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12/02/2012 - 02h30

Diretor do argentino "Medianeras" fala sobre o sucesso longa

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ANA ELISA FARIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O argentino Gustavo Taretto, 46, diretor de "Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual, esteve em São Paulo na última semana para promover o lançamento do seu filme em DVD.

Em cartaz há cinco meses na cidade, o longa-metragem, também já disponível para locação, traça um interessante paralelo entre os relacionamentos modernos e a arquitetura das metrópoles.

A obra acompanha Martín (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala), dois jovens solitários que moram em prédios próximos e que, embora vivam se esbarrando pelas ruas sem se ver, se "conhecem" pela internet.

Abaixo, confira a íntegra do bate-papo com o diretor.

*

sãopaulo - A história de "Medianeras" veio de um curta-metragem que você fez em 2005. Como surgiu a ideia de transformá-la em longa e como foi o processo?
Gustavo Taretto - Eu queria falar sobre a falta de comunicação, os desencontros e a relação das pessoas por meio do mundo virtual. Mas isso foi no fim de 2004 e eu não tinha minha cabeça preparada para fazer um longa-metragem. Não tinha capacidade para passar pela experiência tão complexa como a de fazer um longa. Então, a ideia foi escrever no formato de curta mesmo. Depois, quando o filme começou a circular, a encontrar seu próprio caminho e a funcionar tão bem, comecei a transformá-lo em um longa. E não é que o longa seja uma adaptação do curta; ele é a adaptação da ideia original. Por isso os dois são tão parecidos.

Divulgação
Gustavo Taretto estreou na direção de longas-metragens com "Medianeras"
"Medianeras", em cartaz na cidade há cinco meses, marca a estreia de Gustavo Taretto na direção de longas-metragens

No filme, a arquitetura de Buenos Aires é mostrada de forma depressiva. É assim que você vê a cidade?
Não vejo [a arquitetura de Buenos Aires] como algo triste ou depressivo, e sim como caótica e muito agressiva visualmente, mas eu não tentei julgá-la. Tentei entendê-la e relacioná-la com a gente para mostrar o quanto a cidade se parece conosco e o quanto nos parecemos com ela. Então, tratei de buscar a beleza da cidade, tentei encontrar o que tem de bom em sua arquitetura. Não acredito que as coisas sejam simplesmente boas ou más, acredito que nós as vemos boas ou más.

E como você classifica as medianeras?
As medianeras [pequenas janelas abertas no meio de uma grande parede dos edifícios] são produtos de um defeito. Como não existe uma lógica nas construções de Buenos Aires, existem muitas medianeras. Elas são funcionais, pois trazem luminosidade às casas ou permitem que as pessoas tenham janelas. Por isso, não poderia dizer que as medianeras são feias porque são justo elas que salvam os personagens do meu filme.

O que as arquiteturas de Buenos Aires e São Paulo têm em comum?
Um fator comum entre elas é a falta de homogeneidade. Em um mesmo quarteirão você vê um prédio de 14 andares ao lado de uma casinha com jardim. Isso é difícil de se encontrar em sociedades mais previsíveis, mas é o que acontece em sociedades anárquicas e caóticas como as latino-americanas. São cidades que crescem de forma desorganizada.

Como a arquitetura das cidades pode afetar os relacionamentos?
Acredito que afeta muito. Não é a mesma coisa viver em uma casa com várias janelas, do que morar em uma casa em que a janela dá para um parque. Ou que dá para a frente de outra construção. Mas, na verdade, não somos conscientes do quanto a arquitetura nos afeta. Sempre digo que as relações funcionam de acordo com os metros quadrados que temos para compartilhar.

De onde surgiu seu interesse pela arquitetura?
Foi através da fotografia. Quando eu era criança, vivia com uma máquina fotográfica nas mãos. Gostava de fotografias de pessoas, mas era muito tímido para pedir que elas parassem e posassem para mim. Então, comecei a me relacionar com a arquitetura, observando texturas, sombras, formas. Depois fui, como ampliando um quadro, tendo uma visão mais geral da coisa. Por um lado gosto da arquitetura pela arquitetura. Por outro, gosto de observar os contrastes das construções de Buenos Aires, que são os mesmos da sociedade.

Divulgação
Mariana, vivida por Pilar López de Ayala (foto), é decoradora de vitrines no filme argentino "Medianeras"
Mariana, vivida pela atriz Pilar López de Ayala (foto), é decoradora de vitrines no filme argentino "Medianeras"

"Medianeras" foi sua primeira experiência na direção de um longa-metragem. Você já tem um segundo projeto em vista neste formato?
Sim, na próxima semana vou para o Festival de Berlim para buscar possíveis coprodutores para meu novo filme. Ele é bem diferente de "Medianeras". Será uma história que transcorre em 24 horas e mostrará cinco meninas aproveitando o dia de sol em um terraço.

Seu filme está em cartaz há cinco meses em São Paulo. A que você atribui este sucesso?
Não tenho muita certeza porque acabei de chegar. Na verdade, eu não sei, mas me sinto muito feliz por meu filme funcionar fora de Buenos Aires. Os curtas-metragens que eu dirigi anteriormente sempre foram muito bem recebidos aqui. Não sei o que acontece, mas tenho um bom vínculo com o público paulista.

Você acha que a vida nas metrópoles é, de fato, uma busca eterna por um "Wally"?
De alguma maneira, sim, porque o amor é muito importante na vida das pessoas. A busca por ele é uma coisa divertida, é legal encontrar o lado lúdico desta procura. E sobretudo a esperança de encontrá-lo. Esperança é uma palavra muito importante para mim. E o amor é um antídoto contra a solidão. Ele só funciona se você o compartilha. E se você compartilha, deixa de estar só.

 

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