Conectar artistas de NFTs (tokens não fungíveis, na sigla em inglês) a projetos sociais de favelas é o objetivo do estudante de design Gean Guilherme, 22, nascido e criado no Morro Santo Amaro, na zona sul do Rio. Ele participou do seminário Web 3.0 e Metaverso, promovido pela Folha e pelo Itaú Cultural nos dias 4 e 5 de julho.
Sua iniciativa, o Socialcryptoart, foi fundada no início de 2021. Na época, Gean conheceu obras de arte vendidas como NFTs. Esses tokens têm valor exclusivo. Ou seja, quando uma pessoa compra um NFT, apenas ela o terá, impossibilitando cópias.
No mundo da arte digital, cada obra funciona como um NFT e elas são comercializadas em plataformas especializadas. As transações são feitas por criptomoedas, como bitcoins. No início do ano, o jogador Neymar comprou dois NFTs por R$ 6,2 milhões.
Gean, que também é artista, projetou digitalmente em abril de 2021 a moeda comemorativa de 25 anos do Real, criada pelo Banco Central dois anos antes. No verso da moeda, um beija-flor alimenta seu filhote. A cena foi relacionada à fome —na mesma época da projeção, foi divulgada a notícia de que 19 milhões de brasileiros sofreram com a falta de alimentos em 2020. Neste ano, são 33 milhões, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.
O estudante de design disponibilizou a moeda gratuitamente, mas pediu doações em troca. Foram arrecadados R$ 6.000, e a quantia foi usada na compra de cestas básicas para as pessoas de sua região. "No momento em que eu estava passando os alimentos no caixa do mercado, pude ver que aquilo era real", afirma.
Minha pesquisa, como artista, é sobre quais novas ferramentas vão aparecer e como elas podem ser usadas para tornar a favela um lugar melhor
Um mês depois, ele reproduziu digitalmente a casa de um homem de 73 anos destruída em um incêndio. A projeção foi feita em 3D. Nesse caso, o valor da venda do NFT somado a doações garantiu a reconstrução da moradia, também no Morro Santo Amaro.
Além de artes feitas para o projeto social, Gean também comercializa seus NFTs. Em setembro, porém, ele teve R$ 10 mil roubados de sua carteira digital –quase toda a quantia que arrecadou na carreira. "Não fui na delegacia, pois não tinha o que fazer", diz.
Seu objetivo agora é construir um marketplace do projeto, com vários artistas. "Fiquei sobrecarregado, com faculdade e trabalho, e, já que não consigo produzir tantas artes, pensei em atrair outros artistas", explica ele. A plataforma ainda está em construção e não há previsão de lançamento.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.