Empresas nacionais estreiam no mercado de biorremédios

Colaboração entre farmacêuticas e laboratórios públicos acelera desenvolvimento de biossimilares

Iara Biderman

Primeiro medicamento biossimilar (com alta semelhança ao medicamento biológico inovador) aprovado no Brasil, o Remsima recebeu registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 2015. Mas já faz cinco anos que as farmacêuticas nacionais se preparam para entrar nesse mercado.


O Remsima —nome comercial da droga infliximabe, indicada para doenças reumatológicas— é produzido por empresas multinacionais.


Há pelo menos duas farmacêuticas brasileiras no processo de desenvolvimento de biossimilares desse remédio: a Bionovis e a Orygen.

Funcionário da fábrica da Libbs em Embu das Artes (SP) opera equipamento usado na produção de biossimilares
Funcionário da fábrica da Libbs em Embu das Artes (SP) opera equipamento usado na produção de biossimilares - Divulgação


 O processo acontece por meio de PDP (Parceria para o Desenvolvimento Produtivo), programa do Ministério da Saúde criado para o financiamento da produção de medicamentos.


 As empresas brasileiras se associam às empresas estrangeiras, que dominam a tecnologia, e a laboratórios públicos —no caso citado, o Biomanguinhos e o Instituto de Tecnologia do Paraná.

MELHORIAS

“Como o medicamento biológico não tem fórmula, é preciso dominar a tecnologia. As equipes brasileiras aprendem o processo e podem desenvolver melhorias no remédio. A longo prazo, também será possível desenvolver produtos próprios”, diz Reginaldo Arcuri, presidente do Grupo FarmaBrasil, que reúne grandes farmacêuticas brasileiras com interesse em inovação como, além de Bionovis e Orygen, Cristália, Eurofarma e Libbs.


Essas empresas desenvolvem biossimilares para doenças reumatológicas (adalimumabe, etanercepte e infliximabe), câncer (rituximabe, bevacizumave e trastuzumabe) e esclerose múltipla (betainterferona 1A), além do hormônio de crescimento (somatropina). 


Os projetos estão em diferentes fases, desde aprovação da proposta para oficializar a parceria até obtenção de registro na Anvisa.


 Para poder vender o medicamento, o fabricante precisa mostrar estudos que comprovem a biossimilaridade por comparação direta com a droga de referência. O processo pode levar um ano. 
Um biossimilar “made in Brazil” que já ganhou registro e estará no mercado em março é o Zedora (trastuzumabe), para tratamento de câncer de mama HER2+. 


O produto foi desenvolvido pela indiana Biocon, com estudos da norte-americana Mylan. A tecnologia de produção está sendo transferida para a brasileira Libbs e o Instituto Butantan. O medicamento será fornecido ao Ministério da Saúde. 


A Libbs inaugurou, em 2016, a primeira fábrica do Brasil de anticorpos monoclonais (moléculas do remédio biológico) em escala industrial. Na construção foram aplicados R$ 227 milhões, financiados pelo BNDES. 


A capacidade de produção total será de 400 quilos de anticorpos monoclonais por ano. A partir deles, serão produzidos remédios como o trastuzumabe e o rituximabe (para doenças oncológicas e reumatológicas). Esse último, desenvolvido em parceria com a espanhola mAbxience e o Instituto Butantan, deve estar no mercado em 2019. 

INDEPENDÊNCIA

“Produzir esses medicamentos de alto custo no país ajuda na sustentabilidade do sistema público de saúde, já que a responsabilidade de fornecer esses tratamentos é do Estado”, diz Arcuri. 


Para Marcia Bueno, diretora de relações institucionais da Libbs, estudos mostram que, com a entrada dos biossimilares no mercado, o preço do próprio remédio originador pode cair em até 50%. 


“Como são várias empresas desenvolvendo biossimilares, o risco de se criar monopólios também é menor”, afirma Arcuri. 


O programa PDP permite transferir conhecimento para os laboratórios públicos, “que ganharão independência tecnológica para produção de medicamentos”, segundo Bueno.

Erramos: o texto foi alterado

A legenda da foto na versão anterior deste texto estava incorreta. A imagem mostra funcionário da fábrica da Libbs em Embu das Artes (SP) operando equipamento utilizado na produção de biossimilares  

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