A popularização do smartphone acrescentou carros de aplicativo, bicicletas e patinetes aos meios de locomoção tradicionais nas cidades. Mas não existe almoço sem louça suja.
Pesquisas apontam que essas novas formas de deslocamento causam impacto significativo na própria mobilidade e no meio ambiente.
Nos Estados Unidos, cientistas da Universidade do Kentucky em parceria com o departamento de trânsito de San Francisco avaliaram como os aplicativos influenciam nos congestionamentos. Cerca de 15% das viagens de carro feitas naquela cidade são via aplicativos.
O tempo de locomoção dos carros aumentou 62% em horários de pico, contra 22% em um cenário simulado sem a frota digital, segundo o estudo, publicado na revista Science Advances, da Associação Americana para o Avanço da Ciência, entre 2010 e 2016.
O resultado reforça críticas de urbanistas segundo as quais a mobilidade deveria colocar foco em transporte público massivo, não em mais carros particulares.
“Se nos preocupamos com número de veículos nas ruas, congestionamentos e emissão de gases, o modelo não se sustenta. Não melhora o trânsito e dá ao poder público a chance de não investir no transporte público”, diz Clarisse Cunha Linke, diretora do ITDP (sigla em inglês para Instituto para Políticas de Transporte e Desenvolvimento).
A percepção da população de que o transporte público é caro, pouco eficiente e inseguro empurra passageiros para os carros privados, diz ela. “Esses modelos incentivam o desinvestimento em transporte público e podem perpetuar desigualdades sociais.”
A eletrificação da micromobilidade (patinetes e bicicletas) também pesa na equação que contrapõe benefícios e ônus.
Embora os equipamentos sejam opções a deslocamentos curtos em veículos movidos a combustível fóssil, sua produção, recarga, descarte e transporte geram gases do efeito estufa em quantidade equivalente a quase a metade da produzida por um carro.
“As baterias usadas nesses modelos contêm metais pesados. Se forem descartadas incorretamente, podem contaminar solo, ar e águas”, diz Fernanda Iwasaka, analista de conteúdos do Instituto Akatu.
Para ela, o descarte correto e a manutenção para prolongar a vida útil de bicicletas e patinetes deveriam ser prioridade para as empresas.
Um estudo da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, somou todos os impactos associados a uma patinete elétrica tipo “dockless”, desde a produção dos metais e baterias usados, passando por seu transporte da fábrica, na China, ao destino, até a recarga.
A matéria-prima e as recargas de bateria respondem pela maior parte das emissões: 50% e 43%, respectivamente.
No total, são 202 g de CO2 por milha (1,6 km) percorrida por passageiro, sendo que um ônibus lotado produz 82 g.
GLOSSÁRIO
Bike sharing Serviço de uso de bicicleta de uma frota por meio de aluguel ou empréstimo
BRT Ônibus que rodam em vias segregadas e que contam com características como ultrapassagem nas estações, embarque em nível e pré-pagamento da tarifa
Calçada compartilhada Parte da via separada por sinalização para pedestres, cadeirantes e ciclistas montados
Calçada partilhada Parte da calçada exclusiva para a circulação de ciclos
Carpooling Uso de um carro particular por duas ou mais pessoas. Partilhamento conhecido como “carona”
Carsharing Serviço de aluguel de veículos por curto período, pago por hora ou por assinatura mensal. A frota fica estacionada em locais de fácil acesso
Ciclo Veículo de pelo menos duas rodas, movido por força humana
Ciclofaixa Parte da via urbana sinalizada e destinada apenas à circulação de ciclos
Ciclorrotas Sinalização de vias urbanas compartilhadas por todos os veículos
Ciclovia Pista destinada à circulação de ciclos, separada fisicamente do tráfego de veículos
Corredor dedicado Espaço de circulação reservado a um ou mais meios, evidenciado por diferenças de pintura e material do piso, separações físicas etc
Faixa livre (passeio) Parte da calçada ou da pista de rolamento destinada à circulação de pedestres
Frota digital Conjunto de veículos rastreados e monitorados em tempo real
Gestão da mobilidade Programa para induzir mudanças de comportamento de modo a implementar o transporte sustentável
Intermodal Sistema que permite o uso de diferentes meios de deslocamento conectados
Micromobilidade Termo controverso por ser genérico no sentido e no debate de aplicações práticas. Refere-se a alternativas de transporte urbano com veículos com menos de 500 kg e motor elétrico
Meios suaves Transportes não motorizados
Mobilidade Capacidade dos indivíduos de se deslocarem de acordo com suas necessidades
Modal Qualquer meio de deslocamento ou de viagem ou de transporte de um ponto a outro
Fontes: Cadernos Técnicos para Projetos de Mobilidade Urbana – Ministério dos Transportes 2016; Dicionário de Termos de Gestão Urbana; Instituto da Mobilidade e dos Transportes de Portugal
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