Descrição de chapéu Coronavírus

Contratados durante pandemia nunca pisaram na empresa ou viram colegas

Para quebrar a distância, profissionais fazem integração por vídeo e criam hora do café virtual

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São Paulo

Profissionais contratados durante a pandemia de Covid-19 passam por uma situação peculiar: por causa do isolamento social, começam no emprego sem nunca terem pisado no escritório.

"Nunca vi nenhum colega de trabalho ao vivo", conta Manuelle Andrade, 35, engenheira de segurança na fintech paulistana Magnetis.

Ela começou a trabalhar na empresa no dia 6 de abril, já em meio à quarentena para diminuir a propagação do novo coronavírus. Até seu computador corporativo foi entregue em sua casa para que ela não precisasse buscá-lo.

Manuelle já fazia home office eventualmente no antigo emprego, o que, segundo ela, ajudou na adaptação.

"Além disso, me sinto acolhida. Quase sempre que converso com os colegas é por chamada de vídeo, para nos vermos. É raro trocarmos email, que é algo mais impessoal."

A engenheira Menuelle Andrade, 35; contratada no dia 6 pela fintech Magentis, em home office, em São Paulo
A engenheira Menuelle Andrade, 35; contratada no dia 6 pela fintech Magentis, em home office, em São Paulo - Gabriel Cabral/Folhapress

Já a desenvolvedora Aline Balogh, 30, diz que a pandemia afetou o processo de ambientação em seu novo trabalho, na startup de varejo Olist.

Apesar de ter um escritório em São Paulo, a empresa é sediada em Curitiba, e todos os contratados passariam uma semana na capital paranaense para conhecer os colegas e as instalações da companhia.

O processo acabou sendo feito digitalmente, em uma chamada de vídeo, por meio do qual os novos funcionários conheceram equipes e gestores. A empresa pretende levá-los a Curitiba depois que a pandemia passar.

Aline conta que, para suprir a falta de interação física, ela e os colegas separam um horário para tomar café online juntos. "A ideia principal é conversar sobre outras coisas, como séries e livros. É um momento de descontração", diz ela, que começou no seu novo emprego no dia 13 deste mês.

Aline ainda não pisou no escritório paulistano da Olist, que será seu local de trabalho na maior parte das vezes. O home office deve continuar para dias específicos mesmo após a pandemia.

Chamada de vídeo com contratados pela Olist, entre eles, Aline Balogh, no alto, à dir.
Chamada de vídeo com contratados pela Olist, entre eles, Aline Balogh, no alto, à dir. - Divulgação

Fernanda Fontana, 33, prospectora de novos negócios na Via Varejo, diz que o que mais sente falta do trabalho presencial é a oportunidade de aprender pela observação.

"O que falta para mim é aquela coisa do tête-à-tête, de ver como as pessoas fazem as coisas e extrair algo disso. Às vezes você não consegue avançar em uma ideia, conversa com alguém de outra equipe e tem um insight", diz.

Ela foi contratada pelo grupo, dono de marcas como Casas Bahia e Ponto Frio, em 23 de março e também ainda não se encontrou com colegas.

"Eu conheço a equipe só por vídeo e voz. Só vi o meu chefe na entrevista, antes da quarentena. Mas tem dado certo, fui bem recebida e estou bastante satisfeita", diz.

Diretora de pessoas e performance da empresa, Rosi Purceti Balabram diz que a Via Varejo já admitiu cem pessoas desde o início da quarentena e ainda deve contratar outras cem, principalmente na área de tecnologia. Todas para trabalhar, por ora, 100% do tempo em home office.

"Antes da crise já tínhamos uma agenda para transformação digital, mas tudo no papel. Tivemos de adaptar e antecipar os projetos, que começariam no segundo semestre, mas acho que está dando certo. Há boa aceitação", diz.

Para Ricardo Basaglia, diretor-geral da consultoria de RH Michael Page, para contratações remotas darem certo, as empresas precisam se certificar de que têm ferramentas adequadas para as entrevistas.

Durante estas, é importante os gestores se atentarem às expressões dos candidatos, tal como fariam ao vivo, para fazer perguntas assertivas.

Demissão remota precisa ser feita de forma clara e rápida

Demitir alguém remotamente nunca é indicado. Mas, se for a única opção durante a pandemia, é importante que seja feito por vídeo, não por mensagem de texto ou email.

"Assim você ainda consegue criar um pouco de vínculo, olha no olho, mostra que respeita o profissional", diz Livia Martinelli, coordenadora de remuneração e gestão pessoal no Sebrae-SP.

Livia recomenda ainda que, como as demissões têm se dado por conta da pandemia, o profissional demitido tente manter as portas abertas, por mais que esteja triste ou nervoso, já que a empresa pode se lembrar dele quando houver a retomada da economia.

Ricardo Basaglia, diretor-geral da consultoria de RH Michael Page, recomenda que as reuniões online para demissões sejam individuais, entre gestor e empregado, no máximo com algum membro da área de RH da empresa.

"E tem de ser claro. A informação de que o profissional será desligado deve vir no máximo em dois ou três minutos. Não é a hora de dar feedbacks sobre o trabalho dele", diz.

Ele afirma também que é indispensável deixar claro quais serão os procedimentos para o desligamento, como e quando o empregado pode ir buscar eventuais pertences que estejam na empresa e, se desejar, se colocar à disposição para dar feedbacks no futuro para prováveis empregadores.

Já o empregado demitido pode usar o tempo da quarentena para entrar em contato com colegas que estão no mercado e acompanhar a situação de possíveis empregadores. Se julgar necessário, pode ainda fazer cursos online.

Outra dica é manter o currículo nas plataformas digitais sempre atualizado e tentar abrir seu leque de opções, ou seja, não procurar vagas apenas para fazer só o que fazia no antigo emprego.

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