Musicais encaram perdas na volta aos palcos paulistanos

Foram canceladas 28 peças na capital; setor movimenta R$ 1 bi em ano normal

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De máscaras, elenco de 'Cinderella' ensaia para reestreia após paralisação pandêmica de um ano e meio Cínthya Carvalho/Divulgação

Ribeirão Preto

Um ano e meio após ter fechado as cortinas contra o coronavírus, o teatro prepara o retorno de apresentações presenciais, tateando em meio a protocolos sanitários e contas.

A segunda arte fez o que pode para se reinventar no isolamento social, de apresentações em drive-ins a vídeos para internet que emprestaram recursos do cinema.

"Deu certo de maneira pontual, para artistas prestigiados, mas as bilheterias foram muito fracas. Não despertaram interesse de patrocinadores nem do público”, avalia Stephanie Mayorkis, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Teatro Musical.

A entidade estima que 28 produções deixaram de estrear ou foram interrompidas na capital paulista, onde o setor movimenta R$ 1 bilhão por ano, segundo pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas) de 2018, quando as apresentações levaram aos teatros um milhão de pessoas.

"Para estimar a perda, é preciso multiplicar esse valor por dois, porque serão quase dois anos parados. O que tivemos até agora e o que teremos até o fim do ano não vai resgatar todo o prejuízo", diz Mayorkis.

O primeiro retorno foi o da comédia musical "O Som e a Sílaba", que reestreou em 6 de agosto no Teatro Santander, em São Paulo, e cumpriu seis apresentações até 15 de agosto. Escrita e dirigida por Miguel Falabella, a peça retrata a relação de uma cantora com síndrome de Asperger e sua professora de canto.

Alessandra Maestrini e Mirna Rubim contracenam em 'O Som e a Sílaba', musical escrito e dirigido por Miguel Falabella
Alessandra Maestrini e Mirna Rubim contracenam em 'O Som e a Sílaba', musical escrito e dirigido por Miguel Falabella - Julia Lanari/Divulgação

Em 2 de setembro, será a vez de "Donna Summer", com 23 apresentações previstas, também no Santander, e de "Cinderella", que fica até 31 de outubro no Teatro Liberdade.

Em termos artísticos, as mudanças geradas por novos protocolos são quase imperceptíveis, segundo os produtores. Em "Donna Summer", sobre a trajetória da diva que revolucionou a música disco nos anos 1970, não haverá cenas de beijo, e o elenco, de 24 atores, deve usar escudos faciais.

"O 'face shield' afeta o som, o riso fica abafado, então estamos testando microfones para não perder qualidade", diz Bárbara Guerra, produtora e coreógrafa do espetáculo, visto por nove mil pessoas antes da pandemia.

Já "Cinderella - O Musical", que chega à sua quinta temporada no Brasil, passou por adaptações no roteiro por conta da redução de 34 atores, na montagem tradicional, para 24, na pandêmica.

Por trás das cortinas, os produtores fazem malabarismos para tornar as produções possíveis após a pandemia de Covid-19, a começar pelo recrutamento de profissionais.

"Perdi muita gente capacitada, que não conseguiu se manter em São Paulo e no Rio, que são cidades caras, e retornaram às terras natais", diz Renata Borges, a produtora de "Cinderella", espetáculo que emprega 26 funcionários além do elenco.

Um levantamento do Itaú Cultural com dados do IBGE mostra que 43% dos trabalhadores das artes cênicas perderam emprego em 2020. Só na capital paulista, a paralisação dos musicais pode ter deixado 13 mil sem trabalho.

Há também contas a serem feitas. Em São Paulo, não há mais restrição de ocupação nos teatros, mas é preciso respeitar o espaçamento de um metro entre espectadores de grupos diferentes. Em "Cinderella", por exemplo, isso significa 308 poltronas bloqueadas por sessão.

Esse é o motivo pelo qual os espetáculos não retornaram antes. Produtores dizem que trabalhar com menos de 40% da ocupação é inviável, visto que 30% dos ingressos devem ser distribuídos gratuitamente e outros 20% precisam ser vendidos abaixo de R$ 75, por se tratarem de peças financiadas pela Lei Rouanet.

Produções que dependem só da bilheteria padecem para planejar a retomada. Já a preocupação das que recebem incentivo fiscal é outra, segundo Borges. "Por mais que eu possa sair prejudicada, quero voltar. Temos que parar de pensar no lucro e ajudar o setor", diz.

"Há tempos para ganhar e para empatar. Precisamos estimular as pessoas a voltarem ao teatro. Se o setor continuar parado, o patrocinador vai nos abandonar", acrescenta.

O custo de produção também aumentou, com higienização e testagem de atores e técnicos, motivo pelo qual as apresentações funcionarão como testes, tanto para a questão sanitária quanto financeira.

"Há uma demanda reprimida. O presencial vai voltar com muita força. No ano que vem, se não houver restrições, acredito que terá até crescimento em relação a 2019", diz Mayorkis.

A atriz Helga Nemetik faz teste para coronavírus antes do ensaio de ‘Cinderella’
A atriz Helga Nemetik faz teste para coronavírus antes do ensaio de ‘Cinderella’ - Mayara Estrella/Divulgação
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