Bloqueador de anúncio no celular aquece debate sobre lucro na internet
Lançado no mês passado, o iOS 9, nova versão do sistema operacional do iPhone, fez barulho com ao menos um recurso: permitir o desenvolvimento de aplicativos que bloqueiam anúncios no navegador de internet.
Bloqueadores assim vêm sendo usados em desktops há anos –e também já estavam disponíveis para celulares Android (o Adblock Plus, um dos mais baixados, é de 2012). Mas a atualização da Apple jogou luz sobre um debate que está longe de acabar.
De um lado, estão usuários que navegam em sites carregados de anúncios e de ferramentas que monitoram seus hábitos na web. De outro, anunciantes, agências de publicidade e empresas de mídia, que vivem, na maior parte dos casos, com receita gerada pela propaganda.
Depois do lançamento do YouTube Red (a plataforma de vídeos paga e sem anúncios do Google), o youtuber mais bem-sucedido financeiramente do mundo, o sueco PewDiePie, fez em seu blog a recomendação para que seus seus fãs assinassem o serviço, que custa US$ 10 mensais.
"O YouTube Red existe em grande parte como esforço de reação aos bloqueadores", disse o youtuber, que em 2014 ganhou mais de US$ 7 milhões (R$ 26,6 mi) com publicidade.
No iPhone, os bloqueadores têm funcionamento muito parecido com os de desktops. Os cinco analisados pela Folha fazem com que os espaços reservados para os anúncios nos sites fiquem em branco. Sem o "peso" dos banners, o usuário economiza na bateria e no plano de dados. As páginas também são carregadas mais rapidamente.
Os aplicativos para o iOS 9 precisam ser aprovados pelo navegador. Para isso, basta abrir as configurações "Ajustes" do iPhone ou do iPad, ir às opções do Safari e então abrir "Bloqueadores de Conteúdo". A partir daí, é só escolher quais bloqueadores instalados ficarão ativos durante a navegação.
REAÇÕES
Segundo a PageFair, empresa que desenvolve ferramentas de anúncios menos invasivos, o uso de bloqueadores cresceu 41% no mundo em 2014 (em relação ao ano anterior), atingindo 200 milhões de internautas –a conta inclui todo tipo de dispositivos, não só celular. No Brasil, 6% dos usuários rejeitam os anúncios.
Assim que o iOS 9 chegou aos primeiros celulares, diversos bloqueadores figuraram entre os apps mais vendidos na loja de aplicativos da empresa. Até a conclusão desta edição, o Purify Blocker ainda aparecia em sexto.
Entretanto, o que despontou em popularidade, o Peace, não está mais disponível. Dois dias após se tornar o app mais vendido da loja, foi removido por seu criador, o desenvolvedor americano Marco Arment, cofundador do Tumblr.
O motivo: preocupações com as finanças de profissionais e empresas que dependem de publicidade. "Bloqueadores beneficiam muitas pessoas, mas também prejudicam outras, incluindo muitas que não merecem", escreveu em seu blog.
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Marco Arment se arrependeu e tirou seu bloqueador de anúncio Peace da loja da Apple |
De acordo com a PageFair, bloqueadores devem causar em 2015 um prejuízo global de US$ 22 bilhões nas receitas da publicidade on-line. A perda para o ano que vem é estimada em US$ 41 bilhões.
"Todo o ecossistema é afetado quando o conteúdo é proibido de produzir valor e renda. A publicidade digital é o modelo comercial da web, e, assim, a solução não é eliminá-la", diz Denelle Dixon-Thayer, diretora jurídica e de negócios da Fundação Mozilla (criadora do navegador Firefox, que aceita ferramentas que bloqueiam conteúdo).
Agências e empresas de mídia estudam métodos para driblar a ferramenta, inclusive adotar um formato que exija cobrança do usuário caso o bloqueador esteja ativado.
"As necessidades dos usuários e os interesses comerciais não são um jogo de soma zero. São partes complementares de uma web resiliente", diz Dixon-Thayer. "O que não queremos ver é uma web na qual sites escondam conteúdo em dispositivos que usam bloqueadores."
Marcelo Pontes, professor de marketing da ESPM, enxerga a necessidade de adaptação, algo que o setor já fez antes, mesmo em mídias analógicas. "Bloqueadores são antigos. Sempre bastou um clique no botão de canal do controle remoto para que você barrasse a propaganda da novela. É preciso criatividade para contornar o problema."
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