Descrição de chapéu 4º Fórum Inovação Educativa

Achados da neurociência podem ajudar no aprendizado

Escolas devem levar em conta situações capazes de alterar a capacidade do cérebro dos estudantes

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São Paulo

A neurociência não tem receita pronta para salvar a educação, mas sua compreensão dos mecanismos biológicos pelos quais o ambiente modifica o cérebro pode incrementar a capacidade de aprendizagem. Aulas que começam muito cedo (quando os jovens estão caindo de sono), fatores socioeconômicos e falta de atividade física, por exemplo, estão entre os fatores que provocam alterações cerebrais e dificultam a cognição.

Mesmo tendo pistas do que deve ser feito, a maior parte das escolas falha em incluir preceitos básicos da ciência em suas práticas de ensino, seja por falta de acesso a novas descobertas ou pela deficiência na estrutura.

“Precisamos olhar para o que a ciência está dizendo. Não tem sentido começar as aulas às 7h. Se as escolas querem se basear em evidências científicas, precisam mudar isso”, afirmou Fernando Louzada, doutor em psicologia e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), durante um dos debates do seminário Inovação Educativa.

O evento, promovido pela Folha em parceria com a Fundação Telefônica Vivo, acontece nesta quarta-feira (13), no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo.

Mesa de debate do quarto fórum Inovação Educativa. Da esquerda para a direita, Fábio Takahashi, editor do Deltafolha, Guilherme Brockington, doutor em educação e professor da Universidade Federal do ABC, Ramon Cosenza, médico e professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais e Fernando Louzada,  doutor em psicologia e professor da Universidade Federal do Paraná
Mesa de debate do quarto fórum Inovação Educativa. Da esquerda para a direita, Fábio Takahashi, editor do Deltafolha, Guilherme Brockington, doutor em educação e professor da Universidade Federal do ABC, Ramon Cosenza, médico e professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais e Fernando Louzada, doutor em psicologia e professor da Universidade Federal do Paraná - Reinaldo Canato / Folhapress

Segundo Louzada, um adolescente precisa dormir nove horas por dia, em média. Por essa razão a Associação Brasileira do Sono (ABSono) defende a mudança do início das aulas desses jovens para às 8h30 da manhã. 

Da mesma forma, disse o professor, aulas de arte e de educação física devem ser obrigatórias e as escolas integrais precisam ter espaço para o repouso dos alunos.

A duração das aulas também deveria ser revisada. O ideal é que o tempo pudesse variar conforme o assunto tratado e a idade dos estudantes. 

“Depois de dez minutos de aula, não tenha a ilusão de que o aluno ainda está com o professor. Se há algo importante a ser dito, diga nos primeiros cinco minutos e mostre por que aquele assunto é importante para mobilizar a atenção do aluno”, disse Louzada.

Dispositivos como celulares, relógios inteligentes e tablets, hoje em abundância nas escolas, pesam na dispersão da atenção das crianças

“A sociedade moderna é cada vez mais uma sociedade de distraídos. A tecnologia está destreinando nossa atenção, e seria valioso ensinar o aluno a manter mais atenção por mais tempo”, afirmou Ramon Cosenza, médico e professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais.

Meditar pode ser uma alternativa para desenvolver e reforçar essa habilidade nas crianças, segundo ele. A meditação atua nos mecanismos de atenção e de emoção, o que ajudaria a diminuir a reatividade e a impulsividade.

Para Guilherme Brockington, doutor em educação e professor da Universidade Federal do ABC (Ufabc), a neurociência já mostrou também que a pobreza afeta diretamente o cérebro desde antes do nascimento, impondo obstáculos maiores para o aprendizado. 

O diagnóstico não é fatalista. “O cérebro é plástico e conseguimos aprender em diversas situações, mas fica mais difícil. Não podemos também abraçar as exceções, de pessoas que eram pobres e são reconhecidas como gênios, nos interessa os jovens da periferia que não têm condições de estudar e se desenvolver.”

Ligadas à pobreza estão, frequentemente, a desnutrição e a má alimentação. A alimentação falha afeta o cérebro, órgão que representa 2% da massa corporal, mas consome até 30% de toda a energia humana. “Precisamos de comida para pensar”, declarou Brockington. “Se houver  desnutrição, principalmente na primeira infância, os danos são muito grandes.”

Os debatedores lembraram, porém, que a neurociência não deve ser usada de forma indiscriminada, mas apenas fornecer subsídios a serem desenvolvidos e incorporados à prática pedagógica. 

Assim, conceitos básicos de plasticidade neural, amadurecimento do cérebro e o papel da emoção no aprendizado deveriam integrar a formação dos professores. 

“Costumamos achar que as pessoas nascem de uma determinada maneira e pronto. Não identificamos se o que o aluno sente é fome ou raiva, sono ou tristeza”, afirmou Brockington. “Os professores precisam ser capacitados para entender como as emoções impactam seu trabalho. Elas são como uma cola cognitiva, e precisa haver uma parcela de emoção para que o aluno aprenda de fato.”

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