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Ensaios de Sartre descrevem "revolução copernicana" de Giacometti
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MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA sãopaulo
Filósofo e ficcionista, Jean-Paul Sartre (1905-1980) criou, como contrapartida literária de sua "ontologia fenomenológica" (subtítulo da bíblia existencialista, "O Ser e o Nada"), peças teatrais e romances dominados pela ideia de nossa contingência e pela angústia de nossa indeterminação.
Gordon Parks/Getty Images/SuccessionGiacometti/AUTVIS, São Paulo, 2012 |
O escultor suiço Alberto Giacometti, tema de livro do filósofo e ficcionista Jean-Paul Sartre, rodeado por suas obras |
Mas não foi nem na filosofia (rigorosa, porém incandescente) nem na ficção (eloquente, porém esquemática) que o autor de "A Náusea" atingiu seu apogeu como escritor, e sim nos ensaios sobre arte e literatura.
"Alberto Giacometti" reúne dois breves e preciosos textos sobre o artista suíço, tema da grande exposição inaugurada ontem (24) na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
O primeiro, "A Busca do Absoluto", trata das esculturas de Giacometti -que Sartre conheceu em 1939, num café parisiense. O segundo, "As Pinturas de Giacometti", de suas telas e de seus desenhos.
Como Sartre atribui a "revolução copernicana" de Giacometti ao gesto inaugural de levar da pintura para a escultura uma percepção da irrealidade da representação, é na "matéria sem peso" de suas figuras de gesso que se afia o olhar sartriano.
Para o pensador francês, todos os artistas anteriores -incluindo os gênios renascentistas- "esculpem cadáveres", ou seja, mistificações da semelhança, do ser visto como "coisa" num espaço em suspensão.
Nas esculturas delgadas de Giacometti, "esses esboços moventes, sempre a meio caminho entre o nada e o ser", teríamos, ao contrário, uma atualização artística do ato da percepção, em que consciência, corpo e mundo compõem uma unidade inextricável.
Ao falar de arte, Sartre está no seu elemento: não havendo mais separação entre natureza e história, sujeito e objeto, resta a "segunda natureza", cultura e a sociedade criadas pelo homem "em situação". Nesta, a pintura (com sua quebra da ilusão espacial) instrui a escultura, mostra que tudo é aparência -não no sentido trivial, mas de uma aparição captada pela corpulência grotesca, pelas deformações rupestres do artista suíço.
"Alberto Giacometti" nos diz muito sobre a arte do escultor. Mais ainda sobre a filosofia sartriana: "O homem não é antes para ser visto depois, mas ele é o ser cuja essência é existir para o outro".
ALBERTO GIACOMETTI
AUTOR: Jean-Paul Sartre
TRADUÇÃO: Célia Euvaldo
EDITORA: WMF Martins Fontes
(80 págs., R$ 19,80)
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