Relator propõe ampliar anistia do 8/1 a todos os atos relacionados à eleição de 2022

Voto de Rodrigo Valadares (União Brasil-CE) foi apresentado na CCJ da Câmara, mas votação foi adiada; governistas dizem enxergar brecha para beneficiar Bolsonaro

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Brasília

O deputado Rodrigo Valadares (União Brasil-CE), relator do projeto de lei que trata da anistia aos condenados pelos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023, ampliou o escopo da proposta em seu parecer e sugeriu perdão a todos os atos pretéritos e futuros relacionados aos ataques à sede dos três Poderes.

A votação do texto, apresentado nesta terça-feira (10) na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, acabou adiada após mobilização de deputados governistas.

O tema deverá ser retomado nesta quarta-feira (11). A votação do projeto pode ser adiada novamente, uma vez que cabe pedido de vistas (mais tempo para análise).

Plenário da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara durante discussão de projeto que anistia os presos do 8 de janeiro - Pedro Ladeira/Folhapress

O artigo 1º do projeto estabelece que "ficam anistiados todos os que participaram de manifestações com motivação política e/ou eleitoral, ou as apoiaram, por quaisquer meios, inclusive contribuições, doações, apoio logístico ou prestação de serviços e publicações em mídias sociais e plataformas, entre o dia 8 de janeiro de 2023 e o dia de entrada em vigor desta lei", diz o texto.

Um inciso a seguir, entretanto, amplia o perdão: "Fica também concedida anistia a todos que participaram de eventos subsequentes ou eventos anteriores aos fatos acontecidos em 8 de janeiro de 2023, desde que mantenham correlação com os eventos acima citados".

A anistia a quem participou dos ataques de 8 de janeiro de 2023 é uma das principais bandeiras do bolsonarismo atualmente. O assunto foi tema dos discursos em manifestação na avenida Paulista no sábado, 7 de Setembro, tendo sido citado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Aliados do ex-presidente defendem a aprovação do texto na CCJ, que é o primeiro passo da tramitação na Câmara, mas a base do governo Lula busca barrar.

Nesta terça (10), deputados governistas e uma parte do União Brasil tentaram obstruir a votação, apresentando requerimentos para adiar a apreciação do projeto.

Pouco antes da leitura do parecer ser iniciada, foi aberta a ordem do dia no plenário da Câmara, levando ao encerramento das sessões das comissões temáticas da Casa.

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Vândalos golpistas invadem a praça dos Três Poderes e depredam os prédios, em 2023 - Gabriela Biló - 8.jan.23/Folhapress

Na avaliação de parlamentares governistas ouvidos pela reportagem, o relatório tal qual foi apresentado nesta terça abre margem para beneficiar Bolsonaro —o relator, no entanto, rechaça essa possibilidade.

Isso porque a ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que levou à inelegibilidade de Bolsonaro está relacionada, indiretamente, com as eleições de 2022. Em reunião com embaixadores estrangeiros a menos de três meses da eleição naquele ano, Bolsonaro afirmações falsas e distorcidas sobre o processo eleitoral, alegando estar se baseando em dados oficiais, além de buscar desacreditar ministros do TSE.

No parecer, o relator define em que a anistia prevista no projeto engloba qualquer medida de "restrições de direitos, inclusive impostas por liminares, medidas cautelares, sentenças transitadas ou não em julgado que limitem a liberdade de expressão e manifestação de caráter político e/ou eleitoral, nos meios de comunicação social, plataformas e mídias sociais".

Além disso, o parecer também mira atuação dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) ao determinar que, caso haja descumprimento, o ato seja enquadrado como abuso de autoridade.

O parecer exclui da anistia crimes como a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, além dos crimes contra a vida.

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