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12/06/2011 - 10h22

A digestão de Lord Byron

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BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo

Na última quarta-feira, fui toda empolgada comprar presente de Dia dos Namorados no shopping e, ao dividir a informação com família e amigas, tomei um balde na testa. Só o balde, sem água, estou com a marca cravada na fronte até agora.

Primeiro, minha sobrinha me disse que a data já foi mais valorizada, que hoje não sobra tempo para esse tipo de bobagem. Depois minhas amigas me contaram que há muito já não trocam presentes em 12 de junho com maridos e/ou namorados com a metade da idade delas.

E uma comerciante do mercado do luxo que me é muito cara veio com a informação de que a data não chega a causar impacto nas vendas. "O Dia dos Namorados não passa de uma festa de pobre", revelou, com o amargor de quem foi seduzida e abandonada pelo lucro.

Perguntei se isso se dá porque nem todos os pés descalços encontram seu chinelo velho e obtive uma resposta desidratada. "A data não tem prestígio", disse. "No máximo, casais presenteiam com chocolates em forma de coração e um picote." Puxa.

Na semana passada, a Folha deu manchete sobre uma pesquisa feita pela Universidade de Wisconsin concluindo que o amor tem prazo de validade de três anos para percorrer todo o roteiro desde a paquera até o desgaste que leva ao rompimento.

A gente sabe da dose de abnegação que é necessária nos dias de hoje para se chegar à marca de um ano de namoro. Há até quem diga que a verdadeira fase obscurantista do mundo tenha sido o período do Romantismo.

Pessoalmente, considero seriamente a possibilidade de Lord Byron (1788-1824) ter sido um contumaz devorador de jacas. Consigo até ver o grande poeta romântico comendo jacas de forma apressada, uma atrás da outra para, subitamente, cair em sudorese seguida de delírio coincidindo com o início da digestão. Para mim, foi em um desses surtos que o autor de "Don Juan" resolveu juntar o amor romântico e o amor erótico, criando um treco que a gente sabe que não existe, mas que nos faz imaginar ser possível tratar o ser amado como se ele fosse um filhote de chihuahua ou um recém-nascido até o fim de nossa existência terrena.

Ah, a ilusão do amor! A jaca mal digerida por Byron ou por algum de seus pares já me fez entrar no vermelho comprando presente na Tiffany's para quem não merecia nem sequer ganhar sanduba de Racumin.

E está certo que meu músculo cardíaco já se esgarçou de bater torto feito remix caseiro da Lady Gaga. Mas pergunto: melhor sofrer de amor ou ser trocada por três cabras após a primeira menstruação?

Trabalhei com uma moça que, separada do marido, passou a mandar flores a si mesma a cada 12 de junho. A gente estaria fechando o jornal quando o rapaz da floricultura chegava para entregar o buquê. Aos íntimos ela admitia ser a autora da façanha.

Doente, na época, de um amor mais debilitante do que asma, eu admirava a ousadia da minha colega em nos revelar a sua fraqueza. No lugar dela, eu jamais teria contado se tivesse feito.

Hoje não jogo mais no Íbis, sou titular do Santo Antonio Futebol Clube e parte daquele 1% da humanidade agraciada pela magia que Byron, Milton, Dante, Shakespeare e outros poetas puderam tocar quando tomados por constipação aguda.

E, como sei que, celebrando o santo ou não, no fim das contas acaba dando tudo certo, ouso contrariar o comércio e desejar um Feliz Dia dos Namorados!

 

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