Futuro desejado é multimodal, compartilhado e sustentável

Para economizar ou mudar de vida, 30% dos paulistanos topam largar carro

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Claudia Rolli
São Paulo

​Especialistas de todas as partes do mundo projetam um futuro em que a mobilidade urbana será compartilhada, conectada, inclusiva, multimodal, mas também sustentável e eficiente. E alguns consumidores brasileiros já pensam em dar sua contribuição pessoal para chegar lá.

Em uma pesquisa realizada pela empresa Ipsos, 3 em cada 10 entrevistados paulistanos responderam que aceitariam abrir mão do carro para usar outro meio de transporte. Estão longe de ser maioria (70% dos entrevistados recusaram a proposta), mas o levantamento mostra uma tendência importante.

Entre os que poderiam deixar o carro de lado, 21% citam a economia como motivação principal. Mas outros 21% mencionam o fato de que estão mudando o estilo de vida, fazendo deslocamentos curtos ou interessados na praticidade de outros meios de transporte. 

Ilustração com bicicletas coloridas em avenida
Herman Tacasey

A pesquisa foi feita com 1.500 entrevistados entre abril e maio deste ano.

São mudanças que começam a chamar a atenção em outros levantamentos. A cidade de São Paulo ocupa a 30ª posição geral em um ranking de mobilidade urbana feito pela consultoria Kantar. A líder é Berlim.

Nessa pesquisa, que ouviu mais de 20 mil pessoas em 31 metrópoles do mundo, a capital paulista já ocupa a 8ª posição em utilização de aplicativos de viagem: são quatro por pessoa, em média, para transitar dentro e fora da cidade.

Nesse recorte, em primeiro lugar estão os moradores de Mumbai (Índia) e Jacarta (Indonésia), que na média usam mais de cinco aplicativos para navegar dentro e fora da cidade. 

Na pesquisa da Kantar, São Paulo também aparece em oitavo lugar no ranking de cidades com “usuários mais conscientes”, que avalia quantos usam meios de transporte com taxas baixas de emissão de dióxido de carbono. A primeira colocada é Tóquio.

Para Isabelle Rio-Lopes, executiva da consultoria Kantar, o estudo mostra como são variados os desafios e as histórias de cada cidade.

“É importante pensar na mobilidade como um ecossistema: cada participante da mobilidade tem um papel”, diz Isabelle.

Além de ouvir usuários de diferentes meios de transporte e viajantes frequentes naquelas 31 cidades, a consultoria fez entrevistas detalhadas com 53 dos principais especialistas em mobilidade do mundo. Vem deles a visão da mobilidade conectada, inclusiva e eficiente.

“Municípios e governo são responsáveis pelo planejamento urbano, investimentos e decisões sobre regulamentos. Mas os atores privados também têm de contribuir fortemente, trazendo soluções e ofertas que terão impacto na vida e no comportamento dos cidadãos”, afirma a executiva.

Um exemplo é o programa de renovação da frota de caminhões que está sendo discutido pelo governo federal com a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Ela contribuiria para diminuir a poluição do ar e melhorar as condições de mobilidade urbana.

Hoje, 23% dos mais de 2 milhões de caminhões que circulam no Brasil têm 25 anos ou mais (cerca de 460 mil veículos); 230 mil têm 30 anos ou mais.

A ideia é criar um plano de financiamento para que os veículos velhos saiam de circulação e sejam substituídos por mais novos. Os antigos seriam destruídos, e seus componentes, reciclados.

Para sair do papel, o programa começa a ser discutido também com representantes dos caminhoneiros.

“Existe um estímulo para que o dono fique com caminhão velho no Brasil, porque o IPVA do antigo é muito menor que o dos novos. E não existe inspeção veicular”, diz Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.

Para Anícia Pio, gerente da área de meio ambiente e sustentabilidade da Fiesp, o uso de sensores inteligentes e remotos, que já existem na Europa e nos Estados Unidos, é uma saída que pode ser adotada no curto prazo para identificar veículos poluidores.

“Usar a tecnologia que já existe é uma forma de aumentar a eficiência da gestão, retomar a inspeção veicular e cuidar da saúde da população. Os mesmos radares usados para aplicar multas por excesso de velocidade podem ter sensores para monitorar a situação dos veículos em circulação”, diz a executiva da federação das indústrias paulistas.

Para Elias de Souza, diretor de infraestrutura e setor público da consultoria Deloitte, as cidades poderiam se tornar mais “inteligentes” e economizar deslocamentos facilitando o acesso da população a informações essenciais sobre seus serviços de saúde, consumo de energia, despesas em compras e locomoção.

Souza avalia que 40% das cidades do Brasil serão mais inteligentes até 2030, com o avanço de tecnologias como IoT (internet das coisas). “No que depender do setor privado, a mudança será rápida. Em relação ao setor público, será preciso aguardar por um amadurecimento.”

No âmbito do governo federal, desde 2012 existe o Plano Municipal de Mobilidade Urbana, para cidades com mais de 20 mil habitantes. Até setembro, 834 municípios já haviam informado que o documento estava pronto ou em elaboração. Do total, 43% têm mais de 250 mil habitantes e 79% estão localizados nas regiões Sul e Sudeste.

O Ministério do Desenvolvimento Regional tem o programa Avançar Cidades, que financia ações de mobilidade para melhorar o sistema viário e de transporte público urbano não motorizado. O programa trabalha com 1.948 propostas de 1.370 cidades em 26 estados, com mais de R$ 11 bilhões em financiamentos.
 

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