Aplicativo do Google, Waze depende de 30 mil voluntários

Editores trabalham de graça para usuários escaparem do trânsito

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Tel Aviv

Apesar de pertencer a uma das empresas mais valiosas do mundo, o Waze depende do trabalho gratuito de mais de 30 mil pessoas em todo o mundo, que colaboram para garantir o funcionamento dos mapas e da plataforma.

O aplicativo aumentou a participação no mercado de serviços de mapas nos últimos anos graças à informação em tempo real —é o diferencial frente ao irmão e competidor Google Maps.

A base do funcionamento do Waze é crowdsourcing, colaboração coletiva para alimentar a plataforma com informações. Quando ligado no smartphone, o aplicativo coleta um ponto de GPS do motorista a cada 10 metros ou 1 segundo. Com os dados de vários condutores, consegue detectar se uma via está congestionada ou livre de carros.

Escritório do Waze em Tel Aviv, centro comercial de Israel; app mantém modelo que o popularizou
Escritório do Waze em Tel Aviv, centro comercial de Israel; app mantém modelo que o popularizou - Divulgação

Acima da base de usuários que disponibiliza a geolocalização, há uma camada de editores cujo papel é monitorar o sistema e organizar as informações. O Waze chama esse grupo de “comunidade”.

Eles criam e corrigem nomes de ruas e estabelecimentos, alteram a direção das vias, reportam desastres à equipe de crise e protegem o mapa de agentes mal-intencionados. Também divulgam produtos, auxiliam na tradução e no suporte tecnológico.

São como porta-vozes de suas cidades, regiões ou países, e mantêm uma ponte de diálogo direta com funcionários e até diretores da companhia.

Com mais de 53 milhões de alterações em mapas por mês, os editores não recebem dinheiro. O Waze apenas cobre alguns custos de reuniões (eles tomam cafés mensais) e convida os mais engajados a uma conferência anual. Este ano, ela ocorreu em Tel Aviv, Israel, onde nasceu o app.

Editores ouvidos pela Folha em encontro do último dia 22 rechaçaram a possibilidade de receber pelo trabalho, mesmo que na outra ponta seja uma empresa de US$ 800 bilhões. Criado há 13 anos, o produto foi adquirido pela Alphabet, dona do Google, em 2013.

“A base de sucesso do Waze é o crowdsourcing. Voluntários que se preocupam com as condições da suas cidades e estão dispostos a melhorá-las”, diz Lucas Lima, 33, de Fortaleza (CE), um dos coordenadores da comunidade brasileira, que tem 1 mil pessoas.

Gerente de projetos de TI, Lima é um dos 120 “campeões globais”, usuários que alcançam o título máximo de edição. Já participou de 21 eventos, sendo sete internacionais.

O organograma de voluntários é formado por editores locais, gerentes de área, gerentes de países e campeões globais. Como em um videogame, cada fase da edição exige um nível maior de habilidades, o que motiva os editores a conseguirem espaço e confiança entre seus pares.

“Eles se sentem parte algo, de uma iniciativa, de uma amizade com pessoas ao redor do mundo. Alguns estão conosco desde o início”, afirma Hila Roth, gerente de Comunidades. “Sabem mais do mapa do que eventualmente pessoas que trabalham aqui.”

Além da precisão de informações no Waze, novos produtos só são liberados conforme o avanço do trabalho voluntário de cada país. É o caso do lançamento de uma ferramenta para monitoramento de preços de pedágios, que depende apenas da coleta de dados dos editores brasileiros.

Fej Shmulevitz, vice-presidente de Operações, gosta de chamar o aplicativo de Wikipedia dos motoristas. “Todo dado vem dos usuários que dirigem e dos editores que contribuem. A diferença é que, enquanto apenas uma fração alimenta o Wikipedia, 100% alimentam o Waze.” 

Apesar do Google, Shmulevitz diz que o Waze mantém certo clima de startup, e atribui isso ao contato próximo com usuários. Sobre o Google Maps, confessa que enxerga competição, “mas muita colaboração também”.

A repórter viajou a convite do Waze

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