Descrição de chapéu 4º Fórum Inovação Educativa

Faltam diálogo, empatia e relacionamento na sala de aula, dizem estudantes

Em bate-papo com Marcelo Tas, cinco adolescentes falaram sobre suas vivências na escola

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São Paulo

"A barreira para as mudanças é a falta de diálogo", diz João Guilherme Medeiros Leite, 17, aluno do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso.

Para ele, "colocar o professor em um pedestal" não favorece a construção de um relacionamento entre educadores e estudantes. "Alguns professores não conseguem ter empatia com o aluno e não entendem a realidade dele."

João Guilherme e outros quatro estudantes que se destacam em suas escolas e comunidades participaram de um bate-papo com o jornalista Marcelo Tas, durante o seminário promovido pela Folha.

A infraestrutura escolar foi criticada por todos. Moradora de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, Karen Samyra, 17, conta que a escola estadual Pedro Moreira Matos, onde ela estuda em São Miguel Paulista (periferia de SP), tem um dos prédios de lata. "No calor, é insuportável ficar dentro da sala de aula".

Karen é cofundadora da Cia. EmQuadro, que busca, por meio do teatro, discutir temas que afetam negativamente a sociedade, como a violência doméstica. A companhia se apresenta dentro das escolas e coordena rodas de conversa após a performance.

Com oficinas de empoderamento feminino, a EmQuadro consegue alcançar também a comunidade fora da escola. "As meninas trazem familiares, e isso ajuda no diálogo delas dentro de casa, com mães que muitas vezes são vítimas de violência doméstica", contou Karen.

A discussão sobre gênero também esteve presente na fala de Isabela Gonsalves de França, 13. Aluna da escola estadual Ana Rodrigues de Liso, em Carapicuíba (Grande SP). Isa foi uma das primeiras crianças transexuais a receber terapia hormonal no Hospital das Clínicas de São Paulo.

Ela contou que ainda recebe olhares "não muito bons" e que chegou a ter problemas com professores. Um deles desconfiava que ela era trans para conseguir ficar mais perto das outras meninas. "Uma professora acha que eu sou uma pessoa deficiente. Não sei o que se passa na cabeça dela."

A adolescente também contou que alguns colegas apontam o dedo e fazem perguntas constrangedoras. "Gente, isso não é legal, nunca façam isso!", pediu.

Outro participante veio de Araguatins (TO), a 618 km de Palmas. Rhenan Cauê, 13, aluno da escola estadual Osvaldo Franco, desenvolveu uma proposta de revitalização do córrego Brejinho, afluente do rio Araguaia. "A gente deve começar com pequenos passos para depois levar a visão para outras escolas, outras cidades e outros estados."

Rhenan também falou sobre o uso da tecnologia em sua escola. Por não ter dicionários de inglês para todos os alunos, por exemplo, eles utilizam os celulares para fazer consultas na internet. Isa também vive situação semelhante. Segundo ela, os alunos só usam o laboratório de informática, que fica trancado, quando não há livros didáticos suficientes para todos.

Nesse sentido, a tecnologia que era para ser uma aliada dos processos de aprendizagem acaba se tornando uma maneira de compensar a demanda não suprida pela gestão pública. "As escolas até tentam trazer a tecnologia para dentro da comunidade escolar, mas a maioria não recebe verba e não consegue manter", afirma Rhenan.

Iversson Natan da Silva Santos,17, desenvolveu outro conceito de tecnologia. Morador da favela do Ceasa, na zona oeste de São Paulo, Iversson é aluno da escola estadual Professor José Monteiro Boanova, no Alto da Lapa. "Tecnologia pra mim é o diferente, é a quebra de padrões", diz.

Iversson começou a frequentar o Instituto Acaia, uma organização sem fins lucrativos, para fazer aulas de matemática. Lá, o contato com saraus de poesia o ajudou a descobrir seu talento para a rima. Hoje, ele dá aulas para crianças de 9 a 11 anos. "Eu costumo dizer que é outra forma, outro tipo de fala. Faço poesia e faço rima em sala de aula e eles gostam muito."

Ao final da conversa, os estudantes citaram nominalmente os educadores que eles consideram mais determinantes em suas formações. Isa mencionou a professora de português que lhe deu um caderno para que ela pudesse escrever seus sentimentos quando não tivesse ninguém com quem conversar.

João Guilherme agradeceu o professor de história que mostrou, na prática, que a estrutura de aulas tradicionais nem sempre é a melhor forma de ensinar. Karen lembrou o educador que a apresentou à leitura e ensinou como ela pode ser uma jovem protagonista.

"Nós não somos o futuro, nós somos o presente. Nós existimos agora e temos o poder de transformar hoje."

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