Separados por duas ruas, Fabiane Motta, 26, e Rafael Martino, 28, batiam ponto todos os dias no Bom Retiro, no centro de São Paulo. Não foi essa proximidade, no entanto, a responsável pelo primeiro encontro deles, em abril de 2019. O que uniu o casal foi a internet.
No Happn, aplicativo de relacionamentos, o perfil dela, com um convite para tomar café, chamou a atenção do fotógrafo e cinegrafista. Já na descrição dele, o #ForaBolsonaro não passou batido e encorajou a estilista a continuar a conversa. Quando souberam que trabalhavam no mesmo bairro, decidiram se ver presencialmente.
"Marcamos depois do trabalho, sem café nem nada, no sofá do shopping onde ficava a confecção na qual eu fazia estágio. Não foi aquele primeiro encontro chato, em que o cara fica a todo momento tentando assédio. Conversamos até dar a hora de eu ir para faculdade, demos um abraço e cada um foi para o seu lado. Depois, eu pensei: que menino fofinho! Vou conversar mais vezes com ele", conta Fabiane.
Até o pedido de namoro, em junho, eles repetiram o encontro diariamente, sempre no mesmo local, em dez minutos cronometrados do tempo de almoço. Entre um papo e outro, descobriram cada vez mais afinidades, como o gosto por arte e culinária, e diferenças.
Cristã, Fabiane cresceu cantando e tocando numa igreja protestante —Rafael, por sua vez, é ateu. As crenças distintas não eram um problema para a estilista, que carrega o rótulo de "feminista crente" por discordar dos posicionamentos dos homens de sua religião. Ainda assim, ao contar sobre sua fé, teve medo de que isso fosse uma barreira para ele.
"Na minha doutrina, não pode ter relação sexual antes do casamento. Contei tudo e disse, com um aperto no coração, para ele desistir de mim." A reação do fotógrafo, porém, não foi como ela esperava: "Não é isso que faz um casal. Se esse é o grande problema, esquece. Ainda quero te conhecer mais e estou gostando de você."
Não houve objeção entre os familiares pela união ter ocorrido por um aplicativo, mas a mãe e alguns amigos da estilista foram resistentes até o casamento, em janeiro de 2021, por temerem que o casal contrariasse o preceito religioso. Hoje, ela continua indo à igreja —às vezes, acompanhada pelo marido, que não se interessa pelos cultos, mas gosta de escutá-la cantar.
Na história de Fabiane e Rafael, o papel da internet não se limitou ao Happn. A conexão foi ainda mais importante durante a pandemia. Mesmo a distância, eles mantiveram o hábito de assistir e comentar filmes e até mesmo os jantares românticos.
"A solução foi fazer um macarrão, cada um na sua casa, e abrir uma chamada de vídeo. Para deixar o clima mais próximo, eu apaguei as luzes, acendi uma vela e fiquei no sofá, com o notebook na minha frente e a gente conversando e comendo", conta ele.
Já nos últimos meses de 2020, com planos mais amadurecidos, foi no Instagram que Rafael encontrou o par de alianças douradas, feitas de moedas antigas, em que eles preferiram gravar "tigreso e tigresa" —apelido dado por Fabiane em menção à barba ruiva do marido— no lugar dos nomes. O vestido que a estilista usou no dia do matrimônio também foi comprado pela internet.
Para Rafael, a ferramenta facilita a comunicação entre as pessoas mais introvertidas: "Trabalhávamos no mesmo bairro, a duas ruas de distância, mas a gente poderia nunca ter se visto ou, mesmo se tivesse se cruzado, um só passaria do lado do outro e pronto". Rindo, a estilista acrescenta: "Ele é tímido, nunca ia parar e falar: E aí, gata, ‘bora’?"
A relação com a fé não é a única diferença entre o casal. Caseiro, Rafael corre para acompanhar o ritmo de Fabiane, que não hesita em passear depois de um dia de trabalho. Ela é vegetariana, o marido não —ainda assim, um dos hobbies deles é cozinhar enquanto ouvem jazz e tomam vinho.
"O casamento só melhorou nossa relação. Somos melhores amigos, parceiros em tudo. Estamos juntos há três anos juntos e é muito louco: a gente pode brigar no mercado pelo preço do amaciante, mas não por religião."
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