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Em tempos de arte digital, pintora resgata o óleo sobre tela
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LAURA RAGO
DE SÃO PAULO
Numa tarde de quinta-feira, gatos pulam de um muro para outro, enquanto passarinhos dão rasantes embaixo do "ombrelone". O espaçoso quintal, cheio de vasos de plantas, recebe a sombra de uma árvore frondosa. Parecem cenas de uma casa no interior, mas é um prédio em Perdizes, na zona oeste de São Paulo.
Newton Santos/Hype/Folhapress |
A artista plástica Marina Rheingantz em seu ateliê em Perdizes; ela participa de exposição no Centro Maria Antônia |
É lá, num edifício da década de 1950 na rua Vargem do Cedro, que a artista plástica Marina Rheingantz, 27, instalou seu ateliê. "O ambiente reflete completamente na minha produção. Quando cheguei aqui era só concreto. Depois fui colocando plantas. É o sítio das Perdizes", brinca.
Em cartaz no Centro Universitário Maria Antônia, ao lado de nomes consagrados como Paulo Mendes da Rocha e João José Costa, a paulista de Araraquara, de 27 anos, exibe na mostra duas obras de grandes dimensões e mais três de diferentes formatos.
Formada em artes plásticas pela Faap, com passagens pelo Instituto Tomie Ohtake (onde trabalhou como monitora) e pela galeria Fortes Vilaça (onde foi estagiária de produção), Marina descobriu na pictórica tradicional --sobre tela, com uso de tinta a óleo- a força de suas obras.
Integrante de uma nova onda de jovens pintores que resgatam a expressão pela figura, pela paisagem e pelo abstracionismo, ela é tida como uma das revelações da "geração 2000". "Comecei copiando. Usava rolinhos de papel higiênico para construir naturezas-mortas, pensando nos carretéis do Iberê [Camargo]", lembra.
Hoje mais maduras, suas obras são retratos de memórias, experiências de viagens e pesquisas de imagens. "Passo horas vendo livros, fotos, enciclopédias e ouvindo música. Há seis meses ouço no 'repeat' Neil Young. Essa é a matriz para meu trabalho."
Para o artista Paulo Pasta -destacado representante da pintura nos anos 1980 e ex-professor de Marina-, as obras dela, que mostram frequentemente "paisagens desoladas", têm uma forte carga de solidão. "Esse sentimento vem constituindo a 'voz própria' de Marina como pintora."
FORA DO CIRCUITO
Pouco a pouco, exposições de videoinstalações e arte urbana conquistaram o mercado e a crítica e passaram a competir com novas pinturas nos salões de arte. Com dificuldade para entrar nesse circuito, Marina e mais sete jovens pintores --entre eles, Rodrigo Bivar, Bruno Dunley e Ana Elisa Egreja- criaram o coletivo 2000 e 8. Com a união, conseguiram fazer parte da agenda nacional de exposições.
Hoje, Marina integra o time da galeria Fortes Vilaça e tem uma obra, "Pântano", no acervo permanente da Pinacoteca do Estado.
Para o diretor-executivo da Pinacoteca, Marcelo Araujo, ela é uma artista com uma produção consolidada, pois desenvolve seu trabalho "de forma consistente e regular" há alguns anos. "Sua produção é de extrema vitalidade."
Em setembro, a artista participará da 6ª Bienal de Curitiba e, no mês seguinte, fará uma exposição individual em Lisboa. Ela também é colaboradora da Ilustríssima, da Folha.
Marina diz que procura fugir do "auê" do meio artístico e das badalações. Gosta de ver jogos de futebol na TV com o namorado e, de vez em quando, sai para tomar cerveja na Mercearia São Pedro, na Vila Madalena. Em vez de ir a festas de galerias e artistas descolados, prefere ficar em casa. "Gosto mesmo é de tomar uma boa sopa com meu pai e ficar quietinha, em silêncio."
EXPOSIÇÃO
Centro Universitário Maria Antônia
R. Maria Antônia, 294, Vila Buarque, centro, São Paulo, SP. Tel. 0/xx/11/3123-5200. Ter. a sex.: 10h às 21h. Sáb. e dom.: 10h às 18h. Até 23/10. Livre. Estac. (R$ 8 - convênio). Grátis.
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