeira foi adquirida em 21 de janeiro de 2009. Os documentos do BB mostram que Carlos acessou o cofre naquele dia às 11h25 e lá permaneceu por 20 minutos.

Como a Folha revelou em janeiro de 2018, a transação contém características suspeitas de lavagem de dinheiro pelos critérios do Coaf.

Bolsonaro adquiriu a casa, segundo a escritura, por R$ 409 mil. Os antigos proprietários haviam comprado o imóvel quatro meses antes por R$ 580 mil, tendo um prejuízo de R$ 171 mil na operação. Especialistas apontam que transações do tipo podem ocorrer com pagamento "por fora", com dinheiro vivo.

O segundo imóvel no condomínio foi adquirido em 13 de dezembro de 2012 por, segundo a escritura, R$ 500 mil. No mesmo dia, Carlos acessou o cofre as 10h17, tendo ficado lá por 14 minutos.

O valor de compra é menos de um quarto do avaliado pela prefeitura para cálculos do ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis). O tributo foi cobrado sobre uma estimativa de R$ 2,23 milhões. A divergência também é apontada como suspeita pelos critérios do Coaf.

Carlos também acessou o cofre no dia 3 de fevereiro de 2011, mesmo dia em que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) adquiriu um imóvel em Copacabana. Ele já admitiu que pagou parte dos R$ 160 mil da operação em dinheiro vivo.

Há também acessos em data próxima de operação suspeita atribuída a Flávio. Segundo dados do controle do Banco do Brasil, ele acessou o cofre no dia 26 de novembro de 2012. Um dia depois, comprou dois imóveis numa transação com características suspeitas, também reveladas pela Folha em janeiro de 2018.

Ele adquiriu dois apartamentos em Copacabana de um mesmo vendedor por, no total, R$ 310 mil. Um ano depois, os dois imóveis foram vendidos com um lucro de R$ 800 mil —mais de 200%.

O MP-RJ afirmou na acusação oferecida contra Flávio ter coletado provas que mostram que o senador pagou R$ 638 mil em dinheiro vivo "por fora" para lavar dinheiro obtido no esquema da "rachadinha" em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa. A denúncia acabou arquivada após a anulação de provas.

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