Máquina tira emprego, mas gera trabalho mais humano, dizem especialistas

Educação deve acompanhar demanda do mercado por mais criatividade e raciocínio

Fabro Steibel, diretor-executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, Guilherme Thiago de Souza, gerente de engenharia e desenvolvimento da Roboris do Brasil, Luiz Arruda, diretor da consultoria WGSN Mindset, e o mediador Fernando Canzian, repórter especial da Folha, em São Paulo - Reinaldo Canato/Folhapress
Leonardo Neiva
São Paulo

Enquanto revoluções tecnológicas do passado usavam a tecnologia como complemento ao trabalho humano, a que acontece atualmente trata da completa substituição do homem pelas máquinas em grande parte dos cargos existentes. A mudança, no entanto, abre caminho para que a sociedade trabalhe com competências mais humanas.

“Se um robô pode fazer uma tarefa, ele vai fazer. E fará melhor, mais rápido e com maior desempenho do que o homem”, afirmou Guilherme Thiago de Souza, gerente de engenharia e desenvolvimento da empresa Roboris do Brasil.

Essa mudança, segundo o engenheiro, acaba com uma série de empregos, mas faz com que as empresas comecem a procurar profissionais que tenham bem desenvolvidas áreas de raciocínio, faculdades cognitivas e colaboração.

Souza falou em debate durante o seminário O Futuro do Emprego e o Emprego do Futuro, realizado pela Folha, com patrocínio do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e apoio do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), em São Paulo. O repórter especial da Folha Fernando Canzian mediou a discussão.

De acordo com Luiz Arruda, diretor da consultoria WGSN Mindset, que pesquisa tendências de comportamento, o problema é que essas novas demandas do mercado não são atendidas pelos modelos tradicionais de educação.

A situação, porém, estaria se modificando de forma lenta e espaçada no país. Arruda afirmou ter mapeado iniciativas interessantes por todo Brasil que aplicam conceitos como startups, “design thinking” e gamificação com o objetivo de desenvolver competências como criatividade, inteligência emocional e comunicação nos jovens.

“Mas, se ninguém oferece a solução, as novas gerações têm um ferramental extenso para descobrir por elas mesmas. Assim, hoje, muitos jovens se organizam para empreender e conseguir o que podem não ter alcançado na escola”, disse.

Para Fabro Steibel, diretor-executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, no caso do Brasil, uma iniciativa essencial para o desenvolvimento da educação ainda é investir em infraestrutura tecnológica nas escolas públicas.

“Esquecemos que metade dos colégios públicos brasileiros não tem internet e a outra metade só tem o suficiente para o diretor conseguir mandar e-mail. Precisamos nos mirar no exemplo da Estônia, que unificou digitalmente suas escolas em 1998 e hoje alcança resultados expressivos em educação”, declarou Steibel.

Para ele, não é difícil oferecer melhores condições de desenvolvimento e aprendizado para a população mais pobre do país. Bastaria o poder público oferecer infraestrutura e tecnologia para lugares onde já há uma mobilização popular forte e colaborativa e alta capacidade de utilização de recursos, como na favela da Rocinha, segundo o executivo. “O problema é que o Estado chega a esses lugares muito mais tarde do que aos outros”, afirmou.

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