Descrição de chapéu Facebook instagram

Facebook denuncia empresas de segurança por espionagem de 50 mil usuários

Ação faz parte de esforço de companhias de tecnologia e do governo dos EUA contra espiões digitais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Raphael Satter Elizabeth Culliford
Washington | Reuters

A empresa dona do Facebook, Meta, está denunciando empresas de vigilância privada por invasão de computadores e outros abusos, alegando em um relatório publicado nesta quinta-feira (16) que elas espionaram cerca de 50 mil usuários de suas plataformas.

A briga da companhia com as firmas de espionagem ocorre em meio a um movimento mais amplo de empresas de tecnologia americanas, legisladores e o governo do presidente americano, Joe Biden, contra fornecedores de serviços de espionagem digital, notadamente a empresa israelense de spyware NSO Group, que entrou na lista no início deste mês, após semanas de revelações.

A Meta já está processando a NSO na Justiça dos Estados Unidos. Nathaniel Gleicher, diretor de políticas de segurança da Meta, disse à Reuters que a ação desta quinta-feira pretende sinalizar que "a indústria de vigilância de aluguel é muito mais ampla do que uma empresa".

Logomarcas da Meta e do Facebook, em cima de teclado de computador
Logomarcas da Meta e do Facebook - Dado Ruvic/Reuters

O relatório da Meta disse que estava suspendendo cerca de 1.500 contas, na maioria falsas, administradas por sete organizações no Facebook, no Instagram e no WhatsApp. A empresa disse que as entidades têm como alvo pessoas em mais de cem países.

A Meta não explicou como identificou as empresas de vigilância, mas ela opera algumas das maiores redes sociais e de comunicação do mundo e regularmente anuncia sua capacidade de encontrar e remover agentes mal-intencionados de suas plataformas.

Entre eles está a Black Cube de Israel, que se tornou conhecida por usar seus espiões para beneficiar o ex-produtor de Hollywood Harvey Weinstein, preso por estupro e assédio. A Meta disse que a empresa de inteligência está usando perfis-fantasmas para conversar com seus alvos online e obter seus e-mails, "provavelmente para ataques de 'phishing' posteriores".

Em um comunicado, a Black Cube disse que "não pratica nenhum tipo de phishing ou hacking" e que a empresa habitualmente garantiu que "todas as atividades de nossos agentes estão em total conformidade com as leis locais".

Outras denunciadas pela Meta incluem a BellTroX, empresa indiana de mercenários cibernéticos, e pela organização de vigilância da internet Citizen Lab no ano passado, uma empresa israelense chamada Bluehawk e outra europeia, a Cytrox —todas acusadas pela Meta de praticar hacking.

A Cognyte, que foi desmembrada da gigante de segurança Verint Systems em fevereiro, e a empresa israelense Cobwebs Technologies foram acusadas não de hackear, mas de usar perfis falsos para induzir as pessoas a revelar dados privados.

Cognyte, Verint e Bluehawk não responderam à reportagem.

Por email, o porta-voz da Cobwebs, Meital Levi Tal, disse que a empresa utilizou fontes abertas e que seus produtos "não são invasivos de forma alguma". As mensagens enviadas a Ivo Malinovski —que até recentemente se identificava como executivo-chefe da Cytrox no LinkedIn— não tiveram resposta imediata.

O fundador da BellTroX, Sumit Gupta, não respondeu desde que sua empresa foi denunciada no ano passado. Antes ele já havia negado qualquer irregularidade.

Gleicher se recusou a identificar qualquer um dos alvos pelo nome, mas a Citizen Lab, em relatório publicado na mesma época que o da Meta, disse que uma das vítimas da Cytrox era a figura da oposição egípcia Ayman Nour.

Nour culpou o governo egípcio pela espionagem, dizendo à Reuters em uma entrevista em Istambul que há muito suspeitava estar sob vigilância das autoridades locais.

"Pela primeira vez tenho provas", disse ele.

As autoridades egípcias não responderam a um pedido de comentário.

Gleicher disse que outros alvos das firmas de espionagem incluem celebridades, políticos, jornalistas, advogados, executivos e cidadãos comuns. Amigos e familiares dos alvos também foram incluídos nas campanhas de espionagem, disse ele.

O diretor de segurança cibernética da Meta, David Agranovich, disse esperar que o anúncio de quinta "dê o pontapé inicial na disrupção no mercado de vigilância de aluguel", mas ainda não se sabe se será apenas um revés temporário para as empresas envolvidas. Duas delas, a Black Cube e a BellTroX, se recuperaram depois de serem envolvidas em escândalos de espionagem anteriores.

Gleicher disse que os alvos das empresas de espionagem receberiam avisos automáticos, mas que o Facebook não identificaria as empresas específicas envolvidas ou seus clientes. Isso apesar do fato de o Facebook ter dito que identificou vários clientes da Cobwebs, Cognyte, Cytrox e Black Cube --a última das quais inclui escritórios de advocacia.

Marta Pardavi, uma das várias defensoras dos direitos humanos húngaras que dizem ter sido alvos da Black Cube em 2017 e 2018, disse que ficou satisfeita com a notícia do relatório do Facebook, mas queria mais informações.

"Eles citam escritórios de advocacia", disse ela. "Mas os escritórios de advocacia têm clientes. Quem são esses clientes?"

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.