Descrição de chapéu Meio Ambiente - 2ª edição

Mercado de criptomoedas investe para reduzir pegada de carbono

Setor busca por energia renovável para diminuir impacto da mineração de moedas

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Rio de Janeiro

Se fosse um país, o bitcoin teria o 32º maior consumo anual de energia do mundo, à frente de Holanda, Bélgica e Finlândia.

A estimativa é da Universidade Cambridge (Inglaterra), que aponta que apenas 39% da energia consumida na mineração de criptomoedas, processo que valida as operações financeiras, vêm de fontes renováveis.

Representação das criptomoedas Bitcoin, Ethereum e Dash dentro da água
Mercado cripto investe em moedas digitais para reduzir pegada de carbono da mineração - REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração

Moedas digitais como o bitcoin operam sem bancos ou outros intermediários e, por isso, dependem da mineração para garantir a segurança das transações.

O baixo uso de energia limpa no mercado cripto preocupa investidores, que buscam soluções sustentáveis.

Entre 2015 e 2021, o consumo de energia do bitcoin cresceu em cerca de 62%, ainda segundo a Universidade Cambridge. O aumento foi impulsionado pela mineração, a qual utiliza computadores especializados que trabalham de modo constante.

Ao validar as transações, mineradores colocam as moedas em circulação e recebem bitcoins como recompensa.

O número de validadores da rede vem crescendo, o que diminui o valor da bonificação. Assim, é preciso aumentar o esforço e o número de máquinas para garantir lucro, estimulando o gasto de energia.

O alto consumo energético da moeda também aumenta a emissão de gases de efeito estufa, devido ao uso de combustíveis fósseis na geração de energia elétrica.

Estudo publicado em fevereiro deste ano na revista científica Joule apontou que, de 2020 para 2021, houve aumento de 17% na emissão de carbono da mineração do bitcoin, chegando a 65,4 milhões de toneladas de CO₂ por ano, o equivalente à produção de toda a Grécia.

No Brasil, a regulamentação do mercado de criptomoedas inclui medidas de atenção ao impacto ambiental. Aprovada pelo Senado em abril, a proposta beneficia a "mineração verde", que usa energia de fontes renováveis. O texto está em análise na Câmara.

Segundo o projeto, empresas de ativos virtuais —que podem incluir, além das moedas, NFTs, contratos e certificados digitais— que usarem 100% da energia elétrica de fontes limpas terão isenção tributária até 2029.

No mundo, iniciativas voluntárias crescem no setor de moedas digitais. Uma delas é o Acordo Cripto do Clima, que reúne empresas que miram a vanguarda ambiental.

O pacto tem 200 signatários do mercado de criptoativos, que se comprometem a atingir o net zero, equilíbrio entre a quantidade de gases de efeito estufa produzidos e a quantidade removida da atmosfera, no consumo de eletricidade até 2030. O objetivo é usar 100% de energia renovável na mineração.

O projeto Light DeFi, criado por brasileiros, integra o acordo. Ele consiste na venda de um token, um certificado digital da propriedade de um bem, para incentivar o uso de energia solar.

Os recursos obtidos nessas transações vão financiar a construção de uma usina fotovoltaica no interior do Ceará. Com a instalação em atividade, investidores podem receber de volta parte do valor da energia produzida.

Construção da maior fazenda de produção de energia solar da América Latina, na cidade de Janaúba (MG)
Construção da maior fazenda de produção de energia solar da América Latina, na cidade de Janaúba (MG) - Danilo Verpa/Folhapress

Segundo os idealizadores, a futura usina tem capacidade de 2,5 megawatts e pode abastecer 2.500 residências. A energia também será utilizada em outro projeto da empresa, o Light Miner, que oferece eletricidade de matriz sustentável a empresas de mineração de moedas.

"O planeta passa por um problema climático grande, que está interferindo no preço da energia no mundo afora. Iniciativas como a nossa crescem cada vez mais", diz Germano Sales, CEO da Light DeFi.

A EnergyPay, do administrador Marcos Silva, também une a energia renovável e as criptomoedas. Silva criou a enycoin, moeda digital lastreada na produção de energia renovável. Com menos volume no mercado, ela funciona para fins de investimento, como um token.

A compra dela financia a construção de uma usina fotovoltaica em Itaobim (MG), com potência para gerar 1 megawatt e capacidade de abastecer cerca de mil casas.

"Pessoas que querem ser detentoras podem comprar uma fração da nossa usina em operação. Com o tempo, esperamos ter uma valorização por conta da comercialização da energia", afirma Silva.

Para o professor de finanças do mestrado do Ibmec Rafael Igrejas, a tendência é que mais empresas de ativos virtuais se interessem por fontes renováveis, mas o investimento tem riscos. "São associados à volatilidade do preço da energia elétrica do mercado spot [à vista], que é incerto por definição."

Igrejas afirma ainda que, para que as fontes renováveis deem conta da demanda das moedas digitais, é preciso investir mais do que agora. "É possível tornar a mineração cripto mais sustentável, na medida em que a geração elétrica renovável seja priorizada, e, em decorrência da ampliação, seja buscada a opção por minerar a partir da base renovável expandida."

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