Descrição de chapéu Seminário Combustíveis

Gás natural veicular atinge o maior preço desde o início de série histórica

Na semana passada, metro cúbico foi vendido a R$ 3,18, superando em R$ 0,06 recorde de 2009

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Rio de Janeiro

​O preço do gás natural veicular atingiu neste ano o maior patamar da série histórica de preços divulgada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), iniciada em 2004.

Na semana passada, o metro cúbico do GNV foi vendido no país a R$ 3,18, R$ 0,06 acima do pico histórico atingido no início de 2009 (em valores corrigidos pela inflação). Àquela época, o país enfrentava escassez do produto. 

Posto de gasolina na avenida General Olímpio da Silveira, na Barra Funda, em São Paulo - Gabriel Cabral/Folhapress

O recorde de 2009 foi ultrapassado em fevereiro, após reajuste no preço do combustível na área de concessão da Comgás, que abastece a região metropolitana de São Paulo.

No dia 1º daquele mês, o governo de São Paulo reajustou o preço do produto em 40%, reforçando um ciclo de alta nas bombas que se iniciou no segundo semestre de 2018. 

O aumento do GNV ocorreu em um momento de queda dos outros combustíveis automotivos, que tiveram picos entre o segundo e o terceiro trimestres de 2018, chegando a motivar a greve dos caminhoneiros, no final de maio.

O efeito retardado é explicado pela política de preços para o GNV, que segue os preços de venda do gás natural, reajustados pela Petrobras a cada três meses com base nas cotações de trimestres anteriores. 

“A alta que a gasolina já sofreu, o gás natural sofre agora”, diz o diretor da Abegás (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado), Marcelo Mendonça.

Ele acrescenta que o impacto da escalada das cotações do petróleo se deu sobre um valor superior aos praticados pela Petrobras até 2016.

Em 2017, a estatal aceitou reduzir os volumes contratados pelas empresas, que sofriam com queda nas vendas, mas elevou o preço do produto. 

A situação atual é diferente da ocorrida em 2008 e 2009, quando a escassez do produto levou o governo a privilegiar o uso para a geração de energia, retirando os incentivos a outros tipos de consumo.

No fim de 2007, a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, determinou que térmicas e empresas deveriam ter prioridade em relação ao consumo automotivo. “Parar de incentivar o gás natural veicular não tem o menor problema”, afirmou.

A mudança de direcionamento ocorreu após anos de incentivos à conversão de veículos ao gás natural e abalou a confiança de motoristas que realizaram investimentos para instalar kits para usar o GNV em seus veículos.

O consumo de GNV no país caiu por sete anos seguidos (entre 2008 e 2015), passando de 6,63 milhões de metros cúbicos por dia para 4,82 milhões, queda de 27,3%.

A partir de 2015, com a alta da gasolina, o produto voltou a ser visto como alternativa, e as vendas voltaram a crescer.

Agora, a oferta de gás no país é suficiente para atender a demanda. De acordo com dados do MME (Ministério de Minas e Energia), em 2018 o Brasil importou uma média de 22,1 milhões de metros cúbicos por dia da Bolívia, quase 10 milhões a menos do que a capacidade total.

A importação de gás liquefeito, feita por meio de navios, também ficou abaixo do potencial: foram 6,92 milhões de metros cúbicos por dia em média no ano, contra uma capacidade total de 21 milhões de metros cúbicos por dia.

Principais consumidores de GNV, taxistas e motoristas de aplicativos têm buscado alternativas para lidar com o aumento de custos. “A gente não tem como repassar, já que é o aplicativo que cobra”, diz Marcio Luiz Hucs, 63, que trabalha como motorista de aplicativo há 20 meses. Ele calcula que, desde que começou na função, seu custo com combustível subiu 50%.

Para manter a margem de lucro, conta, tem optado por trabalhar à noite, para evitar longos períodos parado no trânsito, e passou a evitar rodar sem passageiro, preferindo esperar as chamadas parado. “À noite rende mais. Se pegamos uma corrida longa, o trajeto é mais rápido”, diz ele.

Taxista há cinco anos, Francisco Carlos, 56, diz que passou a trabalhar em média duas horas a mais por dia para conseguir levar o mesmo ganho para casa.

“Não tenho nem ido malhar. É trabalhar, trabalhar e trabalhar...”, reclama o taxista. Ele acrescenta que o calor que tem feito piora a situação. “Quando não está muito quente, a gente ainda economiza com o ar condicionado, mas agora não dá. O problema é que não tenho como parar de abastecer. Mas, se todo mundo parasse, aposto que o preço cairia”, propõe.

Com o aumento previsto na produção do pré-sal, o governo vem analisando medidas para ampliar a competição e incentivar novos usos para o combustível.

Na última semana de março, a ANP sugeriu medidas para reduzir o monopólio estatal no transporte e na distribuição, como acesso de terceiros a instalações da Petrobras e a obrigação de que a empresa se desfaça gradativamente de contratos de venda.

Em nota, a Petrobras diz que o preço do gás natural é estabelecido por contratos de longo prazo e atualizado pela taxa de câmbio, de acordo com fórmulas ligadas ao preço internacional de combustíveis, e que por isso a companhia acompanha as cotações internacionais do petróleo.

“A Petrobras não tem qualquer ingerência sobre os reajustes a serem praticados, que seguem obrigatoriamente os indexadores predefinidos, seja para aumento, seja para redução de preços”, informou, em nota, a companhia. 

Ela acrescentou que o valor pago pelo consumidor sofre interferência também de regulações estaduais sobre a distribuição de gás canalizado e de margens de lucro dos postos.

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