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Frances Haugen, a engenheira que quer 'salvar' o Facebook

Ex-funcionária da plataforma revelou documentos sigilosos sobre danos da rede em seus usuários

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Nova York | AFP

Frances Haugen, que deu nesta terça-feira (5) um depoimento arrasador contra o Facebook no Congresso dos Estados Unidos, está convencida de sua nova missão: explicar que a rede social pode ser tão perigosa quanto útil e, portanto, deve ser controlada.

A mulher de 37 anos, que trabalhou na equipe dedicada à integridade cívica no grupo de Mark Zuckerberg, recolheu milhares de documentos internos antes de deixar a empresa, em maio.

Vazada em caráter privado ao The Wall Street Journal (WSJ), a informação alarmou muitos congressistas, que rapidamente organizaram uma audiência sobre a proteção dos menores na internet.

Frances Haugen saiu do anonimato no domingo, no programa de televisão "60 Minutes".

A ex-funcionária do Facebook, Frances Haugen, durante depoimento no Senado dos Estados Unidos - Matt McClain - 2.out.2021/Pool via REUTERS

Nesta terça, vestida com um terno preto e com os cabelos louros soltos, deu um depoimento claro, tranquilo e incisivo aos parlamentares. Afirmou que tinha visto um amigo próximo se perder nos meandros das teorias conspiratórias.

"Uma coisa é estudar a desinformação, outra é perder alguém por causa dela", disse em entrevista ao WSJ.

Contratada pelo Facebook em 2019 com a esperança de ajudar a empresa a corrigir algumas falhas, Haugen estava cada vez mais preocupada com as decisões que a companhia tomava.

Para ganhar dinheiro com publicidade, explica Haugen, a rede social deve fazer seus membros permanecerem na plataforma o maior tempo possível. Para tanto, os conteúdos de ódio e fontes discrepantes costumam ser os que mais chamam a atenção.

O Facebook criou equipes para limitar a desinformação antes das eleições americanas e modificou seus algoritmos para reduzir a difusão de notícias falsas.

Mas sua equipe, que trabalhava para conter os riscos que alguns usuários poderiam gerar, ou conteúdos ligados às eleições, foi desmanchada aos poucos depois das eleições presidenciais em novembro de 2020.

Menos de dois meses depois, em 6 de janeiro, o Congresso foi invadido por uma horda de partidários de Donald Trump, que não reconheceu a vitória nas urnas de seu sucessor, Joe Biden.

Foi nesse momento que Haugen começou a pôr em dúvida a vontade do grupo de dedicar meios suficientes para proteger seus membros. Porque o Facebook privilegia seus lucros, afirmou.

Em março, Haugen se instalou em Porto Rico, na esperança de continuar trabalhando à distância. Mas o departamento de recursos humanos lhe disse que seria impossível. Então ela decidiu se demitir, explicou ao WSJ.

Mas precisamos testemunhar o que acontece no grupo, acredita ela firmemente: a própria pesquisa da companhia mostra que passar tempo no Instagram pode afetar a saúde mental dos adolescentes.

Então ela decidiu revelar o que ocorre dentro da empresa. Recolheu documentos sobre o Facebook até o último momento antes de sair, temendo que pudessem pegá-la com a mão na massa, e ao mesmo tempo entrou em contato com uma ONG especializada em ajudar os que decidem vazar informações.

Em sua conta no Twitter, que acaba de criar, Haugen se define como uma "militante da vigilância pública das redes sociais".

Suas primeiras palavras: "Juntos podemos criar redes sociais que podem extrair o melhor de nós mesmos".

Nascida em Iowa (centro-oeste dos EUA), Frances Haugen conta em seu blog que durante a infância participou com seus pais e professores das primárias da eleição presidencial, o que "criou um forte sentimento de orgulho pela democracia e a importância da participação cívica".

Em várias ocasiões participou como voluntária do festival Burning Man (encontro de sete dias em que se compartilha, presenteia ou troca objetos, promovendo a "desmercantilização", e se cuida do meio ambiente, seguindo o espírito dos hippies e da contracultura dos anos 1960), que antes da pandemia era realizado anualmente no deserto de Nevada, para explicar as regras do evento aos participantes e ajudá-los a resolver conflitos.

Uma engenheira da informação que se define como especialista em algoritmos, Haugen trabalhou em várias gigantes tecnológicas: Google, o aplicativo de encontros Hinge, o site de indicações comerciais Yelp, a rede Pinterest, até que chegou ao Facebook.

Em 17 de maio, pouco antes das 19h, se desconectou pela última vez da rede interna da empresa, contou ela ao WSJ.

Como que para se justificar, deixou escrita uma última frase: "Não odeio o Facebook. Gosto do Facebook, quero salvá-lo."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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